O direito canônico da Igreja Católica permite que as mulheres sejam responsáveis pelas paróquias. Assim explicou, em 23 de outubro, o Cardeal Oswald Gracias, Arcebispo de Bombaim (Índia) e membro do Conselho de Cardeais que assessora o Papa Francisco na reforma da Cúria, que também participa do Sínodo da Amazônia.
Ao responder a uma pergunta sobre o papel da mulher na Igreja, o Cardeal Gracias assinalou que o “direito canônico, a lei da Igreja, permite tudo, menos que as mulheres possam escutar confissões, celebrar Missa e não podem dar [o sacramento] da Crisma, mas praticamente todo o demais sim” e citou o exemplo de Bombaim, onde “a presidente da associação dos leigos é uma mulher e o do conselho pastoral é um homem”.
“Na paróquia, é preciso haver um sacerdote para escutar as confissões, mas as mulheres podem ser responsáveis por uma paróquia, de acordo com o direito canônico. Está permitido. O direito diz que uma ‘pessoa’, o bispo pode colocar uma ‘pessoa’. As mulheres podem ser professoras, as mulheres podem dirigir a paróquia. Elas podem organizar, podem ser juízas de nosso tribunal, então há muito, muito mais a fazer neste momento, e acho que devemos usar tudo isso”, expressou o Purpurado.
Nesse sentido, o Cardeal Gracias acrescentou: “Acho que nós, os bispos, somos os que realmente não estamos tirando proveito de todas as oportunidades que temos para dar muito mais às mulheres, o que realmente deveríamos fazer”.
O número dois do cânon 517 do Código de Direito Canônico indica que, “se em virtude da falta de sacerdotes, o Bispo diocesano julgar que a participação no exercício da cura pastoral da paróquia deva ser confiada a um diácono ou a outra pessoa que não possua o carácter sacerdotal, ou a uma comunidade de pessoas, constitua um sacerdote que, dotado dos poderes e das faculdades de pároco, oriente o serviço pastoral”.
Por sua vez, o Bispo de Potosí e presidente da Conferência Episcopal da Bolívia, Dom Ricardo Ernesto Centellas Guzmán, disse que “a participação das mulheres na vida social e na Igreja é uma questão de mentalidade”.
“Todos nós precisamos de uma mudança de mentalidade para que a participação não apenas aumente, mas seja uma participação equitativa e igualitária”, afirmou.
Sobre isso, o bispo boliviano comentou que “é inquestionável a presença de mulheres na Igreja, que são a maioria”, mas reconheceu que “sua participação na organização, vida e missão da Igreja é muito pequena, quase nada”.
“Se não mudarmos estruturas, nossa forma de organização, isso não mudará e isso deve mudar a partir das menores coisas”, advertiu o Prelado.
Em sua opinião, Dom Centellas Guzmán disse que “não é necessário que a Santa Sé ou o Vaticano deem instruções, mas é possível a partir de pequenas comunidades e paróquias, dar às mulheres a participação com poder decisivo, depois as coisas vão mudar e todo o resto será consequência”.
Além disso, o presidente da Conferência Episcopal da Bolívia se referiu à participação ativa e efetiva das mulheres na vida da Igreja: “Não é proibido. O problema é que nossas estruturas estão armadas de certa maneira que somente certas pessoas podem decidir”.
Uma das questões discutidas na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos na Amazônia tem sido a possibilidade do diaconato feminino, mas na coletiva de imprensa de ontem nenhum dos participantes fez uma menção explícita ao assunto.