Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora

Padre Alfredo José Gonçalves, CS

Dois aspectos tornam relevante e pedagógica a abordagem das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023): o fato de levar em conta o contexto do “mundo urbano atual, cuja mentalidade está presente no campo e na cidade” (nº 10), e a metáfora da casa/comunidade como eixo ao redor do qual gira toda a ação evangelizadora (nº 33). O Documento 109 foi aprovado em maio de 2019, na 57ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil.

O processo de urbanização, praticamente consolidado nos países mais desenvolvidos, vem se acentuando com grande velocidade nos países periféricos e emergentes. No Brasil, desde o Censo de 1970, a população urbana supera a população rural, chegando hoje a mais de 80% dos cidadãos. No mundo, foi no ano de 2007 que os moradores da cidade passaram a representar mais de 50% da população total do globo. O século XXI será um século urbano por excelência.

Na realidade, porém, como assinala o documento, “a mentalidade urbana” não se restringe aos moradores das pequenas, médias e grandes cidades, metrópoles ou megalópoles. Ela se encontra cada vez mais também na zona rural, pois a internet, a televisão, o celular e o vaivém de migrantes rompem todas as barreiras. Numa palavra, o universo urbano inclui e supera os limites da cidade. A geografia do pensamento urbano não coincide com as fronteiras entre cidade e campo.

Daí a importância, na ação evangelizadora da Igreja, de levar em consideração as novas linguagens desse universo que se expande por todo o planeta. O desafio está em traduzir a Boa-Nova de Jesus Cristo para a cultura, a visão e os valores de uma maioria que cada vez mais incorpora a forma de vida urbana. Esse universo múltiplo, plural e polifônico requer uma adaptação permanente dos conteúdos evangélicos. A fidelidade criativa deve acompanhar as mudanças históricas: em lugar de imitar, procura recriar os métodos e atividades, de acordo com os desafios do momento presente.

A metáfora da casa/comunidade, por sua vez, remete-nos à experiência dos primeiros cristãos, narrada nos Atos dos Apóstolos. Casa de portas sempre abertas, seja como lugar de entrada, mas também como lugar de saída; lugar de acolhida, mas também de envio. Imagem da Igreja reunida e, ao mesmo tempo, da Igreja em saída, como insiste o Papa Francisco. De resto, a imagem se presta tanto para a convivência na comunidade eclesial quanto para a vida comunitária religiosa e consagrada.

Ainda duas observações referentes aos aspectos assinalados: de um lado, o objetivo geral da ação evangelizadora sublinha a relevância das comunidades eclesiais missionárias, jamais esquecendo que “Deus habita esta cidade”; de outro lado, a casa/comunidade ergue-se sobre quatro pilares fundamentais: a palavra, o pão, a caridade e a ação missionária (nº 33), respectivamente, a iniciação cristã na Catequese; a mesa partilhada da liturgia eucarística; o amor fraterno e familiar; e a missão na diversidade do mundo urbano.

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