Em 1984, o papa são João Paulo II reuniu-se em Roma com 300 mil jovens de todo o mundo, num encontro que lançou as bases para a atual Jornada Mundial da Juventude. | Gregorini Demetrio, CC BY-SA 3.0 via Wikimedia Commons
São João Paulo II foi o segundo papa com mais tempo de governo na história moderna, com 27 anos de pontificado, e foi o primeiro papa não italiano desde o papa holandês Adriano VI em 1523.
Mas você sabia que ele também mudou a Igreja para sempre em 27 anos? A seguir, cinco maneiras pelas quais ele fez isso:
1. Ele ajudou a causar a queda do comunismo na Europa oriental em 1989
O escritor americano George Weigel, biógrafo oficial do papa, que por décadas registrou o envolvimento do papa com líderes civis, diz que a maneira como o papa João Paulo II influenciou o cenário político foi enorme. Sua influência política é vista melhor na maneira como seu envolvimento com líderes mundiais ajudou na queda da União Soviética.
Poucos dias antes do presidente dos EUA, Ronald Reagan, pedir ao presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev para “derrubar” o muro de Berlim, ele se encontrou com o papa. Segundo o historiador e autor Paul Kengor, Reagan chegou a chamar o papa são João Paulo II de seu “melhor amigo”, ao dizer que ninguém conhecia sua alma melhor do que o papa polonês que também sofreu uma tentativa de assassinato e carregou o fardo da liderança mundial.
No decorrer de 38 visitas oficiais e 738 audiências e reuniões com chefes de Estado, são João Paulo II influenciou líderes civis ao redor do mundo na batalha épica contra um regime responsável pela morte de mais de 30 milhões de pessoas.
“Ele se considerava o pastor universal da Igreja Católica, ao lidar com atores políticos soberanos que estavam tão sujeitos à lei moral universal quanto qualquer outra pessoa”, disse Weigel.
“Ele estava disposto a assumir riscos, mas também achava que a prudência é a maior das virtudes políticas. E acho que ele era bastante respeitado pelos líderes políticos mundiais por causa de sua integridade transparente. Sua atitude essencial em relação a esses homens e mulheres era: Como posso ajudar você? O que posso fazer para ajudar?”
Mais do que tudo, João Paulo II entendia seu papel principalmente como um líder espiritual.
Segundo Weigel, o impacto primário do papa no mundo dos negócios foi seu papel central na criação da revolução de consciência que começou na Polônia e varreu a Europa oriental. Essa revolução de consciência inspirou a revolução não violenta de 1989 e o colapso do comunismo na Europa central e oriental, uma conquista política espantosa.
2. Ele beatificou e canonizou mais santos do que qualquer predecessor, tornando a santidade mais acessível às pessoas comuns
Um dos legados mais duradouros de são João Paulo II é o grande número de santos que ele reconheceu. Ele celebrou 147 cerimônias de beatificação, nas quais proclamou 1.338 beatos, e celebrou 51 canonizações para um total de 482 santos. Isso é mais do que a contagem combinada de seus predecessores ao longo dos cinco séculos anteriores.
Madre Teresa de Calcutá é talvez a contemporânea mais conhecida de João Paulo II, que agora é oficialmente uma santa, mas a primeira santa do novo milênio e especialmente querida por são João Paulo II foi santa Faustina Kowalska, a compatriota polonesa que recebeu a mensagem da misericórdia divina.
“A canonização da irmã Faustina tem uma eloquência particular: por este ato, pretendo hoje passar essa mensagem para o novo milênio”, disse o papa na homilia da canonização da santa. “Eu a passo para todas as pessoas, para que aprendam a conhecer cada vez melhor o verdadeiro rosto de Deus e o verdadeiro rosto de seus irmãos”.
O beato Pier Giorgio Frassati, a quem o papa João Paulo II beatificou em 1990 e chamou de “homem das bem-aventuranças”, é outro santo popular elevado pelo papa polonês que amava reconhecer a santidade de pessoas simples vivendo o chamado à santidade com extraordinária fidelidade. Na época de sua morte, o italiano de 24 anos era simplesmente um estudante sem realizações extraordinárias. Mas seu amor por Cristo na Eucaristia e pelos pobres foi elevado por são João Paulo II como heroico e digno de imitação.
O papa Francisco mais tarde superaria são João Paulo II ao proclamar santos 800 mártires italianos em um único dia, em 2013.
3. Ele transformou o cronograma de viagens papais
São João Paulo II visitou cerca de 129 países em seu pontificado — mais países do que qualquer outro papa havia visitado até então.
Ele também criou as Jornadas Mundiais da Juventude em 1985 e liderou 19 delas como papa.
Weigel disse que são João Paulo II entendeu que o papa deve estar presente para o povo da Igreja, onde quer que esteja.
“Ele escolheu fazer isso por meio dessas viagens extensas, que ele dizia que não eram viagens, mas peregrinações”, disse Weigel.
“Esse foi o sucessor de Pedro, em peregrinação a várias partes do mundo, da Igreja. E é por isso que essas peregrinações sempre foram construídas em torno de eventos litúrgicos, oração, adoração à sagrada Eucaristia, encontros ecumênicos e inter-religiosos — tudo isso era parte de uma experiência de peregrinação”.
Na segunda metade do século XX — uma época de enormes mudanças e convulsões sociais — as extensas viagens de são João Paulo II e a proclamação do Evangelho até os confins da Terra eram exatamente o que o mundo precisava, disse Weigel.
4. Ele fez contribuições extraordinárias à doutrina da Igreja
São João Paulo II foi um estudioso que promulgou o Catecismo da Igreja Católica em 1992, reformou os Códigos de Direito Canônico Oriental e Ocidental em seu pontificado e escreveu 14 encíclicas, 15 exortações apostólicas, 11 constituições apostólicas e 45 cartas apostólicas.
É por isso que Weigel diz que a Igreja está apenas começando a desvendar o que ele chama de “magistério” de são João Paulo II, na forma de seus escritos e sua influência intelectual.
Por exemplo, a teologia do corpo de são João Paulo II continua a ser extremamente influente nos EUA e no mundo todo, embora Weigel tenha dito que mesmo isso ainda precisa ser desvendado.
5. Ele deu nova vida à Igreja na África
O lendário fervor evangélico de João Paulo II incendiou a África.
O papa tinha uma amizade particular com o cardeal Bernadin Gantin, de Benin, e visitou a África muitas vezes. Suas visitas inspiraram uma geração de “católicos de João Paulo II” na África e em outras partes do globo.
“João Paulo II era fascinado pela África; ele via o cristianismo africano como algo vivo, uma espécie de experiência do Novo Testamento do frescor do Evangelho, e ele estava muito ansioso para apoiar isso e elevá-lo”, disse o cardeal Gantin.
“Foi muito interessante que nos dois sínodos sobre casamento e família em 2014 e 2015, algumas das defesas mais fortes da compreensão clássica da Igreja sobre casamento e família vieram de bispos africanos. Alguns dos quais são cristãos de primeira e segunda geração, profundamente formados na imagem de João Paulo II, a quem eles consideram um bispo modelo”, disse o cardeal.
“Eu acho que onde quer que você olhe ao redor da Igreja mundial, as partes vivas da Igreja são aquelas que aceitaram o magistério… como a interpretação autêntica do Vaticano II. E as partes moribundas da Igreja, as partes moribundas da Igreja são aquelas partes que ignoraram esse magistério”.
A influência de João Paulo II na África e ao redor do globo transformou o mundo. Também transformou para sempre a Igreja.