Cuidados paliativos. No Vaticano Simpósio internacional

As religiões e a ética médica lançam as bases de uma nova aliança que promova a dignidade de todo paciente e o direito ao cuidado. O trabalho do evento incidirá especificamente sobre a saúde mental dos idosos e os cuidados paliativos das crianças.

Marco Guerra, Silvonei José – Cidade do Vaticano

Dar valor a cada vida, promover a cultura do cuidado e contrastar com a do descarte que, na velhice, aparece em todas as suas evidências mais dramáticas. Estas são as premissas com as quais mais de 250 especialistas de todo o mundo se encontrarão, nesta quarta e quinta-feiras, no Augustinianum, em Roma, para o simpósio internacional “Religião e ética médica: cuidados paliativos e saúde mental durante o envelhecimento”, organizado pela Pontifícia Academia para a Vida em colaboração com a World Innovation Summit for Health (WISH), realidade animada pela Fundação Catar.

O documento assinado pelos líderes religiosos

O grande evento está em continuidade com o compromisso da Pontifícia Academia para a Vida e do magistério do Papa Francisco que, já em 2015, aos participantes da plenária deste organismo do Vaticano disse que os cuidados paliativos “realizam algo igualmente importante: valorizam a pessoa”. Não deve ser esquecido que apenas no dia 28 de outubro passado, os representantes das três Religiões abraâmicas assinaram no Vaticano o Position Paper sobre os temas de Fim de Vida e Cuidados Paliativos.

Apresentação na Sala de Imprensa

O evento de dois dias – que conta com a presença de representantes de várias confissões religiosas, médicos, cientistas e bioéticos – foi apresentado nesta terça-feira na Sala de imprensa do Vaticano por dom Vincenzo Paglia, Presidente da Pontifícia Academia para a Vida; pela dra. Sultana Afdhal, diretora executiva da WISH; e pelo dr. Kamran Abbasi, diretor executivo do British Medical Journal.

O envelhecimento da população

Dom Paglia apresentou a iniciativa, na sequência do que já tinha sido realizado nos vários congressos da Academia para a Vida sobre este tema, “nos Estados Unidos com a assinatura de uma Declaração conjunta com a Igreja Metodista – recordou -; no Brasil, Líbano e Catar, onde em janeiro de 2018 assinei uma Declaração conjunta com a dra. Sultana Afdhal”. “Continuamos por um caminho comum com as outras religiões, colocando no centro o que temos em comum”, explicou dom Paglia, que desta forma quer oferecer uma abordagem mais ampla aos desafios do momento histórico atual, que tem a ver com o envelhecimento da população. “Viver mais 20 anos sem ter uma literatura adequada nos compromete de forma importante, isto significa que o ampliar-se da doença – continuou o prelado -, os custos da saúde são a parte mais importante dos orçamentos dos países ao redor do mundo, por isso devemos evitar que o crescente número de pessoas idosas leve a uma cultura de eutanásia motivada por questões econômicas.

O presidente da Pontifícia Academia para a Vida sublinhou, portanto, o risco da medicina ser “minada pelo crime da eficiência absoluta”, e reiterou que a perspectiva de cura recorda uma vocação específica: “Mesmo quando não se pode curar, deve-se sempre curar, estar ao lado”.

O Livro Branco sobre cuidados paliativos

Dom Paglia também anunciou que durante o Simpósio será apresentado o Livro Branco para a Promoção e Difusão de Cuidados Paliativos no mundo, preparado por um grupo internacional de especialistas. O texto está disponível em inglês, alemão e italiano – também no site da Academia para a Vida -, e está sendo enviado às Universidades Católicas e Hospitais Católicos ao redor do mundo para aumentar não só o conhecimento, mas sobretudo a prática dos Cuidados Paliativos. “Temos em comum o desejo de promover uma “cultura paliativa” – disse – tanto para responder à tentação que vem da eutanásia e do suicídio assistido, como sobretudo para desenvolver uma cultura de cuidado que nos permita oferecer uma companhia de amor até a passagem da morte”.

Foco sobre os idosos e crianças

O Simpósio focalizará também o tema da saúde mental dos idosos e a promoção do acompanhamento familiar para não deixá-los sozinhos diante da doença do seu familiar. Uma seção específica dos trabalhos é dedicada a uma área muito delicada e dolorosa: Cuidados Paliativos Pediátricos. Nesta reflexão, a grande contribuição que as religiões e a fé podem oferecer, isto é, um acompanhamento que olha para as dimensões física, emocional e espiritual de cada pessoa, será também explorada em profundidade. “Uma leitura da existência humana e da realidade que valorize a experiência religiosa – acrescentou o prelado -, nos permite ver e afirmar um bem que vai além da mera medida do cálculo”.

Dom Paglia: entrar nas faculdades de medicina

Dom Vincenzo Paglia explica aos microfones de Vatican News os objetivos e temas do Simpósio

R. – Dar dignidade científica aos cuidados paliativos. Normalmente, quando falamos de cuidados paliativos, pensamos em quando não há mais nada a fazer. Esta concepção de cuidados paliativos como uma espécie de descarte da medicina deve ser invertida. Temos de valorizar, através do próprio significado de medicina, que é curar, a concepção de paliativo que se encontra atualmente na segunda fila. Não, os cuidados paliativos devem estar na vanguarda das faculdades de medicina. E esta é a primeira tarefa que certamente envolve o envolvimento de médicos, cientistas, universidades e também políticos. E na Itália, a Academia para a Vida vai promover um encontro com diretores de faculdades em março próximo, nesta perspectiva. Esta é uma pergunta absolutamente urgente, sobretudo para evitar respostas erradas. Neste sentido, diante da perspectiva da morte, os cuidados paliativos são convidados a envolver também a dimensão espiritual e religiosa da vida humana. É por isso que, na minha opinião, é um caminho que vai muito além do simples aspecto médico.

Os senhores também vão falar sobre cuidados paliativos para crianças, o hospital Bambin Gesù está muito à frente nesta questão. Fala-se da próxima abertura de um “ala pediátrica” para isso, portando os hospitais católicos têm feito um excelente trabalho nesta matéria?

R. – De fato, já estou em contato com a doutora Enoc, precisamente para promover também na Itália e nos hospitais católicos, especialmente onde há crianças a serem tratadas, uma maior reflexão, uma maior atenção que por um lado deve ser técnica e científica, mas por outro deve ser para nós católicos uma atenção humana, religiosa, porque sabemos que Deus olha para as crianças com particular atenção.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here