Bem-Aventurados os aflitos, porque serão consolados

    Por entre as vicissitudes da vida há momentos de indizíveis tristezas. As mesmas lutas que recomeçam cada dia. A maldade que campeia pelo mundo. A morte, as catástrofes e tantas pessoas amadas que se vão, tudo isto causa pesar. Adite-se a exclusão, a solidão e quando nada externo já não perturba, no mais profundo do ser humano, que turbilhões, que fontes de aflição! É possível, porém, crescer espiritualmente nestes instantes de amargura. Fulgurante a promessa de Cristo de que há a possibilidade da consolação, o que é um arrimo a mais para o cristão. Aquele que conforta é o Divino Espírito Santo. As palavras de Jesus foram claras: “É preciso que eu parta para que venha o Consolador”. É necessario, contudo, que haja uma aflição consciente para que se possa transformar a provação numa oportunidade de crescimento na santidade pessoal. Desenvolvimento é então um processo feito de perdas dolorosas, mas que ensejam atitudes positivas.   As lágrimas de si não têm valor algum, não passam de amarga água, se um afeto que as chora não as valoriza. É necessário que Deus esteja sempre em nosso pensamento para que as lágrimas que sulcam as faces, façam brotar dos espinhos da vida uma rosa celestial. Passa-se deste modo de uma situação conhecida como dolorosa, para outra desconhecida, mas firmada na fé pela presença do Paráclito. Ele oferece a inteligência que faz ultrapassar a angústia, fazendo entrar numa realidade que se dará na eternidade. É o ir além da amargura para o bálsamo do Reino de Deus. É plantar no tempo, para colher na Casa do Pai. Não ocorre uma atitude estoica perante a aflição, mas uma supervalorização através do oferecimento da mesma em reparação das faltas cometidas ou aplicando-a para o bem do próximo e da Igreja. Isto ainda que no meio de solicitações, muitas vezes até ilusórias, vindas do mundo exterior, dos sofrimentos corporais, das emoções do coração, dos pensamentos desordenados que criam miragens. É que, como asseverou São Paulo, “a esperança não decepciona”. É aí que entra a ação do Consolador, firmando esta virtude teologal. Com efeito, a existência do cristão não pode ser vista como peças isoladas, destacadas, mas precisa ser contemplada no seu conjunto. O mesmo Apóstolo asseverou: “O justo vive da fé”. Portanto, ele não desespera nunca dado que os percalços estão inseridos num plano superior além-morte. O discípulo de Cristo não se desliga das realidades perenes, escravizando-se àquilo que é passageiro, ainda que possa perdurar certo tempo um estado de agonia. O Paráclito, o Mestre interior que Jesus enviou de junto do Pai desperta no íntimo de quem vive a Ele unido a convicção de que tudo é providencial na sua vida até mesmo as aflições. A consolação que advém do Alto faz deixar de lado a reação meramente humana para fazer entrar desde já no Reino da conversão sempre renovada. Como se trata de uma conversão constante é natural que os desgostos se sucedam. Com citado Apóstolo Paulo o cristão repete: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. É desta maneira que nunca se perde vista o verdadeiro sentido de uma existência dentro dos parâmetros do Evangelho que esclarecem sempre os desígnios de Deus. A crença na vida eterna não é nunca alienante, porque o cristão sabe que ele pertence ao Infinito e que na outra margem da existência terrena Alguém está a sua espera. Deste modo, o Reino de Deus passa a envolver todos os pensamentos, todas as emoções lançando o cristão numa luminosidade que consola, redime e salva. O Paráclito transforma, fazendo do homem terreno um ser totalmente voltado para o Reino Eterno, dando-lhe desta maneira suporte para bem se comportar diante das angústias nesse vale de lágrimas. Afasta o medo, a dubiedade, clareando o futuro.  O cristão compreende então que entre o que é do mundo e o que é de Deus, entre a inteligência e a perfeição há um meio de aperfeiçoamento interior graças à presença do Advogado que Jesus do céu enviou aos que O amam e fielmente O seguem. Dá-se então a aliança perfeita entre o visível e o invisível, mesmo porque Jesus é o Pontífice que estabeleceu esta ponte que faz com que o seu discípulo possa atravessar o mar das tribulações, rumando triunfante para junto dele apesar das mais variadas aflições.

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