“Cartago deve ser destruída!”. Ficou famosa, no tempo do império romano, a insistência de Catão, propondo que Cartago, no norte da África, devia ser destruída.
Não bastava vencer mais uma batalha, entre tantas que já tinham sido travadas na disputa pelo completo domínio do Mediterrâneo. Era necessário liquidar de vez com Cartago, a capital do império africano que ameaçava a soberania de Roma.
Catão não se cansava de insistir em sua proposta radical. E tanto insistiu, que Roma partiu para a completa destruição de Cartago, matando de vez toda possibilidade de confronto com Roma.
Olhando o cenário nacional, não é difícil relacioná-lo com Roma e Cartago. Na falta de outro nome para a etapa final da Lava Jato, poderia se adotar a cantilena de Catão, e batizar a derradeira investida policial com o nome de “Cartago Delenda”.
Cartago deve ser destruída!
No clima político que se criou no Brasil, não é difícil identificar quem personifica a Cartago que deve ser destruída, e eliminada de vez do cenário político nacional, para que o império nunca mais se sinta ameaçado pelo atrevimento de quem o contesta.
E´ preciso reconhecer que, pela maneira como foram conduzidas as investigações policiais para identificar atos ilícitos de corrupção, foi se criando a expectativa de que se chegaria ao personagem principal, que poderia ser responsabilizado por tudo. Pela evolução dos procedimentos policiais, esta identificação foi sendo insinuada de maneira cada vez mais explícita, levando à convicção de culpabilidade, mesmo antes de qualquer julgamento, pelo simples fato de pessoas serem investigadas.
Esta constatação aflora de maneira espontânea, no julgamento popular que se ampara na aparente comprovação das suposições de culpabilidade. Levando as pessoas a fazerem, de maneira também “coercitiva”, um julgamento precipitado.
No Brasil se criou uma situação de sentenças condenatórias, pelo simples fato de alguém ser investigado ou chamado a depor. E isto, em grande parte, pela maneira espetacularizante com que foram realizadas as investigações policiais. Quanto maior o espetáculo, mais se aproveita o clima para lançar acusações gratuitas e condenatórias.
Mas é preciso fazer outra constatação pesada.
A situação de crise, agravada com o clima de acusações generalizadas, libera os instintos golpistas dos que se acham no direito de antecipar a destruição da Cartago, e se lançam para se apoderar dos despojos.
Assim as teorias golpistas vão proliferando com desenvoltura.
Alguns ainda ruminam a última derrota eleitoral, e pretendem aproveitar este momento de crise para anular seus resultados.
Outros, mais sofisticados em seu intento de aparentar lisuras constitucionais, propõem que o Poder Judiciário, em sua instância maior, assuma a responsabilidade de declarar ilegítimo o atual governo.
O coro maior engrossa o clamor dos que apelam para o empeachment, que serviria de cenário apropriado para a farsa de legalidade com que se pretende concluir esta hora amarga que o país está vivendo.
Em meio a este denso nevoeiro, cabe-nos o discernimento dos fatos, a identificação das tramas, e a vigilância permanente, para não sermos instrumentalizados por aqueles que, de fato, querem atropelar a ordem constitucional.
Diante das ameaças, a vigilância se torna indispensável.