Entrevista. A melhor forma dos cristãos se posicionarem diante dos protestos antigoverno é rejeitando o marxismo cultural.
“A melhor forma dos cristãos se posicionarem diante dos protestos anti-governo é rejeitando o marxismo cultural”, afirmou a ZENIT o nosso colaborador, o Dr. Ivanaldo Santos (ivanaldosantos@yahoo.com.br), filósofo, escritor e professor universitário. Acompanhe essa conversa abaixo sobre Antonio Gramsci e a atual crise brasileira.
ZENIT: Quem foi o filósofo Antonio Gramsci (1891-1937) e qual a importa da teoria da hegemonia política e cultural?
Ivanaldo Santos: Ele foi membro-fundador e secretário geral do Partido Comunista da Itália (PCI), foi perseguido e preso durante o regime fascista, na Itália, na década de 1930. O Brasil é um dos poucos países do mundo onde Antonio Gramsci é apresentado como um teórico da democracia. Em muitos países ele é visto como um teórico do autoritarismo, mas não do autoritarismo militar representa pelo fascismo, pelo nazismo e pelo regime socialista de Stalin na Rússia. A tese de Gramsci é que o partido, nesse caso o partido socialista-marxista, fracassará na tomada do poder se insistir apenas na via militar. Segundo ele, é necessário estabelecer a hegemonia político-cultural dentro da sociedade. Por hegemonia deve-se entender a predominância das ideias marxistas dentro da política, da cultura, das escolas e em outros espaços sociais. Essa é uma perspectiva autoritária, pois, numa sociedade livre e democrática, não deve haver uma hegemonia, mas sim uma pluralidade de grupos, de ideias e pensamentos. O conceito de hegemonia é adotado por vários grupos e partidos políticos e perigosamente vem vendo colocado em prática em muitos países.
ZENIT: Explique o conceito de infiltração cultural de Antonio Gramsci.
Ivanaldo Santos: Trata-se de um dos mais complexos e importantes conceitos do século XX. Para Gramsci a revolução socialista só terá pleno êxito se conseguir controlar o que, em sua opinião, são as principais estruturas culturais da sociedade ocidental. Entre essas estruturas cita-se: a Igreja, escola e universidade, e o sistema de produção e divulgação cultural (arte e artistas, música, cinema, livros, editoras, canais de rádio e TV, etc). Para isso acontecer é necessário lentamente “infiltrar”, colocar pessoas de confiança da ideologia marxista dentro dessas estruturas sociais para, lentamente, encherem essas estruturas com ideias, valores e com a ideologia marxista. Na prática, o conceito de infiltração cultural de Gramsci não passa de uma sofisticada lavagem cerebral. A escola e a universidade é um exemplo clássico do sucesso da estratégia de infiltração gramsciana. No Brasil, nos últimos 50 ou 60 anos constantemente esses espaços de educação foram sendo lentamente preenchidos com professores, diretores, livros, cartilhas e todo tipo de material didático ligado à ideologia marxista. Ao ponto de chegarmos, ao século XXI, com um grande número de universidades públicas sendo aparelhadas por partidos e grupos marxistas, fazendo abertamente campanhas políticas para candidatos e presidentes da república que seguem a ideologia marxista. Sem contar que em grande número de escolas no Brasil os livros, as propostas de ensino são voltadas, quase que unicamente, para a ideologia marxista.
ZENIT: Qual a relação das ideias e do conceito de marxismo cultural, oriundo de Gramsci, com o povo e a cultura popular?
Ivanaldo Santos: As ideias de Gramsci são autoritárias. Isso acontece porque, entre outras coisas, ele deseja, seguindo Karl Max, abolir os principais pilares da sociedade ocidental, incluindo a família e o cristianismo. No lugar desses pilares, o marxismo cultural propõe colocar “novos valores” ligados com o estilo de vida de algumas minorias. Entre esses “novos valores” cita-se: o aborto, a legalização das drogas ilegais, o fim da família e o indivíduo ter como único ponto de apoio o Estado. Em grande medida, o marxismo cultural representa uma ditadura de algumas minorias que desejam impor a grande sociedade, as maiorias desorganizadas, seu estilo de vida.
ZENIT: Existe alguma relação entre a onda de protestos anti-governo, que atualmente varre o Brasil, e as ideias de Gramsci?
Ivanaldo Santos: Sim, é possível se traçar um paralelo entre esses dois acontecimentos. O Brasil foi um dos países onde as ideias de Gramsci foram largamente colocadas em práticas. A infiltração cultural foi fortemente praticada dentro de escolas, universidades, no meio cultural e até mesmo dentro da Igreja. Nas últimas décadas se investiu muito na formação do “indivíduo marxista”, um tipo de indivíduo que só conhece os ideais marxistas, que anda na rua usando símbolos socialistas, que não crer na família, nos valores cristãos e em outros valores. O surpreendente é que a onda de manifestações anti-governo, manifestações não previstas pelo gramscismo, muito mais do que o Movimento das Diretas Já (1983-1984) e do Movimento Cara Pintada (1992), trouxeram a toma os valores rejeitados pelo marxismo cultural. Valores, por exemplo, da pátria, da família, do casamento, da natalidade, da fé e do cristianismo. Depois de décadas de domínio do marxismo cultural, vê-se nas ruas do Brasil multidões cantando o hino nacional, segurando a bandeira do Brasil e até mesmo o estandarte de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus. Em muitos aspectos, a atual onda de protestos antigoverno é uma reação inconsciente contra o marxismo cultural, é o Brasil profundo, o Brasil real e vertical que está se insurgindo contra a tirania de uma minoria que se autoproclama de esclarecida, é uma luta contra o novo Illuminati.
ZENIT: Como os cristãos podem se posicionar diante da atual onda de protestos antigoverno?
Ivanaldo Santos: Inicialmente, é necessário esclarecer que o Brasil é em essência uma nação cristã, trata-se da Terra da Santa Cruz. De um lado, a melhor forma dos cristãos se posicionarem diante dos protestos antigoverno é rejeitando o marxismo cultural e, por isso, fazendo um caminho de volta para o Evangelho, para a Tradição e para a Doutrina da Igreja. Do outro lado, os cristãos devem ser uma força consciente no intuito de conduzir o país a estabelecer um novo governo, um governo que não esteja comprometido em destruir a família, mas sim em conduzir o país a um caminho de inclusão social, estabilidade política e de prosperidade econômica.
Fonte: Zenit