Você fala e eu finjo que entendo. Você ouve, mas só escuta o que lhe interessa. Quando fala não espera resposta. Quando ouço prefiro ignorar. Seus ouvidos só captam os sons dos burburinhos distantes; os meus, quanto mais barulho, menos interesse. Ou quanto mais falatório, melhor a polêmica dos desentendidos. Chegamos ao patamar da comunicação instantânea sem os filtros necessários ao aprofundamento dos muitos sons, palavrórios, doutrinas e teorias que muito barulho faz, mas quase não encontra eco nos ouvidos moucos da maioria massificada. Explico melhor: muito se fala, mas pouco se faz.
Estamos vivendo a era da desinformação pelo excesso de informações que hoje recebemos. Um filtro é hoje apêndice necessário (nem sempre eficiente) para aqueles que preferem o silêncio ou desdenham os fatos que o circundam. Assim, construímos barreiras ao nosso redor, um anteparo necessário para não enlouquecermos com tudo o que hoje ouvimos e vemos acontecer no mundo. Seria esta a melhor atitude?
Senão, eis que fatos recentes me tiram do sério. Não posso me silenciar diante dos ataques à minha fé, às minhas convicções, ao direito que tenho de seguir uma vida no mínimo coerente com meus princípios cívicos, familiares ou de simples cidadão que ainda respeita um semelhante. Grupos contrários a esses direitos básicos estão ultrapassando os limites, com ações mais que vis, pois só despertam asco e aversão a qualquer cidadão minimamente civilizado. Em nome da “arte”, profanam igrejas, atacam escolas, vilipendiam tudo que se possa dizer comportamento padrão, ético ou no mesmo religioso. Com nojo e repugnância, assisti a um vídeo desses animais, nus como lhes convêm, fazendo sexo e defecando dentro de uma igreja. Em nome do amor livre. Que amor, que liberdade? Outros, em procissão qual manada de porcos, caminhavam por uma avenida de uma de nossas cidades e gritavam em uníssono: “Jesus, FDP”. Isso mesmo, o termo mais baixo que sai da boca daqueles que nenhum senso de respeito humano possui para com seus semelhantes. Nem mais Jesus escapa dessas bocas cheias de fezes.
Nosso momento político chegou ao fundo do poço. Ou melhor, da fossa. Enlameou-se com a sordidez do fanatismo, do jogo partidário, da insensatez. Quem financia quem? Tenho que dizer alto e em bom som: estou enojado disso tudo. Como vislumbrar um futuro ao menos mais digno, quando o presente só nos assombra? Onde encontrar a linha da esperança sem medo, quando jovens e crianças brasileiras vivem um analfabetismo funcional, sem visão da realidade, sem travas e peias da moral e dos bons costumes, sem perspectivas vocacionais ou profissionais? A perspectiva da desaceleração de nossa faixa etária, com um número cada vez menor de jovens, nos faz imaginar como estes irão tomar as rédeas desse país num futuro bem próximo. Todos despreparados e intelectualmente alienados dos fatos que desmorona nosso legado cultural, intelectual e mesmo cívico. Isso sem falar dos costumes e tradições familiares, do respeito à cultura religiosa que trouxemos até aqui, dos valores próprios de uma civilização inserida num contexto de progresso cultural e competitivo, que outras nações ainda primam em conservá-las como sua riqueza maior. E nossa história? A cultura que incêndios inexplicáveis tornam cinzas da noite pro dia? Onde acabará tudo isso?
Não me calo, porque ainda tenho olhos para ver e ouvidos para entender tudo isso. Jesus, o filho não daquela – a Eva do paraíso perdido – mas da outra – a mulher por excelência, usou de um expediente bem simbólico para curar aquele surdo-mudo: “colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele”. Quem sabe esse ritual nos lembre que uma cusparada no rosto nos desperte a vergonha. Ou um toque de Jesus em nossa língua também será preciso para destravar nossa língua e gritar ao mundo as verdades de nossa fé. “Efatá!” Ouçam os surdos, falem os mudos.