A Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou no dia 12 de abril, a publicação anual, Conflitos no Campo Brasil 2018. É a 34ª edição do relatório que reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro em 2018, neles inclusos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais. O lançamento ocorreu na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), com participação dos representantes de membros do Conselho Nacional e da coordenação executiva da pastoral.
Em nome da presidência da CNBB, o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da entidade, dom Leonardo Steiner, acolheu aos participantes presentes no lançamento do relatório. O secretário-geral da CNBB afirmou ser importante refletir sobre o aumento da violência no campo e destacou que o relatório não é apenas da CPT mas da Igreja no Brasil que está atenta às questões que afligem os irmãos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e sem terra.
Segundo o bispo de Ruy Barbosa (BA) e presidente da CPT, dom José de Witte, o número de mortos decorrentes de conflitos diminuiu mas em contrapartida aumentou o número de lideranças assassinadas. Dom José destaca o caráter científico do trabalho e do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno, traduzido em números coletados pelo trabalho de base da pastoral e também nas análise de especialistas.
O Relatório Conflitos no Campo Brasil 2018 registrou 1.489 conflitos em 2018 ante os 1.431 de 2017, o que representa um aumento de 3,9%. A maioria destes conflitos, segundo Antônio Canuto, jornalista e colaborador da CPT, estão concentrados na região amazônica. Eles somam um total de cerca de 1 milhão de pessoas envolvidas, um aumento de 35,% em relação a 2017 que registrou o envolvimento de 708.520 pessoas envolvidas.
A representante do Grupo Nacional de Assessoria (GNA) da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Diana Aguiar, reconheceu a importância do relatório. “O caderno em sua trajetória é uma memória da memória que a história não conta”, disse. Esse registro, em função das séries históricas, é importante para manter esta memória, afirmou.
O relatório mostra que 2018, com 276 casos registrados, é o ano com o maior número de conflitos por água desde que a CPT começou o registro em separado dos conflitos por terra no ano de 2002. 73.693 famílias estão envolvidas nesses 276 conflitos por água; 85% delas são comunidades tradicionais. O número de conflitos é 40% maior do que em 2017 e o de famílias envolvidas, 108% maior.
Outros dados que chamam a atenção – 2.307 famílias foram expulsas do território. Esse número é 59% maior que o de 2017. Para a metodologia da CPT, expulsão é o ato de retirar da terra seus ocupantes, sem ordem judicial (despejo). Nesses casos, os responsáveis pela expulsão são, geralmente, fazendeiros, empresários, o su¬posto dono que, por conta própria, obriga as famílias a sair, principalmente através da pressão de jagunços e, muitas vezes, com a par¬ticipação ilegal da própria polícia. Em grande parte, a expulsão se dá em terras griladas.
O relatório deste ano busca homenagear a luta das mulheres pelo reconhecimento do trabalho na defesa de direitos da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro, em março de 2018 e da irmã Alberta Girardi, religiosa da Congregação das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade (Orionitas) com destacada atuação junto aos sem terra e aos sem teto. A irmã faleceu em 30 de dezembro de 2018.
O bispo de Ruy Barbosa (BA) e presidente da CPT, dom José de Witte, o bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, Antônio Canuto, jornalista e colaborador da CPT, a doutora em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Grupo Nacional de Assessoria (GNA) da FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), Diana Aguiar participaram da mesa de apresentação dos dados do relatório.
Os dados podem ser acessados na página da Comissão Pastoral da Terra: https://www.cptnacional.org.br