Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça

    Na quarta bem-aventurança Jesus declara: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.  O cerne desta mensagem é ensinar como passar de uma justiça dos homens, que é a justa retribuição dos atos, à justiça de Deus que é a conformidade com sua Lei. Os que aderem aos mandamentos promulgados pelo Ser Supremo são felizes e satisfeitos nas suas aspirações mais profundas. É a extraordinária economia divina que oferece em consequência desta adesão incondicional aos preceitos traçados pelo Criador tudo que cada um necessita tudo que mitiga sua fome e sede espirituais. Então cada um, na medida de sua capacidade, integra o que lhe é possível receber. É algo que ultrapassa a mera fantasia interior que é momentânea e inconsistente. O seguidor de Cristo se sente envolto no mais total equilíbrio psicossomático. Tão grande é esta beatitude que quem a possui deseja que todos participem da mesma através da vivência completa dos desígnios de Deus. Esta realidade, já vivida nesta terra, se consumirá na eternidade, na posse definitiva no Reino celeste onde resplandece a plenitude da justiça. O cristão está sempre atento para não se desviar da rota que leva até o céu, porque almeja continuamente estar saciado desta justiça que será sua herança para sempre. Isto supõe uma luta persistente para não se deixar enredar pelas ilusões terrenas, buscando simplesmente a recompensa de suas ações segundo os critérios humanos representados no dinheiro, no elogio, nos aplausos. Estes bens são transitórios e tornam o ser humano possuído por uma fome e uma sede insaciáveis. Quanto mais se tem, mais se quer possuir.  A consciência, contudo, de uma ordem e de um amor infinitos leva à realização plena dos mais recrescentes anelos do ser humano, mediante a união perfeita com a vontade divina. Eis aí o segredo de uma existência que deparou a verdadeira causa do perfeito existir numa consumação existencial beatífica que só é possível no cumprimento exato da Lei. No Reino celeste se dará a recompensa definitiva, dado que não se correrá o risco de se desviar de tal sublime projeto de vida. Nesta trajetória terrena, para quem tem fé, o alimento e a água vêm a ser o pão e água da vida eterna. Desta maneira o cristão cultua o Pai em espírito e em verdade e marcha ininterruptamente para a glória sem fim. É a caminhada dos famintos e sedentos da autêntica justiça. Na justificação do dever cumprido, das dívidas pagas a Deus pelas falhas humanas rebrilha em qualquer circunstância a remissão das faltas. Isto porque a caminhada da justiça é a marcha da cura espiritual que redime os desvios devidos à fraqueza humana e as redime. Disto resulta a glorificação a Deus, como aconteceu com o paralitico que foi curado por Jesus, com o cego que principiou a ver ou o surdo que passou a ouvir. Estas moléstias corporais eram bem o símbolo das enfermidades morais que impedem caminhar para a Casa do Pai. Nada se compara com o cântico jubiloso de um coração curado e novamente na rota da luminosa justiça divina. Repete ao Criador o que está no salmo 118: “Abro a boca e aspiro largamente, pois estou ávido de vossos preceitos. [… ] Conforme  a vossa lei, firmai meus passos, para que não domine em mim a iniquidade”. Aí está o motivo pelo qual se deve passar sempre deste mundo visível para o invisível que é onde se encontra o Absoluto, o Ser Infinito. Cumpre, portanto, dissipar sonhos irreais, fantasmas fundados no medo, valorizando o existir aqui e agora numa imersão sincera no amor daquele que é o oceano imenso de toda felicidade. Desta maneira, a própria morte ganha um significado especial. Após a entrada no Reino não mais se desejará coisa alguma e cada um será saciado em plenitude e não terá mais sede alguma, pois estará imerso na visão beatífica de Deus.  Dar-se-á o que está no Livro do Apocalipse: “ E ouvi uma forte voz que procedia do trono e declarava: “Eis que o Tabernáculo de Deus agora está entre os homens, com os quais Ele habitará” Eles serão o seu povo e o próprio Deus viverá com eles, e será o seu Deus.  Ele lhes enxugará dos olhos toda a lágrima; não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porquanto a antiga ordem está encerrada!”

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