AS RELIGIÕES NO MUNDO

                Ecumenismo é o tema. “As várias religiões oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade” (271). Papa Francisco faz do VIII capítulo de sua desafiadora encíclica Fratelli Tutti mais que um capítulo à parte, mas uma sábia e oportuna conclusão: “Buscar a Deus com coração sincero, desde que não o ofusquemos com os nossos interesses ideológicos ou instrumentais, ajuda a reconhecer-nos como companheiros de estrada, verdadeiramente irmãos” (274). Não poderia ser diferente. O apelo à unidade é o grito de socorro que um mundo doente mais necessita para enfrentar esperançoso os difíceis dias de sua história atual.

                As religiões, queiram ou não, possuem o mais fundamental dos papeis no processo da redenção humana, tanto física quanto espiritualmente falando. “Temos de reconhecer que, ‘entre as causas mais importantes da crise do mundo moderno, se contam uma consciência humana anestesiada e o afastamento dos valores religiosos” (275). Esse é o diagnóstico triste e fatal que o magistério da Igreja aponta como causa e consequência dos males que nos afligem. A Igreja não foge de sua responsabilidade, mas também tem consciência de sua ação transformadora como casa geradora da fé e da esperança. “Uma casa com as portas abertas… A Igreja é uma casa com as portas abertas, porque é mãe”. E acrescenta: “Queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, que sai de suas sacristias, para acompanhar a vida e sustentar a esperança, ser sinal de unidade… para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação” (276). Essa é a verdade, razão e ser da Igreja cristã.

                “A Igreja valoriza a ação de Deus nas outras religiões e ‘nada rejeita do que, nessas religiões, existe de verdadeiro e santo… Outros bebem doutras fontes. Para nós, este manancial de dignidade humana e fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo” (277). Nem por isso vamos fechar nossas portas para a realidade da fé presente noutras religiões, as muitas “moradas” de que Jesus nos fala em seu ecumenismo prático e exemplar. Diálogo e respeito. “Como cristãos, pedimos que, nos países onde somos minoria, nos seja garantida a liberdade, tal como nós a favorecemos para aqueles que não são cristãos onde eles são minoria” (279). Essa é a chave da não violência, do respeito mútuo, da fraternidade entre os povos. “A verdade é que a violência não encontra fundamento algum nas convicções religiosas fundamentais, mas nas suas deformações” (282).

                Princípio básico para se compreender o papel das religiões no mundo é a origem e significado do próprio termo: religar… ligar o homem a Deus. “Com efeito, o Todo-Poderoso, não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas” (285). Com efeito, o Papa resgata essa verdade “em nome de Deus e de tudo isso”, para nos lembrar que o caminho de um mundo novo passa pelo diálogo e troca de conhecimento mútuo entre as religiões.

                Conclui e assina esse documento com um gesto simbólico e expressivo, “junto do túmulo de São Francisco, na véspera da Memória litúrgica do referido Santo, 3 de outubro do ano 2020”, o mais desafiador ano da nossa história recente. Antes, faz referência à razão dessa encíclica: “Neste espaço de reflexão sobre a fraternidade universal, senti-me motivado especialmente por São Francisco de Assis e também por outros irmãos que não são católicos: Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Mohandas Gandhi e muitos outros” (286). Dentre eles o Beato Carlos de Foucauld, símbolo maior da ação ecumênica bem sucedida em tempos recentes. “Que todos sejam um”!

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