Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu os bispos da Costa Rica na manhã desta segunda-feira (13), em visita “ad Limina”. No encontro foram apresentados relatórios sobre a situação da Igreja naquele país. O bispo de Puntarenas e presidente da Conferência Episcopal da Costa Rica, Dom Óscar Fernández Guillén, abordou as dificuldades e as esperanças da comunidade católica, a começar pela falta de sacerdotes.
Dom Óscar – Problemas nunca faltam, alguns são grandes e outros pequenos. Dentro da Igreja, porém, aquilo que nos preocupa é a falta de sacerdotes: precisamos de mais sacerdotes. Isso nos fez pensar e organizar, em cada diocese, a pastoral vocacional que já está dando bons resultados. Já tivemos um leve aumento no número das vocações sacerdotais e isso nos dá coragem.
Outro problema que preocupa os bispos da Costa Rica e que acaba sendo enfrentado por toda a Igreja da América Latina, como confirma Dom Óscar, “é a grande quantidade de pessoas batizadas que vivem a própria vida sem uma experiência sacramental e sem participar da missão da Igreja”.
Dóm Óscar – Estamos fazendo muitos esforços para aplicar um dos princípios do Documento de Aparecida, um dos pontos que Papa Francisco tem insistido várias vezes: que a Igreja seja uma Igreja em saída para levar, na melhor forma possível e da maneira mais atraente, a alegria do Evangelho. Estamos trabalhando em todas as dioceses e em cada distinta paróquia com grupos de fiéis que têm a fé muito viva, que têm uma boa formação, que têm um zelo missionário muito especial, que estão colaborando para testemunhar a vida cristã no matrimônio, na família e no trabalho, junto a sacerdotes muito empenhados na sua missão – mesmo que não sejam muitos.
O magistério do Papa Francisco, assim, serve de farol para os desafios vividos diariamente pelos bispos na Costa Rica, um país que enfrenta a “deterioração do tecido social devido a um incremento da violência e do crime organizado, dominado pelo narcotráfico”. Segundo dados da Conferência local, foram registrados 560 homicídios no país em 2015, o que vem a ser considerado pelos bispos uma verdadeira “epidemia”, sobretudo porque “um quarto desses assassinatos foram associados ao narcotráfico”.
Entre as causas da violência e de uma “sociedade sempre mais agressiva e vingativa”, segundo eles, estão os problemas de coesão nacional por causa do aumento das desigualdades na distribuição da riqueza e do modelo de desenvolvimento econômico que não tem como objetivo o ser humano e o bem comum, mas o mercado. Os bispos acreditam na misericórdia como antídoto contra a violência e usam da inspiração pastoral do Santo Padre para enfrentar esses desafios.
Dom Óscar – Uma coisa que falamos ao Papa durante a visita foi: “Obrigado de coração pelo Seu serviço pastoral e pelo Seu magistério”, rico de gestos e de sinais que refletem a caridade do Pai celestial e a misericórdia do Pastor. Nós o consideramos um irmão mais velho, e esses gestos se transformam para nós num exemplo e num estímulo. Por isso, nosso agradecimento: por esse seu estilo, por essa proximidade coerente às pessoas que ele procurou desde o princípio – os mais esquecidos e marginalizados. E para isso nos dirigiu um apelo de reforçar esse modo de fazer a pastoral.
Uma ação concreta da Igreja nos últimos anos na Costa Rica tem sido acompanhar muitos refugiados da América Central, migrantes que querem atravessar as fronteiras para chegar aos Estados Unidos.
Dom Óscar – Na Costa Rica temos muitos migrantes da Nicarágua, os dois países são vizinhos, e ultimamente estão chegando migrantes da Colômbia e da Venezuela, por exemplo. É preciso dizer que as nossas políticas sociais migratórias são muito acolhedoras. Esse fenômeno passou por uma mudança, porém, nos últimos tempos, porque muitos desses migrantes não vêm à Costa Rica para ficar, mas para continuar o seu êxodo em direção a outros países, em particular, para o “gigante do Norte”, ou seja, os Estados Unidos. No entanto, os pobres migrantes se viram blocados por um muro quando o governo da Nicarágua fechou a fronteira para impedir que essas pessoas passassem pelo país para chegar nos Estados Unidos. Por isso, já há muitos meses a Costa Rica precisou dar asilo e hospitalidade a muitos migrantes provenientes de Cuba, Haiti e outros países da África. Nesse sentido, é preciso agradecer o atual governo que agiu com grande humanidade e solidariedade com essas pessoas, e também reconhecer que onde quer tenham estado e ainda estejam esses migrantes, os fiéis cristãos, motivados pelos seus párocos, tiveram uma mão realmente fraterna.
Fonte: Rádio Vaticano