Anúncio da Eucaristia

    Há detalhes no episódio da multiplicação dos pães muito significativos que merecem atenção especial (Mt 13,21). . Jesus que havia se retirado numa barca “para um lugar deserto e apartado”, ao desembarcar viu uma multidão que havia ido a seu encontro a pé. Seu coração misericordioso o levou a ter compaixão dos que ali estavam e Ele curava os enfermos. Seu coração de pastor o levará, inclusive, a alimentar aquelas numerosas pessoas que vieram procurá-lo. Os discípulos não tinham pouco alimento, cinco pães e dois peixes. É de se notar então que Cristo vai multiplicar uma comida que vem dos homens, salientando assim  um gesto de partilha, de generosidade. Deus quer sempre a cooperação humana pra que Ele faça maravilhas. Ninguém está dispensado de oferecer o que tem, por pouco que seja, para auxiliar os outros em suas necessidades. O Todo-poderoso encarrega-se de multiplicar a caridade do coração de cada um, coração, por vezes, tão fraco e tão pobre, mas que leva a abrir as mãos para doar. De fato, todo ato de amor concreto sempre se multiplica. Naquele lugar deserto e ao entardecer, diz o Evangelista que Jesus “ergueu os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu aos discípulos e os discípulos às turbas”. Estes gestos de Cristo de elevar os olhos, bendizer a Deus, ou seja, de dar graças ao Pai e, depois, partindo os pães, eram os gestos clássicos do chefe de família no início da refeição.  Jesus os repetirá na última Ceia ao instituir a Eucaristia (1 Cor 11,23). Há, portanto, um sinal eucarístico evidente no milagre da multiplicação dos pães. Os gestos de Jesus seriam inclusive introduzidos na Oração Eucarística das Missas. Outro detalhe importante é que Jesus não distribui ele mesmo o pão. Ele o entrega aos discípulos para que eles o repartam. Aí, sem dúvida, um anúncio do ministério sacerdotal, do ministério do serviço diaconal e dos ministros extraordinários da Eucaristia. Ele desejou que houvesse sempre intermediários visíveis, instrumentos para que o pão do céu fosse distribuído através dos tempos. Eis a razão pela qual a Igreja pede os fiéis que vão comungar não tomem eles mesmos a Hóstia consagrada, mas haja sempre um ministro para servi-los. Os ministros são os testemunhos de que este pão ultrapassa os limites de nosso mundo, de toda a criação, de qualquer capacidade humana. Trata-se do pão sagrado fonte de bênçãos e de graças. Ele vem de Deus é o Corpo de Cristo que santifica e fortalece o cristão. Jesus é o coração e a cabeça da Igreja e os cristãos não são Igreja senão por Ele. Ele vem até os que têm fé não para dominá-los, mas para libertá-los dos embustes do demônio, das ilusões terrenas. Seu poder vai além das fraquezas humanas e Ele então livra o comungante da desconfiança e abre o seu espírito para as realidades que superam o mundo visível. Como Ele é a fornalha ardente de amor faz com que cada um partilhe com os mais necessitados os bens que recebeu da onipotência divina. Faz ver ao cristão que comunga dentro que a fome começa com aquele que pretende ter alimento só para si. Deste modo, o liame entre a multiplicação dos pães e o mistério eucarístico suscita a generosidade. Havia uma desproporção enorme entre os cinco pães e a multidão que devia ser alimentada. Entre o amor de Deus e o amor humano há uma desproporção infinita, mas nutridos na Eucaristia os fiéis estendem sua caridade, sua amabilidade, seu perdão cordial, sua fidalguia. Podem multiplicar os gestos de amor ao próximo. Jesus faz então do cristão um instrumento maravilhoso para que seu preceito “amai-vos uns aos outros” se torne uma realidade na existência de todo batizado. Este, por vezes, não tem quase nada, mas com a força do pão eucarístico as maravilhas se multiplicam em seu derredor. Quando algum de seus discípulos oferece o calor da amizade, um pouco de seu tempo aos outros, ou simplesmente um sorriso, quando o outro é respeitado, não é julgado, é perdoado Jesus toma estes pequeninos gestos para com eles construir uma sociedade mais humana e justa. O mundo fica melhor, a paz passa a reinar por toda parte onde há um verdadeiro cristão. Em síntese, a multiplicação dos pães com todos estes ensinamentos inspira uma autêntica fraternidade, uma fé profunda no Sacramento da Eucaristia no qual Jesus multiplica a manifestação de seu  imenso amor. .

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.