De 31 de janeiro a 2 de fevereiro, a Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove, no Centro de Convivência Mãe do Bom Conselho, em Jundiaí (SP) o Simpósio Ecumênico 2020. O tema desta edição é: “Violência em nome de Deus? Em tempos de ódio, injustiça e indiferença, educar para a paz”.
“Um dos aspectos peculiares da maioria dos conflitos contemporâneos é a aparente, e por vezes, drástica associação entre violência e religião. Em várias religiões do mundo, a religião é usada e manipulada incorretamente para justificar conflitos, agressões e assassinatos deliberados a seres humanos”, diz trecho do documento “Educação para a Paz em um mundo multi-religioso: uma perspectiva cristã”, do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, usado no material de divulgação do evento.
Segundo o bispo de Cornélio Procópio (PA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB, dom Manoel João Francisco nos últimos tempos a intolerância religiosa tem crescido no mundo inteiro e no Brasil não tem sido diferente. “Lugares de culto, especialmente de religiões de raízes afro, têm sido profanados”, disse.
Somente na região do Grande Rio, mais de 200 comunidades encontram-se sob ameaça apontou o ogan Rafael Soares de Oliveira, secretário de Koiononia. Ele fez o seguinte desabafo: “Saímos da clandestinidade nos anos 80 e agora de novo estamos vivendo a liberação do Estado para que nos matem, nos eliminem, voltando à segregação e nos colocando a necessidade de pensar se não vale a pena estar de novo no anonimato, porque estar na agenda pública tem sido uma ameaça e não uma proteção”.
Fraternidade humana
Dom Manoel alerta que esta situação tem preocupado as igrejas e organismos interessados no Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso. Ele informou que no dia 4 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb assinaram um documento intitulado: “A Fraternidade Humana. Em Prol da Paz Mundial e da Convivência Comum”.
Neste documento, reforça dom Manoel, os signatários declaram que “as religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismos, nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. O documento aponta ainda segundo o presidente da Comissão de Ecumenismo que estas calamidades são fruto de desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de homens que abusaram da influência do sentimento religioso sobre os corações dos homens para levar à realização daquilo que não tem nada a ver com a verdade da religião, para alcançar fins políticos e econômicos mundanos e míopes.
“Por isso, pedimos a todos que cessem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego e deixem de usar o nome de Deus para justificar atos de homicídios, de exílio, de terrorismo e de opressão”, aponta o documento.
Ainda, em maio de 2019, o Conselho Mundial de Igrejas juntamente com o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso publicaram um documento intitulado: “Educação para a Paz em um Mundo Multirreligioso: Uma Perspectiva Cristã”. Nele, entre tantas recomendações, pede-se para rezar pela paz. “A oração desperta a nossa consciência, espanta os medos internos, cura as feridas, desarma a violência, derruba os muros da inimizade, facilita os atos de desculpa e perdão, traz reconciliação, abre o coração aos gritos de sofrimento, incita-nos a erradicar os pecados sociais, permite-nos ver todos como irmãos e irmãs e transforma-nos em construtores da paz.
Para dom Manoel, esta realidade e estas exortações justificam a escolha do tema do Simpósio deste ano de 2020, promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da CNBB. O Simpósio Ecumênico terá como conferencistas o Pastor Rudolf Von Sinner, pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, professor de Teologia Sistemática e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC Paraná e o professor Luiz José Dietrich, professor da PUC Paraná e assessor nacional do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi).