Confidências e Inconfidências

    Continua causando especulações o livro do ex-presidente do Uruguai, José Mujica. O título desta obra é bem significativo: “ Una oveja negra al poder”. Personagens importantes pelos cargos que ocupam ou ocuparam estão vindo à tona e com perspicácia ou ingenuidade o autor lançou ao ar especulações. No que tange a declarações de políticos brasileiros muitas questões já intrigam os patrícios há muito tempo. A principal delas é se os governantes do primeiro escalão da República sabiam ou não sabiam da corrupção existente carcomendo o dinheiro público nos últimos anos. Qual a finalidade real das quantias vultosas que foram desviadas e embolsadas, é outra pergunta ainda não respondida apesar dos inquéritos que se multiplicam. O certo é que confidências foram feitas ao então governante da antiga Província Cisplatina por pessoas graúdas. Agora a hermenêutica dos interessados tenta interpretar o que foi dito ou não foi dito e como foi dito. Até onde se estendeu a discrição ou a insensatez do escritor platino, eis a questão.  A Bíblia aconselha: “Maldito seja o homem que confiar em outro homem”, como se lê no livro do profeta Jeremias. Musset, dramaturgo francês, afirmou com razão: “Nenhum segredo sobre a Terra é segredo por muito tempo”. A verdade é que da boca ao ouvido e deste ao papel a caminhada da confidência é rápida e, às vezes, fulminante. Aliás, Calderón de la Barca, poeta espanhol, deixou este conselho: “ Ninguém confie seu segredo ao mais sagaz e ao melhor amigo, pois  um segredo, ainda que com a melhor intenção está em perigo e ninguém se livra de um perigo por si mesmo preparado”. Isto é tanto mais importante quando conversas, sobretudo, com personagens ilustres podem estar regada com bebidas espirituosas. Com razão, porém, Jean de La Bruyère, moralista francês, declarou que “Toda revelação de um segredo ocorre por culpa de quem o confiou a outrem”. Seja como for, se, realmente, foi dito que sem conviver com a corrupção não se governa um país, trata-se de uma afirmativa bem a modo de Pôncio Pilatos. Com efeito, ficou subtendido que o governante é completamente inocente, os subornados e subornadores é que são os únicos execráveis. O certo é que é necessário, porém, sempre denunciar os corruptos sejam eles quem forem. Protestar com veemência contra as injustiças, o assalto aos cofres públicos.  Um senso crítico apurado lutará ininterruptamente contra o ufanismo dos vaidosos, o messianismo dos falsos salvadores da Pátria, o ilusionismo dos sofistas, do golpismo dos oportunistas.
    Como diz o bordão de certo apresentador de televisão: “Nunca é tarde para passar o Brasil a limpo”.
    De fato, a palavra da moda continua a ser “corrupção” e as CPIs que foram instaladas confirmam esta triste realidade de uma das fases mais dramáticas da vida republicana brasileira. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.