Analistas católicos receberam com satisfação o documento do Vaticano que adverte que a ideologia de gênero é uma revolução cultural que destrói tanto a dignidade humana quanto a correta compreensão da diferença e complementaridade sexual. No entanto, o documento não esteve isento de críticas.
“Há muita confusão neste momento em relação à teoria do gênero na educação e este documento fornece a clareza tão necessária sobre a verdade da pessoa humana”, disse Dra. Joan Kingsland, teóloga moral e assessora curricular de Ruah Woods, uma organização com sede em Ohio (Estados Unidos) centrada na Teologia do Corpo de São João Paulo II.
Em 10 de junho, a Congregação para a Educação Católica publicou o documento “Homem e mulher os criou. Para uma via de diálogo sobre a questão de gender na educação”.
“Nos principais meios de comunicação, sem dúvida, haverá uma reação ideológica típica contra a Igreja por impor uma visão antiquada da sexualidade em seus membros; mas outros ficarão aliviados de que a Igreja esteja dando clareza sobre um aspecto tão importante da pessoa humana”, disse Kingsland à CNA – agência em inglês do Grupo ACI.
A resposta norte-americana ao documento ocorre “no contexto geral de uma cultura hipersexualizada que deixa muitos feridos e na defensiva”, disse a especialista, acrescentando que “há estilos de vida que escravizam a pessoa e a deixam na escuridão sobre a verdadeira e boa felicidade”.
O documento foi publicado ao mesmo tempo em que, em diferentes partes do país, são comemoradas as atividades do “mês do orgulho LGBT” (lésbicas, gays, transexuais e bissexuais).
Em vários países, o lobby gay celebra o mês do orgulho em junho, com eventos e desfiles onde, com frequência, se apresentam homens seminus ou disfarçados de mulheres. Essas atividades promovem supostos direitos, como o chamado “casamento” homossexual e a adoção por casais do mesmo sexo.
A publicação do novo documento ocorre depois de vários anos nos quais a Igreja nos Estados Unidos tem sido criticada por escândalos de abuso sexual por parte do clero.
O texto descreveu a necessidade de reafirmar “as raízes metafísicas da diferença sexual” para ajudar a refutar “as tentativas de negar a dualidade masculina e feminina da qual a família é gerada”.
Essa negação “não apenas apaga a visão da criação, mas delineia uma pessoa abstrata ‘que depois escolhe para si mesma, autonomamente, uma ou outra coisa como sua natureza’”.
O texto é assinado pelo Cardeal Giuseppe Versaldi, prefeito da Congregação para a Educação Católica. Descreve as origens filosóficas da ideologia de gênero e os esforços em vários países para impor uma visão diferente da natureza humana na política e na lei.
“Todas essas teorizações, desde as mais moderadas até as mais radicais, acreditam que o gender (gênero) acaba sendo mais importante que o sex (sexo)”, ressalta o documento, que também reflete o papel dessa ideologia na educação e fala da “crise” do pacto educacional ou “parceria” entre a escola e a família.
O documento assinala que, apesar dos desafios, o diálogo continua sendo possível. Também pede a proteção dos direitos humanos e familiares, denuncia a discriminação injusta e assinala pontos de unidade entre pessoas com diferentes perspectivas sobre a ideologia de gênero.
Pe. Philip Bochanski, diretor executivo de Courage International, disse à CNA que o documento merece “um estudo e uma reflexão cuidadosos”.
Além disso, afirmou que depois de uma leitura inicial, o documento é “perspicaz e útil para os nossos esforços constantes, de falar a todos com a verdade desde o amor, sobre a Boa Nova do plano de Deus para as nossas vidas”.
Courage International é um apostolado para pessoas com atração pelo mesmo sexo que estão comprometidas em lutar pela castidade.
Pe. Bochanski elogiou a estrutura do documento de “ouvir, refletir, propor” para fornecer “um marco claro e sólido para o ministério”, que coincide com o conselho do Papa Francisco para os religiosos que “devem acompanhar as pessoas a partir de sua situação”.
“O documento então apresenta de forma sucinta e clara os princípios antropológicos e morais que são a base de nossa compreensão da sexualidade humana, de modo que um diálogo desse tipo possa ajudar cada pessoa a ver seus próprios desejos e experiências à luz do plano de Deus”, assegurou.
Além disso, o presbítero acrescentou que o documento “confronta com coragem as tendências do pensamento secular que são confusas ou opostas a esse plano, e exorta todas as pessoas a conformar suas vidas mais completamente a Cristo”.
Segundo Kingsland, o contexto adequado para falar de sexualidade é “o amor e o chamado da pessoa humana à comunhão”, porque “somos feitos à imagem de Deus, que é uma comunhão de amor”.
Pe. James Martin, sacerdote jesuíta e editor geral da revista América, criticou o documento com um tuíte em 10 de junho.
“Exige corretamente o ‘diálogo’ e a ’escuta’, mas deixa de lado as experiências da vida real das pessoas LGBT. Infelizmente, será usado como um porrete contra pessoas transexuais e como uma desculpa para argumentar que eles nem deveriam existir. O documento é principalmente um diálogo com filósofos e teólogos, e com outros documentos da igreja; mas não com cientistas e biólogos, não com psicólogos, e certamente não com pessoas LGBT, cujas experiências têm pouco ou nenhum peso”, disse o jesuíta.
Pe. Martin, depois, compartilhou com seus 246.000 seguidores no Twitter uma publicação do grupo New Ways Ministry, que “educa e promove a justiça e a igualdade para os católicos lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros”, segundo informa o seu site.
“O novo documento do Vaticano sobre gênero será usado para oprimir e prejudicar as pessoas LGBT. Perpetuam-se falsos estereótipos que fomentam o ódio, o fanatismo e a violência”, diz a publicação.
Os Bispos dos Estados Unidos afirmaram em um documento emitido em 2010, que New Ways Ministry não é aprovado nem reconhecido pela Igreja Católica e é enganoso afirmar que “proporciona uma interpretação autêntica da doutrina católica e uma prática pastoral católica autêntica”.
Kingsland disse que o documento da Congregação para a Educação Católica reconhece a confusão sobre os conceitos da natureza humana, a liberdade humana e vê a necessidade de esclarecê-los para “uma visão correta e completa da pessoa”.
Finalmente, notou a “clara continuidade” do documento entre os ensinamentos passados e presente da Igreja.
O documento cita o ensinamento de São João Paulo II, Bento XVI e Papa Francisco, frisou.