Dar razão da esperança

    Seguimos na alegria da caminhada Pascal, já preparando os nossos corações para as grandes celebrações da Ascensão do Senhor e de Pentecostes, no contexto do mês de maio, mês dedicado a Maria e que estamos vivenciando de modo muito especial. Vivemos nesta semana o Dia de Nossa Senhora de Fátima e neste terceiro domingo de maio comemoramos o Dia Nacional do Congregado Mariano.

    O Evangelho deste 6º domingo da Páscoa (Jo 14,15-21) aponta para o clima de despedida no discurso de Jesus dirigido aos 12 no contexto da última ceia. Na passagem deste domingo, as palavras de Jesus vão trazer três ideias fundamentais: a primeira delas, o amor a Deus que se traduz em obras do dia a dia: Se me amais, guardareis os meus mandamentos (Jo 14,15); logo depois temos a promessa do envio do seu Espírito, anunciado na figura de um Defensor: “e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco” (Jo 14, 16), que há de permanecer junto dos seus nos momentos em que Cristo não estiver mais presente, defendendo dos perigos e orientando a permanecer firmes no caminho do Senhor; e na terceira parte, vemos Jesus anunciando sua partida deste mundo, apontando que é chegada a hora de passar deste mundo para o Pai. Este anúncio é apresentado de uma maneira bastante reconfortante em relação aos que aqui permanecem: “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós.” (Jo 14,18).

             O Novo Testamento, de várias formas, mostra a vinculação existente entre fé e realidade prática, fé e vida, fé e obras. Embora a fé humana seja uma realidade desenvolvida no interior do ser humano, a fé cristã traz um elemento a mais: a fé cristã autêntica se faz vida, se traduz em obras, se traduz no cuidado com o outro e em estabelecer o reinado de Deus em todos os meios em que estejamos inseridos. A fé traz uma nova maneira de ser, agir e pensar no meio do mundo. A fé nos faz estar abertos à realidade da Graça, que nos transforma cada vez mais em Cristo. O Cristão é exatamente isso: não somente aquele que proclama com palavras a fé que professa, mas aquele que deixa com que sua vida seja transformada em vida em Cristo. A fé nos faz sermos homens e mulheres novos, comprometidos com o estabelecimento de um mundo novo em todas as suas estruturas.

             Essa tarefa de ser transformados em Cristo é realizada com a colaboração humana, mas o protagonismo dela vem da Graça de Deus. É neste contexto que contemplamos a promessa de Jesus apresentada no Evangelho, a promessa do envio de um Defensor, um advogado, um protetor em meio a um mundo de contrariedades. Tal citação na Liturgia dentro do contexto do Tempo Pascal, prepara nossas mentes e nossos corações para a celebração da grande solenidade de Pentecostes, onde esta promessa que é apresentada no Evangelho vai ser cumprida de maneira a ser vista por aqueles que estiverem no Cenáculo: “O Espírito vem em socorro de nossa fraqueza” (Rm 8, 26). A missão de Jesus não deve estar limitada ao curto tempo em que ele esteve na terra; ela deve se prolongar até a segunda vinda de Cristo, por meio de seu corpo, que é a Igreja. Por isso, o Espírito há de defender e auxiliar a Igreja em suas lutas de cada dia por prosseguir a missão dada por Cristo em meio ao mundo. Quem crê nuca está só. Essa realidade é muito reconfortante para estes tempos de distanciamento social que ora vivemos.

             É aí que consideramos a terceira grande mensagem apresentada no Evangelho de hoje:  a de que não estaremos sozinhos nesta caminhada rumo ao céu e que Cristo há de voltar! Na próxima semana, em solenidade transferida celebraremos a Ascensão do Senhor, de Cristo que abre para nós as portas da eternidade. Esta realidade já é aqui anunciada utilizando a imagem do cuidado de Jesus em relação a nós, já que deixa a promessa de que não estaremos sozinhos. Nas circunstâncias concretas de isolamento e distanciamento social que estamos vivenciando, como é bom poder ter a certeza de que não estamos sozinhos, a certeza de que a presença e o cuidado de Deus jamais hão de nos faltar!

             A primeira leitura deste sexto domingo da Páscoa (At 8,5-8.14-17) demonstra o crescimento da Igreja nascente e as maravilhas realizadas pelos apóstolos após a realidade de Pentecostes. De maneira mais concreta, a leitura mostra Filipe, Pedro e João que anunciam a Palavra do Senhor e realizam milagres em meio ao povo. Esses sinais são uma grande motivação para que o povo aceite a palavra do Senhor e aceite a mudança de vida. Aqueles apóstolos que antes víamos confusos e com medo, agora os vemos revestidos com a autoridade do Alto, autoridade dada para servir e dar a vida para que outros tenham vida. “Consola-me o fato de que Deus sabe trabalhar com instrumentos insuficientes.” (Bento XVI, missa de inauguração do Ministério Petrino). Essas palavras ditas pelo papa Bento XVI nos ajudam a entender um pouco do que foi descrito na leitura e do que o Senhor pode fazer em nossas vidas, se nos colocamos inteiramente disponíveis à ação do Espírito. Deixemos que o Senhor tome o protagonismo de nossas existências.

             O salmo responsorial de hoje, o salmo 65, vem exaltando as grandes maravilhas realizadas pelo Senhor em meio aos homens, “Dizei a Deus: “Como são grandes vossas obras! Toda a terra vos adore com respeito e proclame o louvor de vosso nome!” Vinde ver todas as obras do Senhor: seus prodígios estupendos entre os homens!”  Tal aclamação é a resposta ao que foi narrado na leitura dos Atos dos Apóstolos, mas é também um convite dirigido constantemente a nós: em meio à humanidade marcada por contínuas discórdias, não nos esquecermos de contemplar as maravilhas do Senhor realizadas em nosso meio. Ao mesmo tempo, nossas vidas concretas devem ser motivo de louvor ao Senhor: não deixemos que nossas fraquezas e nossas lutas falem mais alto do que os tantos benefícios com que o Senhor nos cumula incessantemente.

             Finalmente, a segunda leitura (1Pd 3,15-18), explicita a prontidão em dar razões na nossa esperança de maneira pacífica e tolerante: “Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo, e estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir.” A realidade da fé não é uma realidade absurda e irracional. Por isso, devemos estar sempre prontos a comunicar os fundamentos de nossas convicções, e que a exposição destes motivos seja sempre feita de maneira serena e tolerante. O cristianismo preza pela liberdade, pois é para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5, 1) e deve ser marcado pelo respeito e compreensão em relação aos que não pensam como nós ou àqueles que nos caluniam. Em uma sociedade marcada pelas polarizações e radicalismos de ideias, somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo também através da serenidade ao lidar com quem pensa diferente de nós! Nos tempos atuais essa realidade chama a atenção diante de uma sociedade que pensa e faz exatamente o contrário.

             O Senhor caminha conosco em todos os momentos. Que essa certeza de fé sustente nossa caminhada. Neste mês de maio, mês Mariano, na semana que celebramos a memória de N. Sra. de Fátima peçamos que Maria possa nos recordar sempre a presença de Deus em nosso meio para que jamais nos sintamos desamparados. Peçamos pelos que sofrem, peçamos pelos doentes, peçamos pelos desempregados, peçamos por aqueles que padecem neste momento com a solidão, para que a força restauradora do Evangelho os sustente.

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