71 pessoas perderam a vida, entre elas 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove dirigentes do clube catarinense
Com a luz do entardecer, um solitário buquê de flores brancas ocupa o gramado da Arena Condá, estádio da Chapecoense que honra seu heróis mortes, um anos depois da tragédia que estilhaçou a equipe.
A medida que a tarde cai, a pequena cidade se tinge de verde.
Vários jovens se reúnem em frente à Catedral, enquanto a entrada do estádio está enfeitada com um grande cartaz branco com os dizeres: “Saudades. Para sempre na nossa história, eternamente em nossos corações”.
Os primeiros a chegar podem escrever cartas para depositar em uma cápsula do tempo, em clima de silêncio respeitoso. Ninguém levanta a voz.
O Furacão do Oeste decidiu não realizar nenhum ato em “respeito aos que ficaram e pelas boas lembranças”, mas abriu as portas da Arena Condá para os visitantes. O estádio tem um espaço especial para orações.
Além disso, o túnel que conecta os vestiários ao gramado será decorado com imagens dos membros do time envolvidos no acidente comemorando vitórias.
O estádio também vai acolher a vigília de “algumas luzes que nunca se apagam”, organizada pela Diocese de Chapecó. Depois, os presentes vão partir em procissão até a catedral de São Antonio, onde vai ser realizada um ato religioso.
Os sinos soarão na hora exata do acidente.
Nas arquibancadas ainda esvaziadas, já estavam preparadas alguns cartazes e via-se uma bandeira da Colômbia, onde às 22:10h do dia 28 de novembro de 2016 o voo 2933 da companhia aérea LaMia desapareceu quando estava perto de aterrizar no aeroporto internacional de Rionegro, que serve a cidade de Medellín.
71 pessoas perderam a vida, entre elas 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove dirigentes do clube catarinense. Apenas seis passageiros sobreviveram: uma comissária de bordo, um técnico de aviação, um jornalista e três jogadores.
O time, que em 2009 disputava a quarta divisão, voava para disputar a primeira final continental contra o Atlético Nacional de Medellín, pela Copa Sul-americana.
O avião que tinha saído da Bolívia caiu no Cerro El Gordo, localizado a 2.600 metros de altitude dentro do município de La Unión.
– Pétalas do céu –
Dois helicópteros da Força Aérea colombiana atiraram flores do alto, acima da praça central do município de La Unión, lembrando os que encontraram a morte no caminho da glória, em montanha onde caiu o avião que levava a equipe.
“A glória estava próxima. A tragédia apagou esse sonho”, afirmou Andrés Botero, presidente do Nacional de Medellín.
O atual campeão do futebol colombiano, que cedeu o título de campeão da Sul-americana 2016 à Chapecoense, organizou a homenagem que incluiu um minuto de silêncio.
Enquanto os helicópteros da Força Aérea da Colômbia deixavam cair as pétalas do céu, os nomes das vítimas foram lidos e imortalizados em uma placa.
“Meus amigos chapecoenses nunca serão esquecidos”, disse Botero, que anunciou que um mural será dedicado à tragédia no estádio Atanasio Girardot, onde a decisão da Sul-americana seria realizada. Além dos dirigentes, três jogadores assistiram o ato.
Ainda sem conclusões, as investigações revelaram que o avião viajava com pouco combustível e sobrepeso. O falecido piloto foi responsabilizado e dezenas de funcionários da companhia aérea e do Estado estão presos na Bolívia.
– Mais homenagens –
Após a homenagem em La Unión, uma missa foi realizada no monte que agora leva o nome da Chapecoense. Um altar foi levantado no local onde restou a fuselagem. Duas cruzes de madeira dominavam a vista de dezenas de pessoas que compareceram com a camisa do Nacional.
Aos pés da cruz, uma família chorava. Os pais de Silsa Arias, co-pilota boliviana morta na tragédia, viajaram da Bolívia para se despedirem de sua filha.
“Viemos para dar um abraço e dizer que vamos procurar continuar sem ela. Trouxemos um pouco de suas cinzas e jogamos (na montanha), uma imagens que certamente mostrarei a seus dois filhos quando começarem a fazer perguntas”, disse à AFP Jorge, seu pai.
Na montanha, Luis Albeiro Valencia, de 53 anos, levantou um monumento em seu terreno lembrando o acontecido em La Unión há um ano. No alto de uma vara está a réplica em madeira do avião, ao lado de duas colunas de ladrilho. Uma delas está coroada com a roda do trem de aterrizagem e a outra com uma bola vazia.
Os últimos objetos, garante Valencia, foram conseguidos por sua ajuda nos trabalhos de resgate.
“Isto é para lembrar, para que não nos esqueçamos deles. Porque com o tempo todos se esquecerão deste morro”, disse à AFP este agricultor.
– Renascer –
Após o golpe há um ano, a Chapecoense precisou encarar dolorosa reconstrução marcada por altos e baixos. O time conseguiu se manter na elite do futebol brasileiro para o ano de 2018, objetivo principal da temporada, conquistou o campeonato catarinense e ainda pode beliscar uma vaga na Libertadores.
Dos três jogadores que sobreviveram, apenas o lateral Alan Ruschel voltou a jogar com o time, após recuperação quase milagrosa.
Enquanto o goleiro Jackson Follmann perdeu a perna direita, o zagueiro Neto, último dos sobreviventes a ser resgatado, ainda está em recuperação. A volta aos gramados está prevista para o ano que vem.
Os outros dois que se salvaram da morte, a comissária Ximena Suárez e o mecânico Erwin Tumiri, retomam suas vidas pouco a pouco na Bolívia. A primeira atua como modelo e dá palestras motivacionais. Quase todos voltaram a voar.
Fonte: Aleteia