Cinco segredos de santidade

    A exortação que o Papa faz para que o mundo se santifique não é uma cartilha de segredos revelados, mas um manancial de paz e amor para o homem contemporâneo. Em seu quarto capítulo, “Alegrai-vos e exultai” deixa pistas, em especial cinco regras básicas, para uma vida mais afeita aos planos de Deus. Cito-as de chofre, se você por elas se interessou. Primeiro, ter uma vida capaz de suportar as contrariedades, com paciência e mansidão. Segundo, viver com alegria e sentido de humor. Terceiro, ter ousadia e ardor naquilo que de melhor faz. Quarto, viver o espírito de comunidade e, por último, viver em oração constante. Isso é o básico.

    Nenhuma dessas regras teriam valor se antes inexistisse a fé. Nem se esta observância fosse uma das “tantas formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus que reinam no mercado religioso atual” (111), alerta o Papa. Bem lembra o quão distante estamos de uma religiosidade liberta de tantos e tantos vícios e contradições, que nos aproxima daquele “covil de ladrões” execrado e denunciado por Jesus diante dos vendilhões do Templo. O termo “mercado” é bem apropriado ao caso. Santidade não se vende, nem se compra.

    Mas suportar tudo isso com fé e coragem é “a fonte de paz que se expressa na atitude de um santo” (112). “Esta atitude não é sinal de fraqueza, mas da verdadeira força, porque o próprio Deus é paciente e grande em seu poder (113). Então, eis a realidade dos dias atuais: “Pode acontecer que os cristãos façam parte de redes de violência verbal através da internet”. “É impressionante como, às vezes, pretendendo defender outros mandamentos, se ignora completamente o oitavo, “não levantar falso testemunho” (115). Alguém discorda? Porém a paciência que Ele nos pede não é humilhação pura e simples. “A santidade que Deus dá à sua Igreja, vem através da humilhação do seu Filho” (118). Sua mansidão “não é caminhar com a cabeça inclinada, falar pouco ou escapar da sociedade” (119). Isso tem outro nome, fuga, covardia.

    Porque ser santo, antes de tudo, é ser feliz. É saber se relacionar, se posicionar, marcar presença, questionar. É ser alegre onde quer que esteja. “O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor” (122). O anúncio do Messias, desde sempre, foi uma notícia alegre. “Maria, que soube descobrir a novidade trazida por Jesus, cantava: o meu espírito se alegra…” (124). “Quando Ele passava, a multidão se alegrava (Lc 13). Porque a tristeza não tem espaço no coração de um devoto. “O mau humor não é um sinal de santidade” (126).

    A ousadia é rótulo da fé. Os apóstolos saíram daquela sala pentecostal com alegria no olhar e ousadia no coração. Eram impelidos “a anunciar Jesus Cristo com ousadia, entusiasmo, ardor apostólico” (129). Simplesmente porque “a ousadia e a coragem apostólica são constitutivas da missão” (131) que se abre para a realidade do mundo. “Lembremo-nos disto: o que fica fechado acaba cheirando a mofo e criando um ambiente doentio” (133). E missão é uma explosão da vida comunitária autêntica, que se deixa contagiar e contagia com o impulso de uma boa nova. Exatamente essa é a quarta regra: vida em comunidade. Porque “a santificação é um caminho comunitário”. Porque “viver e trabalhar com outros é, sem dúvida, um caminho de crescimento espiritual (141). Porque na comunidade se valorizam detalhes. A necessidade do vinho, a ovelha que falta, a dádiva da viúva, o azeite na reserva, os pães que possuem, a fogueira e o peixe na grelha. “A comunidade que guarda os pequenos detalhes é lugar da presença do ressuscitado, que a vai santificando” (145).

    Nisso tudo, nos falta o essencial: sintonia. A oração constante é o grande segredo da vida santificada. “O santo é uma pessoa com espírito orante, que tem necessidade de comunicar com Deus” (147). Não necessariamente dirigir-lhe súplicas e louvores, mas também e sobretudo a oração da intercessão e solidariedade, da confiança em uma resposta positiva que nossa voz possa exigir de Deus. E atenção às respostas. “Se não escutamos todas as nossas palavras serão apenas rumores que não servem para nada” (150). Santificado seja…

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