Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada, disse o Papa Bento XVI, por ocasião de sua visita ao Brasil em 2007. Diante da afirmação do Papa Emérito, estimado leitor, passo a dissertar sobre a Igreja, agraciada com força de uma figura humana, fascinada por Deus e suas criaturas, que exerceu tal fascínio vendo Deus através juventude empobrecida do seu tempo. Trata-se do dom maravilhoso de São João Bosco, italiano de Turim (1815-1888), uma das pessoas mais populares da nossa civilização cristã. Seu grande e maior legado foi de se preocupar com a educação integral dos jovens, num tempo em que essa porção da sociedade, povo de Deus, começava a ser profundamente atingida por perigos de toda natureza; diante dessa dura realidade, quis ele ser apóstolo dos jovens. Para bem desempenhar sua missão libertadora em favor dessa gente tão querida por Deus, jamais lhe faltou sabedoria, dons humanos e sobrenaturais. Jesus, o bom Pastor, iluminou sua inteligência e a modelou, de modo que, foi levado a conhecer e a amar o Senhor, como tão bem expressa na Escritura Sagrada: “Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face” (Sl 4, 7).
Ele pensava ser sacerdote e sempre afirmava: “Quando crescer quero ser sacerdote para tomar conta dos meninos. Os meninos são bons; se há meninos maus é porque não há quem cuide deles”. A Divina Providência atendeu os seus anseios. Em 1835 entrou para o seminário de Chieri, perto de Turim, Itália. Ordenado Sacerdote no dia 05/06/1841, logo deu provas do seu zelo apostólico. No dia 8 de dezembro do mesmo ano iniciou o seu apostolado juvenil em Turim, catequizando um humilde rapaz de nome Bartolomeu Garelli. É aí que iniciou a origem de sua grande obra, que nós a conhecemos como os oratórios salesianos destinados aos jovens pobres, em tempos difíceis. Sua intenção era de ampará-los, preservando-os da ignorância religiosa e todo tipo de mal que os envolviam. Em 1846, estabeleceu-se definitivamente em Valdocco, bairro de Turim, onde fundou o Oratório de São Francisco de Sales.
Ao oratório juntou uma escola profissional, depois um ginásio, um internato etc. Em 1855 deu o nome de Salesianos aos seus colaboradores, fundando assim, em 1859, com os seus jovens salesianos a Sociedade ou Congregação Salesiana, que para eles foi educador, pai e guia no caminho da salvação, sempre pronto a prevenir em vez de reprimir. Criou ainda a Associação dos Cooperadores Salesianos, como prodígio da providência divina. Podemos, evidentemente, contemplar todo trabalho de Dom Bosco como hino de louvor, com um poema de Deus Pai, que tem sua razão de ser, na firmeza de sua fé, esperança e caridade.
Amou em profundidade a criatura humana, com um carinho especial para com os jovens de seu tempo, a ponto de sensibilizá-los através de seus pensamentos e frases, a saber: “Basta que sejam jovens para que eu vos ame”; “Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens”; “O que somos é presente de Deus; no que nos transformamos é o nosso presente a Ele”; “Ganhai o coração dos jovens por meio do amor”; “A música dos jovens se escuta com o coração, não com os ouvidos”.
O método educativo e apostólico de Dom Bosco se inspirou num humanismo cristão, buscando motivações e energia nas fontes da sabedoria evangélica, de partilhar em tudo a vida dos jovens; para isto concretizou seu desejo, abrindo escolas de alfabetização, artesanato, casas de hospedagem, ambiente de diversão, com catequese e qualificação profissional. E é exatamente por isso que a Igreja reza: “Ó Deus que suscitastes São João Bosco para educador e pai dos adolescentes, fazei que, inflamados da mesma caridade, procuremos a salvação de nossos irmãos” (Missal Romano, pg. 546).
O uso didático de suas frases e pensamentos, relacionados aos meninos pobres dos oratórios, padres e irmãs, que se tornaram seus parceiros e colaboradores, foram de uma vitalidade tal, que o tornou um extraordinário benfeitor da humanidade. Embora os seus pensamentos sejam do século XIX, os temos como atuais e profundamente carregados de sabedoria, demonstrando o imenso carinho que Dom Bosco nutriu pelos jovens. Tratando-os jamais como um problema, mas como uma solução, tornando-se patrimônio da humanidade, na sua larga visão do mundo, dentro de uma realidade desafiadora, olhando para o futuro.
De estatura atlética, memória descomunal, inclinado à música e a arte, Dom Bosco tinha uma linguagem fácil, espírito de liderança, além de ser um escritor de raríssima qualidade. O grande apóstolo da juventude partiu para o céu aos 31 de janeiro de 1888, na cidade de Turim, deixando indelevelmente sua marca espalhada por diversos países da Europa e da América. Sua vida e seu ideal perseguido foi o do amor ao próximo, como costumava afirmar que Deus o chamou e o colocou no mundo, não para viver para si e sim para Ele, através do próximo, vendo com os próprios olhos sua obra crescer e prosperar. Ele mesmo enviou seus filhos salesianos em 1883, para fundar o Colégio Santa Rosa em Niterói, primeira casa salesiana do Brasil, de ensino fundamental. A segunda casa dos filhos de Dom Bosco, foi em 1886, com a fundação do Liceu Coração de Jesus, na cidade de São Paulo.
Homem que marcou em profundidade uma época, até mesmo com visões e sonhos. Ele que viveu na Itália, teve visões reveladoras, inclusive, o grande sonho que viria a ser revelado, tornando-se imprescindível nas últimas decisões de Juscelino Kubitschek, no que diz respeito à construção da Capital Federal no Planalto Central. No seu sonho, revelou que foi arrebatado pelos anjos, entre os paralelos 150 e 200 graus, onde havia uma enseada bastante extensa e larga, partindo de um ponto onde se formava um lago. Eis o sonho do Dom Bosco como uma simbologia, o qual se transformou em realidade, na construção e inauguração da cidade de Brasília, aos 21 de abril de 1960.