Colômbia: referendo, não ao acordo de paz com as Farc

Bogotá (RV) – O povo colombiano rejeitou o acordo de paz entre o Governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no plebiscito realizado neste domingo (02/10).

Com 99,8% das urnas apuradas, o ‘não’ obteve 6.429.730 votos, que equivalem a 50,23% do total, enquanto o ‘sim’, que começou liderando a apuração, alcançou 6.370.274, que representam 49,76%, de acordo com o Registro Nacional do Estado Civil. Todavia, este resultado não impede o prosseguimento do caminho rumo à paz.

A nossa emissora entrevistou o professor de Relações Internacionais da Universidad del Norte com sede em Barranquilla, Jairo Agudelo Taborda.

Prof. Taborda: “Existem diferentes variantes que determinaram este resultado. Aqueles que votaram ‘não’ o fizeram para pressionar seus líderes a fim de busquem a todo custo não desperdiçar o acordo alcançado, mas melhorá-lo. Portanto, se existe algo de positivo, considerando as declarações que fizeram tanto os líderes do ‘sim’ quanto os líderes do ‘não’, digo que se abre uma janela menos trágica do quanto se esperava se vencesse o ‘não’, como de fato aconteceu. Este não é um ‘não’ ao acordo de paz, mas um ‘sim’ para buscar melhorá-lo, envolvendo o Governo e também a comunidade internacional. Houve um dado que a meu ver não foi irrelevante: a grande abstenção. Votaram 38% do corpo eleitoral, com 62% de abstenção. Este é um dado que realmente me entristece.”

Muitas críticas em relação a este acordo voltavam para o fato de que tinha sido usada uma mão muito pesada contra os ex milicianos que tinham se manchado de crimes, até mesmo graves…

Prof. Taborda: “Este foi um ponto muito discutido, mas não tem fundamento, porque a anistia cobre somente um pequeno grupo de delitos menores, delitos políticos. Ao invés, para aqueles que são responsáveis por delitos considerados maiores, existem penas de 5 a 20 anos de prisão ou outras maneiras de limitação da liberdade, com penas alternativas. Se compararmos os parâmetros de justiça que aplicado pelo ex presidente Uribe aos paramilitares, em que a pena menor era de 4 anos e a maior 8 anos, podemos entender que existe uma grande diferença. E mais, este pacote de justiça de transição foi avaliado pela Corte Penal Internacional, várias instâncias e tribunais, mesmo porque o direito internacional não prevê um limiar de penas, sendo esta uma justiça de transição e a transição depende muito dos contextos. É claro que este ponto seja reivindicado por aqueles do ‘não’ porque acreditam não ser capazes de negociá-lo.”

Na população colombiana existe o desejo de virar realmente página em relação a este fato tão doloroso para todo o país?

Prof. Taborda: “Digo que me surpreendeu a abertura expressa no discurso de Uribe. Existem duas posições muito interessantes. Primeira, o presidente Santos disse não renunciar, porque se temia a sua demissão, e de ir em frente, convocando a amanhã uma reunião, incluindo o Partido de Uribe, para convidar para uma unidade nacional, para negociar, partindo do acordo já alcançado, e buscar melhorá-lo, chegando a uma renegociação com as Farc. A segunda, é que também as Farc se disseram dispostas a rediscutir. Portanto, se algo existe algo a ser salvo é esta abertura a uma comissão de unidade nacional que torna menos negativo este resultado, mesmo porque, se não se consegue formar uma comissão de unidade nacional, corre-se o risco de polarização extrema.”

 

Fonte: Rádio Vaticano

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