Irmãos e irmãs,
A liturgia deste domingo nos convida a refletir sobre o caminho do discipulado, sobre a seriedade de seguir Jesus. Não se trata de um convite superficial, mas de uma decisão que pede entrega, coragem e discernimento.
Na primeira leitura, ouvimos a pergunta do Livro da Sabedoria: “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Quem pode imaginar o que o Senhor quer?” (Sb 9,13). O texto recorda nossa limitação diante da grandeza divina. Muitas vezes, nos deixamos prender pelas preocupações passageiras e terrenas, que “pesam sobre nossa alma” (cf. Sb 9,15). Mas o autor nos recorda que é o Espírito Santo quem ilumina nossas escolhas: “Assim os homens foram instruídos no que te agrada, e pela sabedoria foram salvos” (Sb 9,18). Sem a ajuda de Deus, não conseguimos discernir o caminho certo.
O Salmo 89 prolonga essa súplica e nos ensina a rezar: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria” (Sl 89,12). Essa oração é um pedido para que não gastemos a vida com o que é vão, mas que saibamos aproveitar o tempo como dom de Deus. O salmista proclama ainda: “Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós, de geração em geração” (Sl 89,1). Eis a confiança do discípulo: colocar sua vida nas mãos do Senhor, sabendo que só Ele é firmeza e segurança.
Na segunda leitura, São Paulo escreve a Filemon sobre Onésimo, um escravo convertido: “Eu o envio de volta a ti, como se fosse o meu próprio coração” (Fm 12). Paulo pede que Filemon não o receba apenas como servo, mas como irmão: “Não já como escravo, mas muito mais do que isso, como irmão querido” (Fm 16). Eis a força transformadora do Evangelho: não há lugar para desigualdades ou exclusões entre os discípulos de Cristo. A fé em Jesus reconfigura as relações humanas, quebrando correntes de dominação e construindo fraternidade.
Chegamos, então, ao Evangelho segundo São Lucas, em que Jesus se volta para a multidão e declara com firmeza: “Se alguém vem a mim, mas não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até a própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). É uma palavra dura, mas que não significa rejeitar a família, e sim colocar o amor a Deus acima de todos os amores humanos. Só quando Deus ocupa o primeiro lugar é que conseguimos amar os demais de forma verdadeira.
Jesus continua: “Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). O seguimento de Cristo não é um caminho de facilidades; é exigência, radicalidade, decisão. Ele compara a vida do discípulo ao homem que quer construir uma torre: “Quem de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?” (Lc 14,28). Assim também deve ser nossa vida cristã: não basta entusiasmo inicial, mas perseverança.
E conclui com a advertência decisiva: “Do mesmo modo, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33). Seguir Jesus exige discernimento e renúncia. Não se trata de viver pela metade, mas de escolher integralmente o Senhor como centro da vida.
Queridos irmãos e irmãs, a Palavra hoje nos questiona: quais são os apegos que me impedem de seguir Jesus com liberdade? Pode ser o apego ao dinheiro, ao status, ao orgulho, a relações mal vividas, ao medo da entrega. Mas o Senhor nos convida a caminhar decididamente com Ele, carregando a cruz e confiando que somente nesta entrega encontraremos a vida plena.
Que a Eucaristia de hoje fortaleça nosso coração. Que, iluminados pelo Espírito Santo, possamos “contar os nossos dias” com sabedoria (Sl 89,12), acolher cada pessoa como irmão (cf. Fm 16) e, sobretudo, carregar nossa cruz com amor, na certeza de que em Cristo a vida vence sempre.
Amém.