A edição de março do suplemento especial “Mulheres, Igreja, Mundo”, do jornal L’Osservatore Romano traz uma ampla análise sobre a presença das mulheres ao longo da história da Igreja – e de sua vocação à pregação.
Ao contextualizar o momento histórico da existência terrena de Jesus, que viveu em uma sociedade patriarcal, na qual as mulheres eram “socialmente invisíveis”, o caderno convida a “inserir nesta verdade histórica a originalidade do comportamento de Cristo”.
“Jesus vê, olha, observa e conjuga a sua vida com aquelas das mulheres que o seguem, o amam e o acompanham até a morte”.
E se o olhar de Cristo alivia, identifica e reconhece, ao contrário do mundo que, naquela época, vê e julga, examina e condena com a exclusão, isto passa a ser um convite “ao discernimento, a colocar-se perguntas e à comunhão”, afirma o texto inicial assinado pela professora Catherine Aubin, op, que também colabora com a redação francesa da Rádio Vaticano.
Figuras proféticas
Neste contexto – reforça Aubin –, “uma panorâmica sobre a história do cristianismo leva a considerar aquelas figuras femininas, proféticas e carismáticas que, com autoridade, em séculos agitados, contribuíram a evangelizar um mundo ainda pagão e/ou uma Igreja hostil e dividida”.
Indefectivelmente conectadas, emergem desta afirmação histórica nomes de santas como Genoveva, Clotilde, Joana D’Arc, Ildegarda de Bingen, Catarina de Sena. Porém, é a dominicana Madeleine Fredell – prossegue a reflexão – “completamente estranha e perfeitamente inserida” nesta realidade, que “nos introduz no coração da pregação cristã, que é o amor na sua forma concreta: a relação, a inclusão de todos e o serviço da palavra”.
Testemunho
Ao desvincular a pregação de regras e leis, o texto apresenta-a como qualidade fundamental do livre encontro entre o “amor que ama e que é recebido, uma necessidade vital para pregadores – homens e mulheres –, de testemunhar, ensinar, anunciar e servir”.
Assim, o suplemento apresenta as “mulheres que já pregam”, ao guiar retiros e ministrando conferências “em lugares em que os homens o fazem há tempos”, e coloca uma pergunta: “por que as mulheres não podem pregar diante de todos durante uma celebração?”.
Em resposta, a constatação do Prior da Comunidade de Bose, Padre Enzo Bianchi: “não há uma proibição evangélica para as mulheres assumirem este papel e, portanto, não é impossível confiá-lo a elas”.
“Todos aqueles ou aquelas que tiveram este encontro de coração aberto com Jesus não podem se impedir de ir dizê-lo, de anunciá-lo, de proclamá-lo, porque é ele, Cristo, que faz de todos os homens e de todas as mulheres encontrados ao longo do seu caminho testemunhas, mensageiros e apóstolos”, conclui Padre Bianchi.
Leia a íntegra do caderno especial, em italiano, que ainda traz o testemunho de uma religiosa dominicana sueca que afirma que a pregação é a sua vocação.
Fonte: Rádio Vaticano