As Desgraças Projetadas

    “A população mundial quer respostas de seus líderes. Ela espera soluções, não medidas ineficazes ou desculpas.” (BAN KI-MOON, SECRETÁRIO GERAL DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2011).

    Um relatório de 2009 do departamento de Habitação e Urbanismo dos EUA disse: “Cada vez mais pessoas são… vulneráveis aos efeitos de uma infraestrutura sobrecarregada, um sistema habitacional inadequado e um sistema de saúde antiquado. A [agência da Organização das Nações Unidas] ONU-Habitat calcula que, dentro de três décadas, uma em cada três pessoas estará numa situação de quase total desespero – sem saneamento e água potável e exposta aos efeitos iminentes de mudanças climáticas, contribuindo para a disseminação de doenças e possíveis pandemias”.

    AS DOENÇAS COMO LUCRO

    1.    Segundo um relatório sobre saneamento e higiene feito pelo Banco Mundial, “6 mil crianças morrem por dia de doenças relacionadas a saneamento inadequado, higiene precária e água contaminada. A diarréia sozinha mata uma criança a cada 20 segundos”.

    2.    Uma pesquisa importante feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2008 disse que a administração de sistemas de saúde em “países ricos e pobres” está “perigosamente desequilibrada” e “não está conseguindo corresponder às crescentes expectativas sociais por uma assistência médica justa, acessível, eficiente e que atenda às necessidades das pessoas”.
    Dois anos depois, a OMS constatou que “governos no mundo todo estão tendo dificuldade de financiar o sistema de saúde. Os custos com assistência médica disparam à medida que as populações envelhecem, mais pessoas sofrem de doenças crônicas e tratamentos novos e mais caros aparecem”.

    3.    Remédios que antes eram eficazes talvez não estejam mais surtindo efeito, o que representa um grande perigo para os sistemas de saúde. Infecções que matavam milhões de pessoas anos atrás, como a lepra e a tuberculose, foram controladas por antibióticos, que começaram a ser usados na década de 40. Mas agora, segundo o relatório Dia Mundial da Saúde de 2011, da OMS, “o surgimento e a disseminação de patogénos resistentes a medicamentos têm aumentado. Cada vez mais remédios estão falhando. O arsenal terapêutico está diminuindo”.

    4.    Uma pesquisa revelou as cicatrizes deixadas por hostilidades religiosas na Irlanda do Norte. O conflito, conhecido localmente como “The Troubles” (“As Dificuldades”), durou quase três décadas e expôs dois terços da população e experiências traumáticas. O Centro Bamford para a Saúde Mental e Bem-Estar, da Universidade de Ulster, constatou que quase 1 em cada 10 norte-irlandeses, em algum ponto de sua vida, sofreu transtorno de estresse pós-traumático – “uma das maiores taxas” do mundo, disse o jornal The Irish Times. Ele acrescentou: “Proporcionalmente, esse conflito estava entre os piores do mundo, sendo responsável pela morte de 1 pessoa em 500.”

    VIOLÊNCIA E FOME

    1.    Um relatório feito por uma importante organização dos EUA sobre direitos civis disse: “A violência direcionada contra pessoas, locais de adoração e instituições comunitárias por causa de preconceito baseado em raça, religião, orientação sexual ou nacionalidade ainda é inaceitavelmente alta e continua a ser um problema sério nos Estados Unidos”.
    2.    “Milhões de mulheres em todo o mundo continuam sofrendo injustiças, violência e desigualdade em seus lares, locais de trabalho e vida pública”, disse um comunicado da Organização das Nações Unidas baseado no relatório Progresso das Mulheres no Mundo: Em Busca da Justiça. Por exemplo, 85% das mulheres no Afeganistão não recebem cuidados médicos na hora do parto. No Iêmen, não existem leis contra a violência doméstica. Na República Democrática do Congo, mais de mil mulheres em média são estupradas por dia.
    3.    Em outubro de 2011, Ban Ki-moon, secretário geral da ONU, disse: “Nosso mundo está marcado por terríveis contradições. Há muita comida, mas 1 bilhão de pessoas passam fome. Enquanto poucas levam uma vida de luxo, muitas vivem na pobreza. Presenciamos enormes avanços na medicina, mas mães falecem diariamente no parto … Bilhões são gastos em armas para matar pessoas em vez de protegê-las.”

    O grande líder indiano Mahatma Gandhi expressou sua posição conscienciosa desta forma: “A pessoa que apóia um Estado organizado militarmente – de forma direta ou indireta – participa em seu pecado. Todo homem, velho ou jovem, participa no pecado, contribuindo para a manutenção do Estado por pagar impostos”.
    De forma semelhante, Henry David Thoreau, filósofo americano do século XIX, se baseou em questões morais para defender sua recusa de pagar impostos usados para apoiar a guerra. Ele perguntou: “Deve o cidadão desistir da sua consciência, mesmo por um único instante ou em última instância, e se dobrar ao legislador? Por que então estará cada homem dotado de uma consciência?”.

    VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA

    BRASÍLIA. O governo concluiu seu primeiro Relatório Sobre Violência Homofóbica no Brasil, um raio X das violações ocorridas em 2011. O estudo demonstra que as agressões contra essa população são cotidianas, que há um número maior de agressores do que de vítimas, e que os homossexuais foram alvos de mais de um ataque, em uma média de 3,9 agressões sofridas por pessoa.
    Em 2011, ocorreram 18,65 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia. Quanto aos meses de ocorrências, dezembro aparece em primeiro lugar, com 19,4% das violações, seguido por outubro (14,8%) e novembro (13,6%).
    De janeiro a dezembro do ano passado, foram registradas 6.809 denúncias envolvendo o grupo LGBT: 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. Entre as vítimas, 67,5% eram do sexo masculino e 26,4%, do feminino.
    O documento tem como base os registros em serviços de atendimento do governo, como a Central de Atendimento à Mulher, da Ouvidoria do SUS, e denúncias aos órgãos da Secretaria de Direitos Humanos, vinculada à Presidência da República.
    A maioria das vítimas, 85,5%, apresentou-se como homossexual; 9,5%, como bissexuais, e 1,6%, heterossexuais. Em relação à raça e cor autodeclarada, 51,5% das vítimas são negros (pretos e pardos) e 44,5%, brancos.
    “Os dados denunciam que a sociedade brasileira ainda é extremamente sexista, machista e misógina. Os números que apresentam a maioria dos agressores como do sexo masculino atestam o quanto a masculinidade construída socialmente sente-se ameaçada por outras vivências da sexualidade”, diz o documento.

    A PRAGA DAS DROGAS

    O crescente mercado consumidor de crack no país e o fortalecimento da repressão elevaram em 52,6% as apreensões de cocaína e seus derivados nos últimos cinco anos, em comparação com o volume apreendido entre 2003 e 2007. O levantamento, produzido pela Polícia Federal a pedido da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), ainda mostra queda nas apreensões de maconha no mesmo período, que passaram de 821 toneladas para 672,6 toneladas.
    Ao todo foram apreendidas 103 toneladas de cocaína (droga pura, pasta base e crack) entre 2008 e 2012. Nos cinco anos anteriores, o número foi de 68 toneladas.
    – O aumento se deve tanto pelo incremento das ações de inteligência no combate pela Polícia Federal, quanto pelo aumento da oferta de drogas no mercado brasileiro, ocasionada inclusive pelo crescimento econômico do país – explicou o delegado Cassius Valentin Baldelli, chefe da Divisão de Repressão a Entorpecentes da PF.
    Estado mais populoso do Brasil, São Paulo lidera a quantidade de cocaína apreendida: foram 21,7 toneladas (O Globo; 21/07/2012, p. 12).

    A DROGA DO CIGARRO

    Relacionado a cerca de 50 doenças, o tabagismo mata 5,1 milhões de pessoas por ano no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, são 200 mil mortes. Apesar de órgão ainda indicar que o país tem 25 milhões de fumantes, a sua prevalência diminuiu. Enquanto em 1989 havia 34% de dependentes do tabaco na população brasileira, em 2008 o índice foi reduzido para 17%.
    MALEFÍCIOS: Morre em média uma pessoa por minuto no Brasil devido a doenças causadas pelo tabagismo, segundo o Ministério da Saúde. São, ao todo, cerca de 200 mil pessoas por ano. Apenas em 2012, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 37% dos casos de câncer do país estarão relacionados ao cigarro. O Inca mostra ainda que o vício é responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença coronariana, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por doença cerebrovascular. No mundo, o tabagismo é a principal causa de morte evitável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outras doenças comuns causadas pelo cigarro são aneurisma arterial, trombose vascular, úlcera do aparelho digestivo, infecções respiratórias e impotência sexual no homem.

    SUBSTÂNCIAS TÓXICAS: A cada tragada, a fumaça do cigarro é inalada para os pulmões, levando cerca de 4.700 substâncias tóxicas ao organismo, frisa o Inca. A principal delas é a nicotina, considerada pela OMS uma droga psicoativa que causa dependência. A nicotina chega em 9 segundos ao cérebro e age no sistema nervoso central, liberando dopamina, substância que dá a sensação de prazer. O efeito dura de 30 minutos a duas horas, por isso o fumante recorre a vários cigarros durante o dia.
    ECONOMIA: O Brasil gastou em 2011 cerca de R$   21 bilhões no tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, valor equivalente a 30% do orçamento do Ministério da Saúde nesse período. O dado é da Aliança de Controle do Tabagismo (ACT). Além disso, o tabagismo gera uma perda mundial de US$   200 bilhões por ano, sendo que a metade nos países em desenvolvimento. Este valor, calculado pelo Banco Mundial, é o resultado da soma de fatores, como o tratamento das doenças relacionadas ao tabaco, mortes de cidadãos em idade produtiva, maior índice de aposentadorias precoces, aumento no índice de faltas ao trabalho e menor produtividade (O Globo; 22/07/2012, p. 48).

    CRISE ECONÔMICA

    1.    O Instituto Worldwatch diz que “há mais trabalhadores que podem contribuir para a expansão econômica, mas o número de desempregados disponíveis talvez não seja suficiente. Em vista da atual crise econômica, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que o número de desempregados pode ter chegado a 205 milhões em 2010”.
    2.    “A economia global está prestes a enfrentar uma nova e mais profunda recessão de empregos, o que pode causar turbulências sociais, segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, comenta uma notícia da BBC. “A recente desaceleração no crescimento sugeriu que seria criada apenas metade dos empregos necessários… [A OIT] também avaliou o grau de descontentamento causado pela falta de trabalho e a percepção de que os sacrifícios exigidos pela crise não estão sendo igualmente compartilhados. O documento afirma que vários países enfrentam a possibilidade de turbulências sociais, especialmente na União Européia… e em nações árabes.”
    3.    Nos Estados Unidos, “as dívidas de cartão de crédito hoje ultrapassam em média 11 mil dólares por pessoa, o triplo da cifra de 1990”, diz o livro The Narcissism Epidemic (A Epidemia do Narcisismo), publicado em 2009. Os autores afirmam que muitas ficam endividadas só para passar a imagem de que são ricas. “Os americanos vêem pessoas com carros e roupas chiques e concluem que devem ser ricas. Na realidade, costuma ser mais seguro concluir que são endividadas”.

    CRISE ECOLÓGICA

    Segundo alguns especialistas, a cada ano são jogados nos oceanos 6,5 milhões de toneladas de lixo. Calcule-se que 50% desse lixo sejam plásticos que flutuará por centenas de anos até se decompor. Além de poluir a Terra, os seres humanos estão acabando com seus recursos naturais num ritmo alarmante. Certos estudos mostram que a Terra precisa de um ano e cinco meses para repor o que os humanos consomem em um ano. “Se a população e o consumo continuarem a aumentar nesse ritmo, em 2035 precisaremos do equivalente a duas Terras”, declara o jornal australiano Sydney Morning Herald.

    CONCLUSÃO

    “Suas promessas eram extraordinárias, como ele mesmo era então; mas quanto a cumpri-las, ele fazia o mesmo que faz agora: nada.” – Rei Henrique VIII, de William Shakespeare.
    As promessas magníficas a que Shakespeare se referiu foram feitas pelo cardeal inglês Thomas Wolsey, que detinha muito poder político na Inglaterra do século XVI. Alguns diriam que a descrição de Shakespeare também se aplica à maioria das promessas que se fazem hoje. As pessoas ouvem promessas e mais promessas, mas vêem muito pouca coisa ser feita. Por isso, não é difícil entender por que elas se tornam cépticas a todas as promessas.
    Cada faceta da vida é cheia de promessas não cumpridas. As pessoas se sentem trapaceadas pelas “inúmeras propagandas falsas e enganosas” com as quais são bombardeadas hoje. Ficam decepcionadas com o não cumprimento das “promessas feitas por políticos em campanha”. (The New Encyclopoedia Britannica, vol. 15, p. 37).
    A historiadora e pesquisadora canadense Margaret Macmillan em seu livro “Usos e Abusos da História” escreve: “A história está repleta de episódios distorcidos ou manipulados por grandes líderes políticos”.
    A indústria mais lucrativa em nosso planeta é a da cultura de morte, ou seja, as desgraças projetadas e executadas pelos donos do poder, a elite dominante mundial.
    Contra tudo isso, requer muito conhecimento, visão profética de denúncia e a revelação da verdade que liberta a pessoa dessa escravidão mortífera. Afirma o Papa Bento XVI: “O mandato da Igreja é pregar a verdade e a justiça também contra os poderosos” (L’osservatore Romano, 21/07/2012, p. 12).
    Todos nós somos imbuídos de gritar por justiça, paz e prosperidade para todas as pessoas do mundo inteiro!