Considerações sobre a ressurreição de Jesus

    Nas narrativas dos Evangelistas as aparições do Ressuscitado, provas, aliás, de que Jesus havia vencido a morte, Ele se apresenta com seu corpo glorioso. É plenamente corpóreo como explicou o Papa emérito Bento XVI no seu livro “Jesus de Nazaré”, mas não estava mais ligado às leis do espaço e do tempo. Ele saiu do túmulo “para a vastidão de Deus e é a partir dela que Ele se manifesta aos seus”.
    É lógico que, embora o fato do sepulcro vazio ter sido um indicativo claro de que Ele estava vivo, num primeiro instante era preciso ressaltar a corporeidade do Redentor glorioso e suas aparições não foram alucinações por parte das pessoas às quais Ele se manifestou.
    São Lucas inclusive narrou que Ele à frente dos discípulos comeu uma porção de peixe asado (Lc 24,43). Para uma melhor compreensão deste fato, já que Jesus não estava mais numa corporeidade empírica, vale, analogicamente, considerar o que se dá na hora da Comunhão. A Hóstia consagrada é o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo sob as espécies eucarísticas. Aquele que comungou não percebe isto sensivelmente, mas apenas espiritualmente. Na verdade uma presença reduplicada: Ele no fiel e o fiel nele: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Os efeitos desta união não são físicos, mas ultrapassam o que é material, sem se ligar às leis cósmicas. Trata-se da união mística com Jesus. Recebe o comungante a linfa vital da graça. Assim deve ter acontecido com Cristo resultado ao tomar o alimento o qual em nada agiria como tal em seu ser que já havia conhecido um “salto ontológico”.
    Deste modo, as aparições de Jesus após sua ressurreição não significam que os evangelistas o tenham reposto numa situação inteiramente idêntica ao estado em que se achava o Verbo Encarnado antes de sua morte.
    Estas considerações visam responder àqueles que levantam questões exatamente atinentes ao Ressuscitado e suas aparições aos apóstolos antes de Sua admirável Ascensão aos céus.
    Entretanto, o importante em tudo isto é a fixação da realidade da presença do Salvador vitorioso junto dos que nele crêem. Ele esta a dizer a cada um de nós:”Eu ressuscitei e estou contigo” Jesus não está longe, mas perto dos que têm fé.
    Com seu poder onipotente Ele supera o espaço e o tempo. Entrou onde estavam os discípulos e as portas estavam fechadas.
    Eis por que São Paulo que viveu intensamente a presença de Jesus glorioso afirmou: “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 1,20).
    Lembra o Papa emérito Bento XVI que “o cristianismo é presença: dom e dever; sentir-se compensado pela proximidade interna de Deus e, com base nisto, dar ativamente testemunho em favor de Jesus Cristo”. Jesus está vivo e junto de cada um que O ama e nele confia. Ele é verdadeiramente o Filho de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade que se encarnou, sofreu pela redenção do mundo e venceu a morte ressuscitando imortal e impassível.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.