Criados na misericórdia e para a misericórdia

    Vivemos o ano da Misericórdia e o lar é um campo maravilhoso para que se exerça a misericórdia, a compreensão, o perdão como valores fundamentais a serem transmitidos nas famílias. Trata-se de um dom específico dos lares cristãos e, por isto, é também uma missão de transcendental importância para toda a sociedade da qual a família deve ser um espelho por ser dela a célula mater. Os cônjuges são criados na  misericórdia e para a misericórdia, pois um deve ser para o outro auxílio, adjutório, amparo durante toda a vida. Sem Misericórdia surgem atitudes  que podem afetar a harmonia dos casais. Quando não são afastadas com sabedoria, podem comprometer gravemente a autoestima de um dos cônjuges e martirizar inutilmente a própria existência. A falta de misericórdia, de indulgência  é uma atitude negativa que só complica a família e significa  entregar-se à insegurança. Isto  provoca muita vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis, ocasionados pela impulsividade ou pela incapacidade de conseguir  autocontrolar-se  e de se ter uma visão menos deturpada de uma situação que pode e deve ser contornada. O primeiro passo para superar um sentimento doloroso real ou fruto da imaginação é relacionar este sentimento com a valorização pessoal diante de qualquer circunstância que tenha surgido e perdoar logo, pois só Deus é perfeito. No momento oportuno uma conversa tranquila pode esclarecer qualquer situação que tenha causado aborrecimento. Em segundo lugar, é  se conscientizar que o pesar, a tristeza, o desgosto, a mágoa não podem nem devem desestruturar a própria pessoa e destruir a paz famililar. Cumpre, além disto, superar a insegurança inclusive depositando total confiança no outro sob pena de prejudicar a vida de ambos. Perpetuar, através da imaginação, uma questão que  deve ser debelada é uma trilha completamente prejudicial. É preciso continuar investindo no amor mútuo,  logo desculpando radicalmente, não deixando que algum ressentimento conduza ao desespero ou ao rompimento inteiramente desaconselhável em qualquer hipótese. Sábio o ditado: “O tempo cura todas as feridas” Adite-se o recurso sobrenatural à oração que traz paz, serenidade, imperturbabilidade, além de alcançar de Deus a solução desejada para o problema que tenha surgido. Problemas surgem para serem solucionados. Entretanto, vale também o brocardo: “Ajuda-te que o céu te ajudará!” O célebre literato Paul Claudel escreveu um tocante livro, cuja epígrafe é Qui ne souffre pas? – Quem é que não sofre? Portanto, não é o sofrimento em si que causa atitudes depressivas ou agressivas. A grande questão é sublimar sempre as aflições existenciais, dando-lhes uma aplicação transcendental e delas se servindo para o próprio amadurecimento. Resoluções firmes e arraigada confiança no porvir acompanham aqueles que encaram a vida com vistas amplas sem se deixarem trancar nos aposentos escuros da disposição de espírito que leva o indivíduo a encarar tudo pelo lado negativo, a esperar de tudo o pior. Venturosos os que não se  deixarem amesquinhar pelos receios de uma ideia  que agiganta os perigos, aumentando falsos temores. O verdadeiro cristão se mostra sempre misericordioso, ativo, empreendedor, corajoso, sem pavor das naturais dificuldades do relacionamento cotidiano. Ostenta uma atitude esperançosa em face dos problemas , considerando-os passíveis de uma solução global positiva. Desta mundividência resulta uma atitude geral ativa e confiante, cultivando uma anistia proveitosa para si e para os outros.  Infeliz quem não sabe perdoar, o tímido, o pusilânime, incapaz de vencer obstáculos. Muitos fracassam exatamente porque descuidam o cultivo das habilidades que possui, contemplando sempre obstáculos intransponíveis em qualquer momento. Vivem perenemente a reboque dos seus sentimentos agressivos, sem nenhuma iniciativa vigorosa que conduza à melhoria da própria  história  e do meio em que vive. Donde a importância da educação da vontade e da mente que devem estar sempre voltadas para desculpar o outro. Ralph Waldo Emerson, filósofo americano, proclamou que “uma lei da natureza afirma-nos que a habilidade aumenta com a prática, e que quem não tem força de vontade para agir, para perdoar não pode adquirir a perícia desejada”. Felizes só os misericordiosos, os destemidos, os otimistas,  os quais conhecem os louros da imperturbabilidade sobretudo nos lares.  Vivem o que afirmou São Paulo: “O amor tudo suporta”. Então, aqueles que ainda vão convolar núpcias, ou já vivem o sacramento do matrimônio terão sempre um lar feliz, abençoado como foi o Lar da Sagrada Família onde sempre imperou o amor, a compreensão, a bondade. Deste modo a família pode e deve ser o santuário da misericórdia, mostrando o rosto de Deus em todas as situações da vida, na vivência e testemunho da caridade  misericordiosa deste Deus que é amor infinito. Isto porque a misericórdia como o amor, dever ser uma ação viva, contínua, dinâmica e concreta. Os cônjuges foram criados na misericórdia de Deus  e para a misericórdia deste Deus que é amor! *  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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