Roma, 12 Mai. 17 / 11:30 am (ACI).- Embora o terceiro segredo de Fátima se refira a acontecimentos do passado, o seu convite à conversão é sempre atual e ainda está por se cumprir, segundo assinala o Cardeal italiano Tarcisio Bertone, Secretário de Estado Emérito.
Em uma entrevista exclusiva concedida à CNA – agência em inglês do Grupo ACI –, o Cardeal Bertone falou sobre o terceiro segredo de Fátima, como foi tomada a decisão de publicá-lo e compartilhou suas lembranças dos três encontros que teve com a Irmã Lúcia, a única dos três pastorinhos que viveu por mais tempo e que guardou o segredo até ser publicado pelo Vaticano em 2000, a pedido do Papa João Paulo II.
O Purpurado disse que as aparições de Fátima “confirmam uma notícia encorajadora. Que a Mãe do Filho de Deus Encarnado e nossa Mãe não abandona a humanidade ao longo da história. Ela está presente e cuida da humanidade como porta-voz e fiadora da Misericórdia de Deus. Ela é a mediadora da salvação”.
O Cardeal Bertone explicou que em seu caminho a Portugal para a Viagem Apostólica de 2010, Bento XVI destacou que além da grande visão do terceiro segredo de Fátima sobre o sofrimento do Pontífice, referindo-se ao Papa João Paulo II, há uma indicação das realidades que envolvem o futuro da Igreja, que gradativamente vão tendo forma e se tornam evidentes.
Isso significa, acrescentou, que “a visão implica a necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente se reflete na pessoa do Papa. Além disso, o Papa representa a Igreja e, deste modo, são anunciados os sofrimentos da Igreja. O Senhor nos disse que a Igreja estaria sofrendo constantemente, de diferentes maneiras, até o fim do mundo”.
Um dos primeiros colaboradores de Bento XVI e, entre estes, quem contribuiu na interpretação teológica do Terceiro Segredo foi o Cardeal Bertone, que explicou à CNA que o comentário teológico divulgado pelo Cardeal Ratzinger, junto com o segredo em 2000, sublinhou que “na visão podemos reconhecer o século passado como um século de mártires, um século de sofrimento e perseguição à Igreja, um século de guerras mundiais e muitas guerras locais durante os últimos cinquenta anos e provocaram crueldades sem precedentes”. “No ‘espelho’ desta visão vemos passar diante de nós testemunhos da fé década por década”, acrescentou.
“Em certo sentido, ele (o Cardeal Ratzinger) disse que os eventos descritos no terceiro segredo já aconteceram. Ao mesmo tempo, o coração do apelo de Fátima é a conversão. Ou seja, a conversão dos fiéis e o caminho da Igreja à fidelidade. A Irmã Lúcia realmente se preocupava por cumprir o que ela chamava ‘o mandamento de Maria’. Assim como existe o mandamento do Senhor Jesus: ‘Amai-vos como Eu vos amei’, existe o mandamento Maria: ‘Fazei o que ele vos disser’”.
O Cardeal Bertone contou que a decisão de divulgar o terceiro segredo de Fátima foi feita a fim de evitar a “interpretação apocalíptica” que se estendia cada vez mais para o fim do milênio.
O Purpurao italiano, de 82 anos, disse que “a decisão foi tomada diretamente por São João Paulo II, depois de uma reunião da qual participou o Cardeal Joseph Ratzinger (então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé); o Cardeal Angelo Sodano (então Secretário de Estado), eu, o então Dom Giovanni Battista Re, então substituto da Secretaria de Estado; e o então Dom Stanislaw Dziwisz, que era o secretário pessoal do Papa”.
São João Paulo II encomendou ao Cardeal Bertone, Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, que se reunisse com a Irmã Lúcia e lhe perguntasse se o texto do segredo procurado pela Congregação onde serviu era autêntico.
O Cardeal Bertone se reuniu com a Irmã Lúcia três vezes quando era Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé. As reuniões aconteceram nos dias 27 de abril de 2000, 17 de novembro de 2001 e 9 de dezembro de 2003.
O Cardeal Bertone disse à CNA que a Irmã Lúcia foi “uma pessoa brilhante, muito agradável, serena, pacífica e tranquila. Era uma pessoa de confiança que teve que guardar um grande segredo e foi chamada para comunicar mensagens importantes à humanidade”.
O Cardeal também compartilhou detalhes sobre seu último encontro com a Irmã Lúcia. Disse que um dos temas principais da sua última conversa foi sobre a reunião que a religiosa teve no dia 11 de julho de 1977 com o Cardeal Albino Luciani, então Patriarca de Veneza.
O Cardeal Luciani, foi eleito Papa João Paulo I em 26 de agosto 1978 e seu pontificado durou apenas 33 dias. Muitos relatórios afirmaram que o Cardeal Luciani ficou surpreso pela reunião que teve com a Irmã Lúcia, pois supostamente havia previsto a sua eleição como pontífice e a brevidade do seu pontificado.
De fato, o Cardeal Luciani havia escrito um relatório da sua reunião com a religiosa e este relatório estava com o Cardeal Bertone, em uma tradução ao português que a Irmã Lúcia havia pedido.
O Cardeal Bertone contou: “Ela leu cuidadosamente o relatório e, em seguida, confirmou cada palavra e assinou no final. Então, fiz uma pergunta precisa: ‘Você previu a eleição do Cardeal Luciani como Papa?’. Ela respondeu com as mesmas palavras: ‘Eu não lembro se eu disse que seria eleito Papa. Disse à minha comunidade religiosa que havia conhecido um bom Cardeal, um Santo Cardeal, e que se tivesse sido eleito Papa, seria um bom Papa’”.
O Cardeal Bertone acrescentou que, durante a reunião, o Cardeal Luciani e a Irmã Lúcia falaram sobre o declínio da fé na Igreja e outros problemas gerais eclesiais.
O então Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé também recordou que a Irmã Lúcia disse que a Virgem estava satisfeita com a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.
Tanto Pio XII como São João Paulo II consagraram a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, embora não houvesse nenhuma menção explícita da própria Rússia, um detalhe que causou muita insistência em que, de fato, não houve nenhuma consagração.
O Cardeal Bertone sublinhou que a decisão de não mencionar diretamente a Rússia foi feita “por razões ecumênicas” e por “respeito à Igreja Ortodoxa Russa”, mas também sublinhou que as referências a esta são muito claras. Especialmente, recorda a Carta Apostólica de Pio XII, Sacro Vergente Anno, que menciona claramente sobre a “consagração do povo da Rússia”.
Fonte: Acidigital