No dia de sua Ascensão, os evangelistas narram a última aparição de Jesus ressuscitado a seus discípulos , quando foi assumido ao céu, tendo antes os enviado em missão (Mt 28, 16-20; Mc 16,15-19); Lc 24,50-52; Atos, 1, 1-11). Durante quarenta dias Ele se manifestara a eles para lhes conceder sua paz e firmar sua fé. Agora os envia como missionários:”Ide e ensinai todas as gentes”., isto é, por toda parte proclamai a Boa Nova. Garantiu que todo o que fosse batizado seria salvo, mas quem não cresse seria condenado. Não se pode ser testemunha da ressurreição do Mestre divino sem ser enviado. Um verdadeiro encontro com o Redentor torna seu seguidor um propugnador do Evangelho. Ele muda a vida de quem dele sinceramente se aproxima. Transmite alegria e fé que devem ser partilhadas por outros. Eis aí uma admirável responsabilidade. Após a Ascensão é o tempo da Igreja que começa. Jesus se mostrará ausente e presente. Ausente porque seus seguidores não mais o veriam face a face, nem o escutariam com sons captados pelos ouvidos. Presente, contudo, quer na Eucaristia, quer no interior do coração dos que têm fé, numa intimidade profunda. A esta presença inefável Ele quer que sejam levados todos com quem o autêntico cristão se encontra. Estes então compreenderão a beleza de suas mensagens, a luminosidade de sua doutrina. O mal é então banido da existência, pois quem visse a sombra de sua cruz na sua vida não sofreria mais, transfigurando as lutas e sofrimentos em méritos para a eternidade. Aí ele está à espera de quantos nele depositam sua confiança. Nem o mal, nem a morte, teriam mais sua última vitória. A invocação de seu nome seria sempre fonte de salvação. Onde a Palavra de Deus fosse anunciada lá o Ser Supremo estaria agindo com poder extraordinário. Que alento então para os sucessores dos apóstolos, para os sacerdotes, para os catequistas e todos que se engajassem nas diversas pastorais que se multiplicariam mundo todo. Ainda que, aqui e ali, através dos séculos, houvesse apostasia, abandono da prática religiosa, escândalos, sua Igreja veria no suceder dos tempos, após as tempestades, a bonança e o reflorescimento da fé, sendo a perenidade desta Instituição sustentado por seu Fundador que asseverou: “As portas do inferno não prevalecerão sobre ela” (Mt 16,18). É preciso trabalhar na messe do Senhor, lançar a semente de tudo que é sinal de esperança e de vida e nunca desanimar na missão confiada por Jesus. Através do testemunho das ações de seus fiéis, de seu apostolado intenso, Cristo estaria visível às almas de boa vontade e inúmeros seriam aqueles que coneceriam sua ternura. Os cristãos fariam brilhar onde estivessem a luz que vem de seu Coração misericordioso. Mais do que nunca Ele diz a cada um: “Eu conto contigo para trabalhar pela salvação de teus irmãos”. Deste modo, a vida de uma multidão seria uma ascensão contínua para o Pai. Isto mesmo num contexto como o atual, secularizado, consumista, que endeusa os prazeres, infeccionado por mensagens deletérias lançadas pelos meios de comunicação social. A ascensão convida, então, a voltar os olhares para o céu. Com efeito, mais do que um acontecimento este fato é um mistério, complemento natural da Páscoa do Senhor pela sua exaltação à direita do Pai, mistério do Verbo que se fez carne e reafirma antecipadamente a glorificação da humanidade no corpo glorioso de Cristo. O texto dos Atos dos Apóstolos mostra que os discípulos viram Jesus se elevar e desaparecer numa nuvem. A nuvem na linguagem bíblica designa simultaneamente invisibilidade e presença de Deus como aconteceu com os hebreus no deserto. Cristo desapareceu numa nuvem, ou seja, o Ressuscitado está vivo e partilha com Deus, seu Pai, e o Espírito Santo de uma intimidade essencial e total. O Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa emérito Bento XVI, escreveu que o céu não é um lugar que teria sido fechado antes da ascensão de Cristo por um decreto positivo de Deus, para ser depois aberto por um decreto igualmente positivo. O que se chama céu, explica o notável teólogo, é o encontro efetivo e íntimo de Deus e do homem. É a união do ser humano com o ser divino. Isto se realiza no corpo de Cristo no dia de sua ascensão. O céu é o destino de seu seguidor, quando a visão beatífica significará a união perene com Deus. Até lá a grande esperança de estar com o Criador por toda a eternidade exige um contínuo trabalho missionário neste mundo para que a porta do céu esteja aberta para todos. Esperança e missão, eis aí a síntese desta solenidade.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.