Sobre o amor humano e divino do coração de Jesus
Foi publicada na quinta-feira, dia 24 de outubro, a Carta Encíclica do Papa Francisco “Dilexit Nos”, a quarta de seu pontificado. Esta encíclica trata sobre a relação entre o coração humano e o coração de Jesus. Segundo o Papa Francisco a humanidade perdeu o senso de amor à Deus e ao próximo, por isso, o resultado de tantas guerras e violência no mundo. Além dos desequilíbrios sociais e econômicos, consumismo desenfreado e novas tecnologias que ameaçam desfigurar a essência do ser humano em nossa sociedade moderna.
A tradução de “Dilexit Nos”, significa “Ele nos amou”, é um chamado de atenção para voltarmos o nosso olhar para o coração e transbordar o amor de Deus para as pessoas, pois o nosso coração está cheio do amor de Deus. O que está em falta na sociedade de hoje é o diálogo e o respeito entre as pessoas, as pessoas nos dias de hoje querem resolver tudo na base da violência, agressão, armas, enfim. O diálogo e o respeito são fruto do amor, que é o que está faltando na sociedade de hoje.
O texto da encíclica é inteiramente dedicado ao culto do Sagrado Coração de Jesus, o Papa Francisco já havia anunciado que iria publicar essa encíclica no dia do Sagrado Coração de Jesus, na audiência de 5 de junho. A intenção do Sumo Pontífice é que todos, ao terem o contato com o texto, possam meditar sobre os aspectos do amor do Senhor por nós e dessa forma despertar o coração humano para um relacionamento sadio com o próximo, e juntos construírem a paz. Se começar de um ou dois, e for se espalhando aos poucos, teremos um mundo melhor.
Desde que o Papa Francisco assumiu o pontificado, ele tem batido nessa tecla e rezado constantemente pela humanidade, para que possa retomar ao primeiro amor, e que a humanidade construa pontes de amor, ao invés de bombas de guerra e ódio. É possível que todos vivam bem, independente de credo, raça, ou ideologias políticas, a partir do diálogo e do amor que Deus derramou em nós é possível resolver tudo através do diálogo e não das guerras.
A publicação da encíclica faz parte das comemorações dos 350 anos da primeira manifestação do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, em 1673, há cerca de três séculos e meio em 27 de dezembro. Jesus apareceu a jovem freira visitandina francesa que tinha apenas 26 anos dando-lhe a missão de difundir no mundo o amor de Jesus pelos homens, especialmente pelos pecadores. As aparições continuaram por mais dezessete anos com o coração de Jesus se manifestando sobre um trono de chamas, cercado por uma coroa de espinhos, símbolo das feridas infligidas pelos pecados dos homens. Cristo pediu a Santa Margarida que a sexta-feira após Corpus Christi, ou seja, oito dias depois, fosse dedicada a festa ao Sagrado Coração de Jesus.
Irmã Margarida encontrou certa dificuldade com a missão dada, pois encontrou incompreensão por parte das outras irmãs e da superiora da congregação, sendo considerada uma visionária. Ela, porém, nunca desanimou e dedicou toda a sua vida para que o mundo conhecesse o amor de Cristo.
O Papa Francisco dá continuidade e dentro da encíclica explica como se difundiu no mundo a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. A festa do Sagrado Coração de Jesus nasceu as portas do iluminismo. Padre Enrico Cattaneo, professor emérito de patrística escreveu certa vez que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi um contrapeso à mentalidade racionalista difundida na época e que alimentava a cultura ateísta e anticlerical. Inclusive surgiu dentro da própria Igreja um debate interno sobre essa devoção. Finalmente, no ano 1856, o Papa Pio IX decidiu que a festa ao Sagrado Coração de Jesus fosse estendida a toda igreja. No século XIX a devoção se espalhou rapidamente com consagrações, surgimento de congregações masculinas e femininas, instituições de universidades, oratórios e capelas.
O Papa Pio XII em 1956 publicou a encíclica “Haurietis aquas”, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que nessa época vivia uma crise. Essa encíclica tinha como objetivo reviver o culto e convidar a Igreja a compreender melhor e realizar as diversas formas de devoção, de “máxima utilidade” para as necessidades das Igreja, mas também como estandarte da salvação para o mundo moderno.
Francisco sempre mostrou um profundo amor ao Sagrado Coração de Jesus e procurou difundir a devoção, relacionando-o a própria missão dos sacerdotes. No ano santo de 2016 o encerramento do jubileu se deu na solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Na homilia, o pontífice exortou para que todos os sacerdotes orientassem os seus olhos e de todos os fiéis ao Sagrado Coração de Jesus. No coração de Jesus todos encontrarão repouso.
Os pecadores devem procurar Cristo e o seu coração, pois o coração de Cristo é o centro da divina misericórdia. Quem tem um coração misericordioso é capaz de acolher o outro, e está livre para dar e receber o perdão. Assim devemos ser todos nós e acolhermos o outro de coração, oferecendo sempre o perdão e abrindo-se ao diálogo, com isso edificaremos uma sociedade mais justa, fraterna e sem violência.
A nova encíclica aborda muitas das ideias que o Papa Francisco tem apresentado ao longo de seu Pontificado. Por um lado, ela chama a atenção para a importância da coerência pessoal, para que cada um construa uma personalidade livre e responsável. Para isso, ele sugere investir naquilo que já chamou de harmonia dos três idiomas: “Esses três idiomas, o da cabeça, o do coração e o das mãos, devem estar tão harmonizados que eu pense o que sinto e o que faço, sinta o que penso e o que faço, e faça o que sinto e o que penso. Essa é a harmonia dos três idiomas”.
Por outro lado, o Papa Francisco alerta sobre o perigo de se deixar levar por estilos de vida narcisistas, egoístas e individualistas, ou que não ajudem a conectar com o próprio coração, que adormeçam essa parte de nós. Ele disse que é importante abrir-se ao próximo, que não se pode construir uma vida sozinho sem o amor gratuito dos outros. Disse que acolher esse amor é importante porque, além disso, ajuda a não se fechar nos momentos difíceis. “O pior que pode acontecer na vida é que a dor te feche. É como se os dentes se cerrassem, a dor te deixa rígido, não deixa espaço para a ternura. A dor precisa ser afagada, a dor pede isso, deixar espaço para a esperança. Quando a dor se fecha em si mesma, ela se torna venenosa, sempre”.
Nesse sentido, ele refletiu sobre a importância de se abrir para experiências como receber consolo, porque isso ajuda a saber como oferecer consolo aos outros no futuro. O nome da encíclica é “Dilexit nos” e é uma tentativa de convencer os cristãos a fazerem uma jornada para as profundezas do próprio coração e descobrir a própria dignidade.
Esta é quarta encíclica do pontificado de Francisco, em todas elas o Papa exorta a todos os fiéis a edificarem uma sociedade mais justa e fraterna, em todas elas o Papa fala sobre a urgência da fraternidade e da amizade social em um mundo fragmentado, marcado primeiramente pela pandemia da covid-19 e depois pelas guerras que vemos atualmente. Recomendo, vivamente, nas comunidades e paróquias, particularmente no Movimento do Apostolado da Oração na leitura e na reflexão desta importante encíclica que deve abrir nosso coração em favor dos que mais precisam!
Por fim, a encíclica termina com a seguinte oração de Francisco: “Peço ao Senhor Jesus Cristo que, para todos nós, do seu Coração santo brotem rios de água viva para curar as feridas que nos infligimos, para reforçar a nossa capacidade de amar e servir, para nos impulsionar a fim de aprendermos a caminhar juntos em direção a um mundo justo, solidário e fraterno. Isto até que, com alegria, celebremos unidos o banquete do Reino celeste. Aí estará Cristo ressuscitado, harmonizando todas as nossas diferenças com a luz que brota incessantemente do seu Coração aberto. Bendito seja!” Amém!