Silvonei Protz – Aparecida
Alguns dias atrás os bispos do Paquistão condenaram firmemente os trágicos ataques mortais ocorridos no Domingo de Páscoa no Sri Lanka, expressando profunda tristeza pela perda de vidas preciosas e inocentes. Segundo os bispos, o ataque é a prova de uma crescente onda de extremismo e radicalização em todo o mundo e exortam os governos a melhorar as medidas de segurança específicas para os lugares de culto. O arcebispo de Karachi, o cardeal Coutts está em Aparecida a convite da Conferência Episcopal dos Bispos Brasileiros, e respondeu a algumas perguntas sobre a situação dos cristãos no Paquistão, um país com maioria muçulmana onde os cristãos são uma minoria de apenas 3% da população, e alguns anos atrás estavam na mira dos terroristas.
Cardeal Coutts: Nos últimos 25 anos cresceu muito a intolerância e os extremistas ficaram mais fortes; são contra o nosso governo, porque o Paquistão é uma democracia. E os extremistas dizem: “O que é a democracia? É um conceito ocidental, não é para nós. Queremos um reino onde a Sharia seja a lei, a lei do islã”. Na base de tudo há uma luta entre o extremismo e o islã moderno e democrático. Nós, graças a Deus temos a democracia, as nossas leis não são todas islâmicas. Há algumas, mas segundo a nossa Constituição temos a liberdade de religião – há muitas igrejas no Paquistão -, como Igreja temos muitas escolas cristãs, mesmo católicas. Na minha arquidiocese de Karachi há 56 escolas católicas. São frequentadas também por muçulmanos, e além disso temos professores muçulmanos. E para os muçulmanos moderados, “mais iluminados”, “mais livres” deste tipo de fanatismo, isso não é um problema.
Os cristãos do Paquistão, têm medo?
Cardeal Coutts: Medo no sentido que já vivemos muitas experiências violentas. A primeira, depois do ataque às Torres Gêmeas de Nova York em setembro de 2001. Em outubro, um mês depois, os americanos começaram a bombardear o Afeganistão, um país muito pobre, mais pobre do que o nosso, 100% muçulmano. E quando começaram a chegar ao Paquistão os refugiados da guerra, nosso povo se perguntava: “Mas o que os americanos estão fazendo?” e americanos significava também cristãos; foi um verdadeiro choque. Em pouco tempo chegaram a entrar no Paquistão cerca de 3 milhões de refugiados do Afeganistão, povo infeliz. Então, o que aconteceu? Dois jovens extremistas muçulmanos atacaram uma igreja – era domingo -, essa foi a primeira experiência negativa. Os muçulmanos entraram na igreja para matar os cristãos, na ocasião morreram 16 pessoas e teve muitos feridos. Depois de 2001 esses ataques se repetiram três ou quatro vezes. Mas o governo nos dá proteção e segurança. Agora este medo diminuiu mas permanece sempre esta tensão: quando acontecerá de novo? Quando e onde. É natural. Podemos ver o que aconteceu no Sri Lanka. Ninguém esperava algo assim no país, a segurança não tinha sido alertada neste sentido. E nós, infelizmente temos que pedir aos policiais para revistarem as pessoas antes de entrarem na igreja.
O Santo Padre olha com muito interesse, muitas vezes seu coração chora pelas situações em que vivem muitos cristãos. Como o Santo Padre é visto no Paquistão?
Cardeal Coutts: Todos têm um grande respeito pelo Papa Francisco. Acreditam, dizem, que não é apenas um grande líder religioso, mas também é um homem de paz, porque ele foi ao Oriente Médio em Abu Dhabi, no Marrocos, na Turquia. Todos sabem isso. O Papa é muito respeitado.