O bispo emérito da Prelazia de São Felix do Araguaia (MT) celebra aniversário de 90 anos cercado de homenagens . Dom Adriano Cioca Vasino, bispo de São Felix, em texto publicado no jornal da Prelazia confessa: “Dom Pedro ainda é visto como bispo de São Felix do Araguaia e a memória do seu ministério profético continua impulsionar as comunidades desta Igreja“. Dom Adriano ainda diz que foi graças a dom Pedro e à equipe que trabalhou com ele por longos anos que a Prelazia é vista como uma presença firme ao lado dos pequenos e marginalizados. “Presença que continua hoje através do acompanhamento constante no caminho de fé das comunidades tanto rurais como urbanas e das pastorais sociais“, explica.
O sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, comentando o filme “Descalço sobre a terra vermelha” que mostra do testemunho de dom Pedro na defesa dos pobres nos sertões do Araguaia destaca: “seu empenho em favor dos Direitos Humanos era tão grande que certas autoridades eclesiásticas questionavam se aquele bispo era mesmo um missionário do Evangelho ou somente um líder social […) aquela suspeita, porém, não era inteiramente sem fundamento porque a pequenina Igreja que se constituía na região do (Rio) Araguaia parecia não se preocupar com suas próprias estruturas, tão ocupada estava com as pessoas mais vulneráveis“. E o professor Pedro Ribeiro, em janeiro deste ano, avalia realidade daquele tempo considerando que aquele cenário era de “uma uma ‘Igreja em saída’, como pede hoje o Papa Francisco, e mal tinha tempo para se organizar internamente“.
Testemunhos
Luzia Bento Piage, membro da comunidade de Canabrava do Norte, na Prelazia de São Felix afirma: “Outra coisa que devemos gratidão a dom Pedro é a escola. Ele enviou agentes de pastoral para cá e eles cuidaram da escola. Antes, não tinha nada por aqui, a escola começou através do bispo aqui em Canabrava“. E completou: “Pedro sempre cuidou muito da gente, do povo pobre. Eu tive uma nenê e, com seis dias de nascida, deu tétano na minha bebezinha. Ele estava de visita a Canabrava com uma irmã. Eles levaram a nenê para São Felix, ela ficou internada durante sete dias e eles cuidando dela. Ele viu o nosso sofrimento e cuidava da gente!“.
Kamoriwa`i Elber Tapirapé, caique do povo Apyãwa-Tapirapé, refere-se a dom Pedro Casaldáliga da seguinte maneira: “Ele chegou na região parra dar apoio à questão do mais pobre, aos mais necessitados da região. Então, ele veio cuidar da nossa parte“. O cacique conta como foi que dom Pedro aproximou-se da comunidade dos indígenas: “Ele começou fazendo visitas, reconhecendo, vendo a questão nossa, para saber da nossa história, dos problemas que a gente enfrentava, nas questões da terra, da saúde, da educação também. Vistando a nossa comunidade, ele foi conhecendo os nossos problemas“. O cacique reconhece o esforço que sempre dom Pedro fez, lutando junto com as pessoas daquele região. Diz ainda que o bispo sempre foi uma pessoa muito responsável na luta e que nunca desistiu de lutar junto com o povo daquele pedaço do Mato Grosso. “Pedro sempre foi conhecido pelo povo Apyyãwa como Xeramoja. Xeramoja na nossa língua significa vovô, nosso avô“, completa.
Homenagens
Paulo Gabriel, poeta espanhol, religioso agostiniano escreveu para o jornal da Prelazia e fez uma retomada da caminhada de dom Pedro Casaldáliga. “Deus me concedeu o privilégio de viver 20 anos ao lado de Pedro. Sou testemunha de sua paixão pela América Latina, paixão que contagiou toda a equipe pastoral e todos aqueles aos quais chegaram suas palavras e seus escritos. Amigo e admirador dos grandes bispos latino-americanos, Santos Padres deste Continente, até hoje conserva em seu quarto as fotos de Mendez Arceo e Samuel Ruiz, mexicanos; Angelelli, argentino, assassinado pela ditadura daquele país; Leonidas Proaño, equatoriano defensor dos índios. Hélder Câmara, Tomás Balduíno, brasileiros e, claro, presidindo todos eles, Oscar Romero, salvadorenho“. O depoimento de Paulo Gabriel continua: “Na capela da casa onde vive com a comunidade agostiniana, que agora cuida dele, conserva-se uma relíquia, fragmento da túnica ensaguentada de ‘São Oscar Romero da América Latina’ – poema que percorreu o mundo – junto com outra relíquia de Ignacio Ellacuria, jesuíta assassinado pela ditadura de El Salvador e grande pensador da teologia e da história latino-americanas“.
O texto de homenagem enviado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) leva a declaração dos envolvidos na causa indígena no Brasil em nome da Igreja: “Em sua humildade evangélica radical, Pedro foi sempre uma presença solidária junto aos povos indígenas e missionários. Nunca aceitou nenhum ‘cargo’ no Cimi. Por ocasião dos 30 anos do Cimi, não podendo estar presente, enviou uma mensagem que até hoje continua fortalecendo nossa caminhada de solidariedade com os povos indígenas. Nela dizia ‘me faço presente de coração nesse Congresso de 30 anos de memória, missão e utopia, caminhada de generosidade, teimosia e esperança. Somos soldados derrotados de uma causa invencível. Devemos continuar sendo, na oração e no sonho, radicais‘”.
“Símbolo de rebeldia evangélica para os jovens”
Marco Antônio Gallo, agente de Pastoral referencial da PJ na Prelazia de São Felix do Araguaia deixou sua homenagem afirmando que dom Pedro é um símbolo de rebeldia evangélica para a juventude. “Neste ano que celebramos 90 anos de nosso Profeta, nós, da Pastoral da Juventude, queremos reafirmar nosso compromisso com o Reino numa atitude de ação de graças pela Vida do Nosso Profeta, agradecer a Deus por este nosso companheiro de caminhada que, com sua singeleza, nos anima na luta por um mundo novo“.
E Gallo declara, em nome da juventude da Prelazia de São Félix: “Comprometemo-nos a fazer ecoar o que um dia (Pedro) nos pediu: somos Igreja jovem, popular, comprometida, ‘esperançada e esperançadora’! A Pastoral da Juventude pula, grita, canta e luta pelos 90 anos de Pedro Casaldáliga!“.
Fonte: CNBb