Bento XVI, abençoado por Deus

    “Com pesar comunico que o papa emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34 no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano”, disse o porta-voz Mateus Bruni, da Santa Sé Apostólica. Bento XVI deixou como último desejo que seu funeral fosse “o mais simples possível. Solene, mas sóbrio”. Assim, o mundo entristecido se despede, no último dia do ano, de Papa Bento XVI, que nos deixa e é acolhido por Deus Pai. Com Papa Bento XVI, a Igreja e todos nossos irmãos e irmãs vivenciamos a presença de Jesus Cristo fiel aos princípios que Ele nos ensinou. Nos despedimos da inteligência, da humildade e de seu amor com o próximo e o mundo, como nos lembra o pesar da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil): “Como teólogo, bispo e Papa, ele nos deixou um grande legado, onde se destacam o amor pela Igreja e a preocupação pelos rumos do mundo. Em seu pontificado, escreveu três encíclicas para as quais somos convidados a nos voltar com dedicação ainda maior, não apenas em razão de sua morte, mas acima de tudo pela mensagem que estas cartas nos trazem”.

    Joseph Ratzinger nasceu no sul da Alemanha, em Marktl am Inn, em 16 de Abril de 1927. Tinha só seis anos de idade quando os nazistas ascenderam ao poder, em um dos momentos mais sombrios da história recente. Ele o e irmão Georg foram ordenados no mesmo dia, em 1951. Georg iniciou sua vida na Igreja como padre paroquial. Enquanto Joseph Ratzinger escolheu um ministério diferente, dedicado à teologia. Primeiro cursou doutorado e logo vieram várias nomeações em universidades de valoroso prestígio. No Vaticano, foi nomeado e criado cardeal aos 50 anos, em 1977. Mesmo com a saúde já debilitada, Papa Joao Paulo II nomeou o Cardeal Joseph Ratzinger para conduzir a Congregação Doutrina e Fé, onde defendeu os ensinamentos tradicionais da nossa Santa Igreja.

    Há uma passagem pessoal minha com o Cardeal Joseph Ratzinger que eu gostaria de compartilhar. No primeiro Curso para os Bispos promovido pelo Cardeal Eugênio de Araujo Salles, no Sumaré, no Rio de Janeiro, em um dia eu fiquei para almoçar por último por um atendimento que tive que fazer. Para a minha surpresa o Cardeal Joseph Ratzinger chegou, também, atrasado, e pude, eu, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Juiz de Fora, apresentar a ele o caso do Padre João Ramalho que pedia reingresso ao ministério ordenado. Ele, com muita paciência, me deu todos os tramites e retornando para Roma, tendo recebido toda a documentação, deu o seu parecer favorável para a minha alegria. Ele era um homem muito afável, próximo, interessava por pequenas coisas e muito delicado. Músico exímio e de um fidalguia própria dos santos. Eu poderia dizer que eu convivi com um Santo, como Cardeal e como Sumo Pontífice.

    Quando o Santo Papa João Paulo II faleceu em abril de 2005, Joseph Ratzinger era um dos cardeais mais longevos e dedicados do Vaticano. Coube a ele presidir o funeral. A Igreja se recolheu, então, para a escolha de seu sucessor. Depois de quatro rodadas de votação, a fumaça branca da Capela Sistina anunciava, em 19 de abril, para a Igreja, seus irmãos e o mundo: Habemus Papam! Um anúncio comovente de gloriosa alegria. Joseph Ratzinger seria Bento XVI, com seu papado marcado pelo compromisso de manter uma Igreja viva em seus princípios e aberta ao seu rebanho. Em fevereiro de 2013, após oito anos de papado, entendeu que sua saúde frágil e debilitada comprometia seus trabalhos à frente do Vaticano e, assim, humildemente, deixava o papado.

    Passou dedicar-se aos estudos e às reflexões do nosso tempo, sempre preocupado com as questões e desafios importantes da humanidade, colocando a nossa Santa Igreja como emissária da vontade de Deus. Recordo-me do que disse Bento XVI durante missa celebrada aos novos cardeais, na Basílica de São Pedro, em 19 de fevereiro de 2012: “A Igreja não existe para si mesma, não é o ponto de chegada, mas deve ir além de si, em direção ao alto, acima de nós. A Igreja é verdadeiramente si mesma na medida em que deixa transparecer o Outro — com ‘O’ maiúsculo — de onde ela vem e ao qual ela conduz”. Em outro momento, nos alertou, durante a Encíclica Caritas in Veritate, n. 74, 29 de junho de 2009: “Razão e fé se ajudam mutuamente. Somente juntas elas poderão salvar o homem. Atraída pelo puramente técnico, a razão sem fé está destinada a se perder na ilusão de sua própria onipotência. A fé sem razão corre o risco de alienação da vida concreta das pessoas”.

    Em 2007, quando nos alegrou com sua visita ao Brasil, Papa Bento XVI abriu a Conferência latino-americana de Aparecida, em 13 de maio, com uma mensagem para todos nós cristãos. “O que Cristo realmente nos dá? Por que queremos ser discípulos de Cristo? A resposta é: porque esperamos encontrar vida na comunhão com Ele, a verdadeira vida digna desse nome, e por isso queremos torná-lo conhecido aos outros, para comunicar a eles o dom que encontramos Nele. Mas é realmente assim? Estamos realmente convencidos de que Cristo é o caminho, a verdade e a vida?”.

    E, assim, Papa Bento XVI encontra o Senhor, na dignidade, na humildade e na devoção ao Criador, enquanto nos deixa um legado imensurável que certamente seguirá guiando a Igreja e rebanho. Que Deus acolha esse bom pastor e teólogo de seu tempo, em Seu nome e que sua história de vida, continue nos inspirando a todos nós para a fraternidade, união, paz e caridade. Rezemos todos por Papa Bento XVI.

    Saudações em Cristo!

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