Reunião foi antecedida por retiro sobre o tema da misericórdia, com pregação de dom Gilson Andrade
Sinodalidade. Este foi um dos temas de estudo do Grupo de Assessores (GA) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que esteve reunido em Brasília, nos dias 24 e 25 de fevereiro. A reflexão foi apresentada pelo arcebispo de Brasília e presidente da Conferência, dom Sergio da Rocha.
Na oportunidade, o arcebispo explicou que o Sínodo é um “instrumento para realizar a colegialidade, a comunhão eclesial”. Ao recordar o último Sínodo sobre a Família, ressaltou a consulta feita ao povo de Deus, referindo-se ao questionário enviado às dioceses do mundo e que abordava os desafios da família no mundo contemporâneo. Segundo dom Sergio, o papa Francisco afirma que a sinodalide aconteceu efetivamente neste Sínodo porque ele consultou o povo de Deus. “Não é só a presença de pessoas que representam leigos (as), religiosos (as) e irmãos de outras denominações, mas o fato de ter sido um processo, um caminho”. Segundo dom Sergio, “escutar a Igreja levou o Sínodo a expressar uma sinodalidade”.
O presidente da CNBB retomou o discurso do papa Francisco por ocasião da comemoração do cinquentenário do Sínodo dos Bispos, proferido no dia 17 de outubro de 2015. Dom Sergio chamou a atenção para o trecho: “Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar ‘é mais do que ouvir’. É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o ‘Espírito da verdade’ (Jo 14, 17), para conhecer aquilo que Ele ‘diz às Igrejas’ (Ap 2,7)”.
Segundo o arcebispo, a escuta da qual fala Francisco tem a ver com o “aprender com o outro”. “Eu escuto para junto com o outro discernir o que é melhor. A escuta fundamental é a do Espírito Santo. O papa dizia que só seremos capazes de escutar um ao outro se escutarmos o Espírito Santo”, destacou.
Retiro sobre a Misericórdia
A reunião do Grupo de Assessores foi antecedida por um retiro, ocorrido na Vila Champagnat, próximo a Brazlândia (DF), do dia 22 a 24 de fevereiro. O momento espiritual foi conduzido pelo bispo auxiliar de Salvador (BA) e secretário geral do regional Nordeste 3, dom Gilson Andrade, que falou sobre o tema da Misericórdia.
Durante as reflexões, dom Gilson citou trecho do livro de Isaías 49, 15-16. “Um dos textos do Antigo Testamento que busca mostrar o rosto bondoso de Deus”, explicou. Conforme o bispo, nele Javé aparece como o Deus da ternura, o Deus da bondade. “Deus ama com as entranhas, como uma mulher é capaz de amar seu filho”, disse.
Dom Gilson questionou os presentes sobre o que define a vida de cada um, não somente nas situações dramáticas ou nos desafios que precisam ser enfrentados. Para o bispo, esta definição da vida se dá por meio do “amor recebido do Pai, graças a Jesus Cristo”. Citou como exemplo o próprio Cristo. “No período da Quaresma, recordamos tantas vezes a trajetória de Jesus Cristo. No Evangelho de Lucas fica clara a perspectiva de Cristo que vai a Jerusalém ao encontro da morte. O que animava Cristo? Eu penso que era a consciência de ser amado. Jesus ouviu que ele era o filho bem-amado”, pontuou. Para dom Gilson, o papa Francisco, ao decidir que este ano seria dedicado à Misericórdia, pensava sobre a necessidade que todos têm de ser amados.
O bispo acrescentou que “a misericórdia é uma experiência de amor que perdoa e que se doa”. “Trata-se de um caminho que não está muito ao nosso alcance. Como o pai do filho pródigo, que tirou os olhos de sua própria ferida, aquela que o outro me fez, para olhar o sofrimento do outro; consentir com não remoer indefinidamente seu próprio sofrimento, mas habitar o sofrimento daquele mesmo que o provocou”, complementou.
Ao abordar as parábolas do Bom Samaritano e do Filho Pródigo, dom Gilson recordou que a misericórdia “nunca humilha a pessoa”. Tem a ver com a dignidade humana. “Este tema está profundamente relacionado às imagens de Deus. É um caminho para Deus. Na parábola do Filho Pródigo, o pai não somente dá o pão, mas oferece a dignidade. O pai vai além da ferida que o filho lhe causou”, disse.
Para os assessores da CNBB o retiro foi um momento de descanso e de aprofundamento sobre o tema da misericórdia. “Uma das coisas que para mim e para o grupo todo ficou é que a CNBB deveria se tornar um ‘oásis de misericórdia’ entre assessores, colaboradores, bispos e todas as pessoas“, expressou a assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, irmã Maria Irene Lopes dos Santos.
O assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB, padre Antonio Marcos Depizzoli, considerou o encontro uma oportunidade para aprofundamento da temática proposta por meio de “um caminho de meditação, de reflexão com a palavra de Deus”. Para ele, a orientação de dom Gilson foi “muito feliz” em fazer o percurso de reflexões, iniciado na segunda-feira pela manhã e concluído na quarta-feira à tarde. “Ele soube construir um caminho, utilizando a Sagrada Escritura, dando ênfase de um modo muito especial às parábolas da misericórdia. Então ajudou a todos. A avaliação foi muito positiva. De modo geral, conseguimos mesmo fazer um momento de especial encontro com o olhar misericórdia do Pai e isso, com certeza, foi bastante determinante na vida de cada um de nós”, afirmou.
Padre Marcos destacou a dinâmica própria da CNBB no modo como organiza as atividades, o que favorece a vivência da pastoral de conjunto. “Cada um tem sua comissão, trabalha na comissão de modo bem específico, mas há essas oportunidades, nas quais a gente pode sentir a pastoral de conjunto, a pastoral orgânica. Então, o grande objetivo desse tempo é colocar realmente cada assessor ao lado um do outro para a gente sentir e fazer esse processo de fraternidade, de trabalho conjunto, de pastoral orgânica, seja na dimensão espiritual, como fizermos e vivemos esse momento bem comunitário do retiro e, agora, discutindo questões muito práticas”, analisou.
Fonte: CNBB