Em 2007 foi plantado no coração de dom Horacio Valenzuela, bispo da diocese de Talca, no Chile, d sonho de ter uma Fazenda da Esperança no seu país. Ele participou do encontro dos bispos em Aparecida-SP, com a presença de Bento 16, que também visitou a Fazenda da Esperança em Guaratinguetá. Porém, as suas diversas atividades pastorais atrasaram a concretização do sonho.
Em janeiro deste ano, o padre Sergio Diaz e três voluntários chilenos visitaram a comunidade no Brasil. Algum tempo depois, o sacerdote voltou com 22 jovens chilenos, dispostos a se recuperarem. Agora, transferido de paróquia e com menos responsabilidades ministeriais, padre Sergio voltou a acalentar o sonho do bispo. Em março, ambos acolheram em seu país os fundadores da Fazenda e definiram o terreno onde irão construir a comunidade, com inauguração prevista em 2015. Os jovens chilenos que atualmente se recuperam no Brasil serão, no próximo ano, os Embaixadores da Esperança no Chile. Eles farão a “ponte” entre a Fazenda da Esperança e a comunidade local e, através dos seus testemunhos, divulgarão este trabalho. Aqui, dois deles relatam a sua busca para sair do inferno das drogas e do álcool.
O que nos diz Ignacio
O chileno Ignácio Lynch, 33 anos, de Anca, usou drogas por 19 anos; esteve preso por oito e, há tempos, desejava mudar de vida. “No Chile, fiz dois tratamentos. Ambos focados apenas em aspectos psicológicos. Na Fazenda, a proposta é caminhar com Deus. Eu acato a dinâmica, mas ainda não sinto mudanças porque cheguei recentemente! ‘
A mãe de Ignácio admitia que o filho mais velho se drogasse em casa, pois temia que algo ruim pudesse acontecer com ele na rua. “Mas meu irmão abusava de sua confiança. Como os pais trabalhavam fora, quando eu chegava da escola, lá estava ele com vários amigos se drogando. Aquilo despertou minha curiosidade e, aos 14 anos, já havia experimentado diversas drogas:’ Apesar de desestruturada, a família de Ignácio tinha tudo em casa. “Meu vicio era mantido com vários roubos e, por esse motivo, peguei oito anos de prisão. Nos últimos 18 meses de detenção, tive a oportunidade de participar da catequese ministrada por duas freiras na capela do presídio’: Uma vez livre, Ignácio perambulava pelas ruas, sozinho, sem teto, sem comida, sem família. Voltou a cometer delitos para comer e se vestir. Até tinha o apoio da família, mas, por orgulho e vergonha, não lhe pedia ajuda. “Depois de um tempo, criei coragem e voltei para a casa. Eu passava por uma fase destrutiva, pensava em tirar a vida. A cada dia usava mais drogas e perguntava a Deus: ‘por que me mandaste aqui? Para sofrer?: Aí, uma senhora da Pastoral Carcerária ligou-me e falou da Fazenda da Esperança. Fiquei entusiasmado’: Os jovens chegaram à Fazenda da Esperança durante a celebração da Missa do retiro de carnaval dos jovens. Ignácio continua: “Entramos no salão. Cerca de 300 jovens cantavam e a canção arrepiou os pelos dos meus braços. Sou um tanto duro de coração, mas sensível a canções porque toco violão. Mas só aqui é que percebi esta sensibilidade”.
E o que relata Cristian
Outro jovem chileno a se recuperar no Brasil é Cristian Fuenzalida, 33 anos, de Curicó, formado em geografia. Conheceu as drogas aos 11 anos, através do cigarro. No ensino médio experimentou outras, mais danosas. Cristian tem uma irmã e uni irmão mais velhos. O pai esteve doente a partir dos cinco anos do menino e, quando Cristian tinha 18 anos, o pai faleceu. “Minha mãe arrumou um novo marido. Eu não o aceitava. Tivemos várias discussões e até agressões físicas. Tudo, porque fazíamos o que queríamos com nossa mãe, mas ele a defendia!’ Na faculdade, em Valparaiso, fumava maconha e chegou a se prostituir. De volta para casa, roubava os pertences dos parentes. Passou a usar pasta-base de coca e o dinheiro nunca lhe era suficiente. “A família me buscava na rua e nos bares. Por causa dela, com 28 anos, decidi me recuperar. Fiz um tratamento ambulatorial em uma clínica particular; depois de um tempo, tive uma recaída e foi pior:’ A mãe de Cristian trabalha na cúria diocesana e, há dois anos, soube da existência da Fazenda da Esperança no Brasil. Ao saber que iriam abrir uma Fazenda no Chile, “senti — diz Cristian — que havia uma esperança para mim, mesmo sem nada saber a respeito dela, tampouco o seu nome’: Nos processos de recuperação, no Chile, as clínicas sempre trabalham as condutas e nunca aprofundam a espiritualidade do dependente. “Aqui no Brasil — Cristian conclui — logo percebi que jamais havia colocado o meu plano nos planos de Deus, que é viver no amor. Por causa da formação universitária, sinto que tenho que descer do pedestal e me anular para abraçar a oportunidade que me foi oferecida”.
Fonte: Mundo e Missão