CORPUS CHRISTI

    “O Santíssimo Sacramento é fogo que nos inflama de modo que, retirando-O do altar, espargimos tais chamas de amor que nos tornam terríveis ao inferno.” (São Gregório Nazianzeno).

             Celebramos, na quinta-feira depois da Solenidade da Santíssima Trindade, já dentro do tempo comum, a Solenidade de Corpus Christi onde é recordado toda a Nova Aliança que se adquire com o sacrifício de Jesus, memorial da sua Paixão. Nesta mesma a Aliança, Cristo “superou, dando seu pleno acabamento, todos os sacerdócios rituais e os sacrifícios do Antigo Testamento, também os pagãos. Em seu sacrifício, assume as misérias e os sacrifícios dos homens de todas as idades” (cf. O sacerdócio ministerial, I, 1 in Missal Dominical – Missal da Assembleia Cristã).

    A Solenidade de Corpus Christi surgiu numa época em que a maioria dos cristãos já havia perdido essa concepção profunda da Eucaristia e a entendia quase unicamente como um rito para fazer Cristo presente no meio de nós, como se do contrário ele estivesse ausente. Com isso, a solenidade de Corpus Christi se centra na Eucaristia como sacramento da presença real de Cristo e deixa em segundo plano (ou mesmo esquece) seu caráter de memorial do mistério pascal. Por isso se julgou insuficiente comemorar a instituição da Eucaristia (sacrifício e ceia memorial) na quinta-feira santa, pois lá não aparece em primeiro plano a ideia de presença real. Significa que Corpus Christi é uma “festa de ideia”. Explico: a liturgia comemora, no decorrer do ano litúrgico, a história da salvação, os mistérios da vida de Cristo (e não ideias). As “festas de ideias”, como da Santíssima Trindade, do Santíssimo Nome de Jesus ou de Maria, da Sagrada Família, são introduções tardias no calendário litúrgico, quando já não se compreendia mais a dinâmica histórica da revelação de Deus. Por isso era preciso encontrar uma data, mas essa data não tinha lugar na grande estrutura do ano litúrgico que se baseia na história da salvação. Daí ter-se recorrido a uma data que não estivesse tão claramente marcada pela intervenção de Deus na história humana. Assim recaiu a escolha no que hoje chamamos de “tempo comum” e que antes da reforma litúrgica do Concílio Ecumênico Vaticano II se chamava “tempo depois de Pentecostes”.

             Através da Eucaristia, devemos adorar sem medidas, pois nela está, verdadeiramente, a presença real e substancial do Nosso Senhor Jesus Cristo, afinal “não é para ficar numa ambula de ouro, que Jesus desce cada dia do Céu, mas para encontrar um outro Céu, o da nossa alma, onde ele encontra as suas delícias” (Santa Teresinha, Doutora da Igreja).

             Ora, celebrar esta solenidade, vai muito além de nossas tradições de enfeitar as ruas com belíssimos tapetes para “que o Rei da glória possa entrar” (Sl 23), mas de agradecer e “retribuir ao Senhor Deus, por tudo aquilo que ele fez em meu favor” (Sl 115), pois Cristo, “pela sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança” (Hb 9) em expiação dos nossos pecados.

             Nestes tempos de pandemia da COVID-19 é muito salutar nos colocarmos diante do Senhor em profunda adoração. Diante de nós deve sempre ressoar o chamado do Senhor: “Graças e louvores se deem a cada momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!”

             E, toda vez que estiver diante do Altíssimo, transubstanciado na Eucarística, lembre-se: “Eis aqui o tesouro da Igreja, o coração do mundo, o penhor da meta pela qual, mesmo inconscientemente, suspira todo o homem.” (São João Paulo II).

     

    Verbum caro factum est. Verbum panis factum est!

    Saudações,

     

    Dom Eurico dos Santos Veloso

    Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

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