COP 26: ATENÇÃO PARA A AMAZÔNIA, DE ONDE A IGREJA NÃO TIRA OS OLHOS E OS PÉS

A emergência climática no planeta tem uma profunda relação com a preservação da Amazônia e o cuidado dos seus povos. E a Igreja está atenta e comprometida com essa causa, a partir de seu mandato de anunciar e ajudar a construir o Reino de Deus. A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 2), em Glasgow, na Escócia, ocorre dois anos após o Sínodo para Amazônia (2019), ocasião em que se pôde refletir sobre os “novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

A Igreja está na Amazônia e tem se preocupado com os perigos do desmatamento, dos impactos dos grandes projetos de exploração e as ameaças que as populações originais têm sofrido no decorrer dos últimos séculos. O arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner, em entrevista publicada no site da Rede Eclesial Pan-Amazônica do Brasil (Repam-Brasil), considera que a insistência da Igreja na Amazônia, o Sínodo da Pan-Amazônia, o texto pós-sinodal Querida Amazônia, tudo isso está a indicar “o caminho comum” no contexto da contribuição do bioma frente às ameaças das mudanças climáticas.

“Existe um patrimônio cultural, religioso, social, ambiental a ser cultivado. A Igreja que está na Amazônia deve ser capaz de suscitar novos caminhos, renovar as estruturas, organizações sociais, incentivar ordenamentos jurídicos que preservem o meio ambiente, mostrar a beleza, a poesia, a arte da Amazônia”, acredita.

Participante da conferência do clima de Paris (COP 21), dom Leonardo afirma ser urgente uma mudança de cultura ambiental, no mundo, mas especialmente no Brasil. “Na COP, há necessidade de metas mais ambiciosas a curto prazo, um fundo ecológico que ajude na preservação das florestas e na recomposição das mesmas, na urgente despoluição do ar e das águas (saneamento básico)”.

Para ele, os países devem buscar educar para a ecologia e despertar para o cuidado da casa comum para que haja a “chance de uma terra também habitável no futuro”.

Um caminho sofrido e alentador, assim define Dom Leonardo Steiner o percurso das Conferências climáticas.

Compromissos

Após os chefes de Estado de mais de 100 países se comprometerem a zerar o desmatamento até 2030, com o auxílio de um fundo de US$ 19 bilhões, e também um acordo para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, em relação aos níveis de 2020, diplomatas, ativistas e investidores continuam em Glasgow até o dia 12 de novembro. Esses representantes de governos, empresas e sociedade civil debatem a crise climática global e soluções para limitar o aquecimento do planeta em 1,5°C.

Para dom Leonardo, está em jogo toda a obra criada e toda a humanidade: “Somos chamados a caminhar juntos. O isolamento, a ideologia fechada leva à morte e pode levar à destruição do planeta terra”.

A Amazônia como ponto chave

Em carta sobre os dois anos do Sínodo para a Amazônia, o cardeal Michael Czerny, subsecretário da Seção de Migrantes do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano, que atuou como secretário especial de 2019, sustenta que é fundamental “aprender que a sensibilidade para com a terra e seu povo, com sua relação orgânico-espiritual com a Mãe Terra, é um fator mais significativo do que outras características funcionais, instrumentais ou institucionais da Igreja”.

O Cardeal Michael Czerny, Subsecretário da Seção de Migrantes do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, compartilha sua mensagem no segundo aniversário do Sínodo Amazônico, do qual foi Secretário Especial nomeado pelo Papa Francisco: Card.

Assim, a relevância da Amazônia é central: “Outros países e regiões precisam avaliar a importância da Amazônia, abordar como suas opções de consumo contribuem para o perigoso estado da Amazônia e enfrentar suas próprias questões análogas localmente”.

Dom Leonardo Steiner, na entrevista à Repam, segue na mesma linha, ao afirmar que a Igreja chama atenção de que a Amazônia não serve a um grupo econômico, mas a todos os brasileiros, a toda a humanidade. O bioma, continua o arcebispo brasileiro, “tem uma incidência enorme quanto ao equilíbrio do meio ambiente do planeta terra”.

É por isso que a Igreja “estará junto aos povos originários ajudando a conservar as suas culturas e aprender com eles”. Ela buscará “se inculturar e inculturar a espiritualidade, a fé. A Igreja da Amazônia caminha na esperança; de esperança em esperança! Apesar de todas as agressões e destruições, ela mantém viva a esperança de um futuro melhor, imagem do Reino que anuncia”.

“Uma das grandes graças deste Sínodo estava escondida em seu título ou tema: “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Assim como o próprio povo amazônico, todos nós somos cidadãos ao mesmo tempo da Igreja e do mundo, necessitando de ambos, amando a ambos, cuidando de ambos.

Libertar os outros de suas formas de escravidão certamente envolve cuidar do meio ambiente e defendê-lo, indica a QA 41; mas, mais ainda, ajudar o coração humano a se abrir com confiança a Deus que não só criou tudo o que existe, mas também nos deu a si mesmo em Jesus Cristo”.

–  Cardeal Michael Czerny

“A COP26 pode e deve contribuir ativamente para a construção consciente de um futuro onde as condutas cotidianas e os investimentos econômico-financeiros possam realmente salvaguardar as condições de uma vida digna da humanidade de hoje e de amanhã num planeta ‘saudável'”,

Novo ciclo

Em artigo publicado nesta sexta-feira, o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo analisa os ecos da 26ª Conferência do Clima. Para o arcebispo, a COP-26 precisa abrir um novo ciclo em que as propostas apresentadas por líderes governamentais sejam cumpridas ante às urgências climáticas que “ardem na pele” da população.

“Há de crescer, mais aceleradamente, a sensibilidade para escutar os clamores dos pobres e da casa comum. Assim, sejam edificadas ações que ultrapassem a contemplação de interesses egoístas e a busca pelo enriquecimento predatório. É hora de construir entendimentos a partir do diálogo, para corrigir descompassos que levam a um desenvolvimento parcial e excludente”, indica dom Walmor.

Dentre os desafios, o presidente da CNBB sustenta que se busque reconhecer a importância dos povos indígenas, “na sua sabedoria inigualável na conservação ambiental, para ir além dos interesses oligárquicos minerários ou agropecuários. Um exercício urgente quando se sabe das movimentações para derrubar o marco temporal constitucional, em nome de ambições que desconsideram não somente os povos indígenas, mas também o equilíbrio do ecossistema na casa comum”.

“A COP-26 precisa ser real sinal de esperança e abrir um novo ciclo no planeta, balizado por solidariedade e respeito. Não se pode perder tempo, pois são urgentes novas posturas, rigoroso zelo para evitar retrocessos na preservação ambiental, buscando sempre defender a vida no planeta. Os ecos da COP-26 inspirem profunda mudança no Brasil e no mundo, para que a humanidade viva um desenvolvimento integral e sustentável”.

Leia o artigo na íntegra:

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