A pandemia de Covid-19 afetou seriamente várias pessoas no mundo todo por causa do estresse e da ansiedade. E parece que o fim ainda está distante. Por isso é importante que hoje mais do que nunca os católicos estejam atentos ao cuidado com sua saúde mental, física e espiritual.
Em uma entrevista recente ao National Catholic Register, o psicólogo Kevin Vost, autor de 12 livros sobre psicologia, crescimento espiritual e catolicismo, compartilhou alguns conselhos para ajudar a manter a saúde menta e espiritual em meio à pandemia de coronavírus.
Vost explicou que “a saúde mental e espiritual com frequência estão estreitamente entrelaçadas” e que a segunda incide positivamente na primeira, mas “pode haver distinções muito importantes.”
Para a psicologia, “a saúde mental basicamente implica que nossos pensamentos emoções e comportamentos se mantenham em linha com a razão correta, ou em contato com a realidade, de tal maneira que possamos viver nossas vidas e cumprir nossos papéis e deveres de maneira efetiva sem uma angústia indevida”, disse.
“Quanto à saúde espiritual, creio que se pode ver como a forma como dirigimos nossas capacidades ou poderes mentais e corporais, em qualquer estado em que se encontrem, ao amor de Deus e ao cumprimento de sua vontade e mandamentos”, disse.
Para Vost, os estudos demonstraram que “os que têm uma fé religiosa mais forte e práticas religiosas mais ativas, que poderiam indicar maior saúde espiritual, tendem, em geral, a ter melhor saúde mental também”.
“Os transtornos mentais podem surgir por muitas causas e geralmente são interações entre as predisposições genéticas de uma pessoa e o estresse particular ou as situações estressantes em que se encontra”, explica o psicólogo. “Só porque uma pessoa sofre de um transtorno mental não significa necessariamente que seja espiritualmente apática. Assim, uma pessoa que se sinta deprimida ou pressionada não deve dizer: ‘Devo ter me afastado de Deus’. Esse não é necessariamente o caso.”
Segundo Vost, “uma pessoa que confia e espera em Deus, ainda que passe por dificuldades mentais, pode sair de um episódio depressivo mais forte do que nunca e, tendo-o suportado, talvez emerja com esperança e com maior compaixão por outras pessoas eu também sofrem.”
Os principais desafios psicológicos que os católicos sofrem durante a pandemia, disse o psicólogo, são a ansiedade e a solidão.
Mesmo antes da pandemia, ressalta Vost, vários pesquisadores e médicos avisavam que haveria uma “epidemia de solidão”, por causa do “número cada vez maior de pessoas que afirmavam que não se sentiam intimamente conectados com as pessoas que os rodeavam ou que não faziam parte de uma rede social mais ampla.”
Esse problema foi seriamente agravado com o distanciamento social imposto por causa da pandemia. “Conforme aumenta a ansiedade ou a solidão”, algumas pessoas correm o risco de ter depressão e também “um estado constante de ânimo deprimido”, disse o psicólogo.
Em relação à saúde da alma, o psicólogo disse que um dos maiores perigos espirituais atuais pode ser a preguiça ou uma sensação geral de apatia espiritual que podem surgir quando os católicos não podem ir à missa e frequentar os sacramentos.
Pelas restrições legais em alguns países ou pelo medo de contrair a Covid-19, as pessoas correm o risco de perder o hábito de ir à missa e receber os sacramentos. “Essas preocupações mundanas substituem lentamente a Deus, já que, em certo sentido, desaparece da vista e da mente”, ressaltou.
Por isso, o psicólogo católico deu alguns conselhos para manter a saúde mental e espiritual neste contexto:
Use o tempo livre para criar hábitos saudáveis
A pandemia gera uma “espécie de oportunidade” que se pode aproveitar: o maior tempo disponível para si mesmo.
Isso, “em certo sentido, nos deu uma oportunidade de ser um pouco menos como Marta e um pouco mais como Maria, ao nos dar mais tempo para refletir, de forma que não estejamos ansiosos e preocupados com muitas coisas, mas que estejamos focados nas coisas necessárias de Deus”, disse.
O psicólogo disse que a primeira coisa é reconhecer que “não se pode fazer todas as coisas que se costumava fazer antes”. O passo seguinte é perguntar-se quais são realmente as coisas mais importantes. “Posso usar esse tempo para me aproximar de Deus?”
“Devemos pensar nessas oportunidades para estabelecer alguns hábitos sólidos que nos aproximem de Deus através de nosso amor a Ele e também através do cuidado adequado conosco e o amor ao próximo”, observou.
É uma oportunidade de pensar sobre “como se pode fazer disso uma experiência positiva para ficar menos acelerado, concentrar-se no que importa e depois manter esses hábitos e persistir neles quando todas essas restrições tiverem terminado”, disse Vost.
Aproveite a solidão para se aproximar de Deus
Ao longo da história, alguns dos maiores santos fortaleceram sua confiança em Deus através de períodos de solidão. No meio do isolamento pode-se aproveitar a solidão para nos aproximarmos de Deus. “Ao ficar menos distraídos por todos os ruídos do mundo, talvez possamos estar em melhores condições para escutar a voz suave e apaziguadora de Deus”, disse.
Reserve um momento desses dias “para realizar uma leitura espiritual e rezar, ou para informar-se em meios de comunicação católicos”, sugeriu o psicólogo.
Na vida espiritual, ajuda “estabelecer um padrão ou hábito”, diz Vost, “então veja a situação de sua própria vida e se pergunte se há formas de melhorar sua vida de oração, seu crescimento no conhecimento da fé, para que sejam continuados quando o mundo voltar, com sorte, à normalidade”.
O psicólogo contou que para ele ajuda muito ler os primeiros versículos da Epístola de São Tiago, que diz “Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência.”
A esperança em Cristo é “a esperança de que alcancemos o céu, que algum dia estaremos lá em bem-aventurança com Deus e que Deus nos dará todas as graças para chegarmos lá”, acrescentou. “Tenha isto em mente: Deus esta aí para nós. Então, mesmo em tempos de luta, as graças estão disponíveis.”
Transmita esperança a seus filhos e passe tempo com eles
Uma das melhores coisas que podem fazer os pais é transmitir aos filhos que apesar das dificuldades “ainda há alegrias na vida, que ainda podemos apreciar nosso tempo como família juntos, que Deus está sempre conosco, isso pode ajudá-los muito.”
Não é bom “nos queixar constantemente dos problemas” ou transmitir a nossos filhos uma sensação de preocupação e perigo”, explicou.
O psicólogo recomendou desfrutar o tempo livro em atividades interativas e alegres com os filhos e sugeriu como meta diminuir o tempo diante das telas e aumentar o tempo de interação social.
Seja empático com quem pensa de modo diferente sobre a Covid-19
Vost diz que os últimos anos viram uma polarização política maior e que agora ela se dá em relação à Covid-19. Um extremo “praticamente não toma precauções ou quase finge que não existe”, e o outro pensa que a pandemia “é quase viver como recluso”. No entanto não se deve demonizar, mas ser empático com todos.
Mantenha contato com os mais velhos
Segundo o psicólogo, os mais afetados pela crescente epidemia de solidão são os mais velhos. Por isso sugeriu que quem tenha familiares ou amigos em asilos pense em meios de ficar em contato, já que a proximidade física e desaconselhável no momento.
Pode-se telefonar todos os dias, por exemplo. Vost contou que ligava todas as noites para sua mãe enquanto lavava a louça e “ter esse contato diário significava muito para ela.”