Pela sua Paixão, caracterizada por uma dileção sem limites, Jesus foi fiel até a morte no seu amor pela humanidade e no cumprimento exato da vontade misericordiosa do Pai. Enfrentou e venceu o dinamismo da morte que pesava sobre o homem, em consequência do dinamismo do pecado. Este, desde a desobediência de Adão e Eva, necessitava de uma reparação infinita, porque o pecado é sempre uma ofensa ao Deus Todo-Poderoso. Foi o pecado que levou os escribas e fariseus ao ódio contra Jesus; Pilatos e a multidão a condenarem um inocente. Pedro a uma lamentável negação. Por força deste refluxo de erros e de uma espiral de violência Jesus foi a vítima conduzida a uma morte horrenda. Entretanto, mesmo no meio dos suplícios da Cruz, Jesus pôs sobre o homem um olhar de imensa misericórdia. Convite sublime à renúncia de todo maldade e à adesão incondicional a Deus para se chegar à casa do Pai remido com seu preciosíssimo sangue. Sua Cruz seria o distintivo de seus seguidores. A cor vermelha dos paramentos litúrgicos neste domingo faz lembrar a todos a humilhação sofrida por Jesus diante dos soldados. Esta humilhação, porém, teve um caráter profético. Aquele que seria depois barbaramente crucificado foi revestido de um manto vermelho, mas este anunciou que seu trono não era outro senão sua Cruz redentora. Ele era um rei que se tornou servidor e que renunciou a seus privilégios para acolher no seu reino milhares de súditos que através dos tempos muito o amariam. Por Ele rejeitariam as pompas mundanas, os prazeres efêmeros desta terra. Em compensação, estes conheceriam o verdadeiro sentido do viver neste mundo e na eternidade. Jesus havia declarado: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Era um mundo novo que surgiria de sua Paixão e Morte. Não seria fácil segui-lo, mas valeria a pena carregar a cruz de cada dia atrás dele para colher frutos para a vida eterna. Durante a Semana Santa é preciso chorar com São Pedro, lamentado todos os pecados. Nada de lavar hipocritamente as mãos como Pilatos, mas procurar viver intensamente tudo que o Mestre ensinou. Então, se poderá repetir com o Centurião: “Verdadeiramente este homem é o Filho de Deus”. Através dos tempos Cristo continuaria a ser incompreendido por muitos, causa de escândalo, porque sua doutrina contrariaria o interesse dos poderosos e combateria os imobilismos que impedem a tantos participarem nos bens comuns, lançando multidões na miséria. Muitos então a relativizar, consciente ou inconscientemente, os ensinamentos que Ele legou. Não recebem as lições que jorraram do alto do Madeiro, porque ficam nos aplausos a Ele na sua entrada triunfante em Jerusalém. Ouvidos surdos a tudo que Ele falou e nunca se escutam desta forma os seus apelos, suas exigências. A falsa felicidade e as miragens propostas por um contexto materialista ofuscam a grandeza do amor que foi até o fim e teve como desfecho os episódios do Calvário. Por causa do vil metal, multiplicam-se os Judas que traem sua religião. A Semana Santa apela, contudo, para os autênticos discípulos de Jesus a proclamar a paternidade divina e a fraternidade humana, impregnados do amor e do perdão, da justiça e da paz. Jesus, sobretudo na sua Paixão e Morte, revelou um Deus mais humano do que o homem, ensinando o ser racional a se superar a si mesmo indo além das fronteiras do mal. Então muitos, durante estes dias, apresentarão ao divino Redentor o seu coração para que nele esteja estampada sua face salvadora. Imitarão também João, Nicodemos e José de Arimatéia sempre a seu lado. Estarão como Maria, sua mãe sofredora, e as piedosas mulheres devotados aos pés da Cruz e como Madalena a chorar os seus pecados. A comemoração da Paixão e Morte de Jesus exige de fato uma mudança de vida para que se possam usufruir as graças e alegrias do maior dia do ano, a Páscoa do Senhor no próximo domingo.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos