Beato Padre Vitor

    Francisco de Paula Victor nasceu na cidade da Campanha (MG), no dia 12 de abril de 1827, e foi batizado em 20 de abril do mesmo ano pelo padre Antônio Manoel Teixeira. Era filho da escrava Lourença Maria de Jesus. O Santo bispo Dom Antônio Ferreira Viçoso, bispo de Mariana (MG), na época em que o estado de Minas todos era servido pela Igreja Mãe de Mariana, visitou a cidade da Campanha em 1848. Victor, então alfaiate, procurou Dom Viçoso e disse que tinha o desejo de ser padre. Com isso, ele entrou para o seminário de Mariana, onde foi aceito em 05 de junho de 1849.   
    Mudou-se para Três Pontas em 14 de junho de 1852, como vigário encomendado e paroquiou na cidade por 53 anos. Era conhecido por sempre visitar doentes, amparar os inválidos e atender a população em suas necessidades. Além disso, fundou a escola “Sagrada Família”.
    Victor faleceu no dia 23 de setembro de 1905. A notícia abalou a cidade e toda a região, que já o venerava. Após sua morte, ele ficou insepulto por três dias e o corpo do padre exalava perfume, segundo relatam. Ele foi enterrado na Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Ajuda, que também foi construída por Padre Victor. Desde então, muitas pessoas declaram que o religioso intercedeu para que alcançassem seus pedidos e graças.
    O memorial do Padre Victor, em Três Pontas, chega a receber até 10 mil visitas durante os dias de novena do religioso, comemorado, anualmente, em 23 de setembro. No local, é possível encontrar vestes litúrgicas usadas pelo padre, objetos de devoção ou utilizados no oficio de sacerdócio pelo religioso, além de uma imagem de Padre Victor.
    A Santa Sé Apostólica marcou a data da festa de beatificação de Padre Victor, em Três Pontas (MG). Segundo o nosso amado irmão, o venerável Bispo da diocese da Campanha (MG), Dom Diamantino Prata de Carvalho, OFM, a beatificação acontecerá no dia 14 de novembro, às 16hs, no Campo de Aviação da cidade de Três Pontas.
    A Santa Sé Apostólica reconheceu em julho deste ano um milagre atribuído à intercessão do Venerável sacerdote diocesano. O pedido foi feito pela professora Maria Isabel de Figueiredo, que não podia engravidar. Foram dois anos de tratamentos e muitas desilusões, até que ela pediu ajuda a Padre Victor durante uma novena em 2009. Um ano depois, a professora conseguiu engravidar de uma menina, contrariando todas as previsões médicas. Nhá Chica e Padre Victor representam, sem sombra de dúvida, um tributo a todos os afrodescentes que vivendo as dificuldades próprias do tempo da escravidão demostraram com a força invencível da fé que Deus quebra todos os grilhões. Nhá Chica a leiga forte que evangelizou. Padre Victor, o negro sacerdote, que edificou quebrando o preconceito pela sua cor e pela sua condição. Deus destrona os grandes e eleva os humildes. Agora a centenária e amada Diocese da Campanha doa a Igreja no Brasil dois santos que falam a linguagem do povo. Para o clero, Padre Victor, é a luz maravilhosa que nos chama a humildade, ao desprendimento e ao gastar a sua vida por todos os homens e mulheres de boa vontade. Pobre no meio dos pobres sempre em favor das periferias existenciais. Padre Victor fundou escolas, edificou hospitais e santificou pela coerência de vida. Não tinha vergonha de sua cor e edificou porque fez de sua pobreza material a riqueza do seu caráter e da sua santidade. Padre Victor entendeu a mentalidade agrícola e rural de seu tempo. Valorizou os trabalhadores rurais e os proprietários, pregando a harmonia e a justiça social.
    Com a celebração, Padre Victor será o segundo beato do Sul de Minas. Em maio de 2013, Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, foi beatificada em Baependi (MG), onde passou a vida. Que o exemplo de vida destes dois santos campanhenses nos ajudem a viver a santidade!

    Raymundo Damasceno, Cardeal Assis
    Arcebispo Metropolitano de Aparecida, SP.

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