Cristo Rei

    A parábola do último domingo do ano litúrgico é de fácil compreensão. Estamos em um momento solene: o julgamento final, o momento em que serão avaliadas as nossas ações e cada um de nossos atos será pesado. A parábola nos diz que, naquele momento, Deus separará uns dos outros, os bons dos maus. Tal como um pastor separa, em seu rebanho, as ovelhas das cabras. Quem é quem? Quase todos nós, ao ouvirmos a parábola, não teremos dúvida para identificar as ovelhas e as cabras. À direita, ficam as ovelhas, os justos, aqueles que passaram a vida fazendo o bem. Os que se situam à esquerda são as cabras, os maus, aqueles que se comportaram mal.
    Também não é difícil identificar os que receberam as boas ações dos bons e as más ações dos maus. Jesus deixa claro.São os mais necessitados, os últimos da sociedade, os desvalorizados e abandonados. São os que têm fome, os que vêm de fora, os que estão despidos, os que estão doentes e encarcerados. É interessante observar que os bons são bons pelo bem que deram a estes, os últimos, a quem ninguém quer nem dá valor.
    E o rei, o próprio Deus, se identifica com eles. Não diz que os bons são bons porque trataram bem os pobres, os doentes e os encarcerados. Diz que são bons porque trataram bem a Ele próprio. Deus se identifica com os pobres. Assim sempre o afirmou a tradição cristã. Aquilo que se faz aos pobres é feito ao próprio Deus. É preciso ter bom olhar para perceber nos pobres, nos  ais simples, o próprio Deus. Essa já é uma importante lição para este domingo em que concluímos o ano litúrgico. Esta é a última lição, a mais importante, o resumo de tudo quanto aprendemos durante o ano todo. Nós nos salvaremos pela maneira como tratamos Deus na figura dos pobres, dos enfermos e dos encarcerados… Eles são o sacramento de Deus para nós.
    Um último detalhe. Na hora de identificar os personagens da parábola, costuma ser fácil nos identificarmos com os pobres que precisam de ajuda, com os bons que os tratam bem ou com os maus que os deixam de lado. Mas, reconheçamos que, na prática, com quem nos identificamos, muitas vezes, é com o juiz. Agrada-nos ser juiz de nossos irmãos e irmãs, para determinar quem deveria estar à direita ou à esquerda, quem são os bons e quem são os maus. Jamais devemos ser juizes de ninguém, porque esse lugar foi reservado por Deus para si mesmo. Olhar para nós mesmos, para nossas atitudes, para a nossa consciência, esse é o modo de agir correto e agradável a Deus.