Segundo a opção de nosso Plano de Pastoral, a nossa Arquidiocese, depois de ter celebrado o Ano da Fé em 2013 e o Ano da Caridade em 2014, agora, no ano de 2015, celebrará o Ano da Esperança. Portanto, convido, entusiasticamente, toda a nossa querida comunidade Arquidiocesana para que neste ano de 2015 possamos refletir esse tema. Isso para completar a tríade das virtudes teologais e pontuar a realidade da esperança cristã. E, sem dúvida, encontrar o nosso caminho de ser anunciadores de esperança em tempos de tantas dificuldades e cansaços das pessoas.
Na encíclica “Spe Salvi”, o Papa emérito Bento XVI fala das realidades eternas e do autêntico fundamento da esperança cristã: o encontro com o Deus vivo que vem a nós em Cristo Jesus e nos promete a vida em plenitude em seu Reino. É a segunda encíclica de seu pontificado, dedicada exatamente ao tema da esperança cristã e publicada na festa de Santo André, apóstolo (30/11/2007). Para este ano, para o nosso trabalho pastoral poderemos nos inspirar na leitura da Encíclica “Spe Salvi”.
Ele afirma o seguinte: “A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus – o Deus que nos amou, e ama ainda agora”. Nossa esperança está em Deus, nossa esperança é Deus. Aquele mesmo Deus que criou tudo e formou o homem à sua imagem e semelhança.
A fé cristã está alicerçada na experiência do conhecimento e do reconhecimento de uma realidade que a ultrapassa. Ou seja, diante das vicissitudes da nossa vida, frente às experiências diversas que possamos vivenciar, ou até mesmo diante das fraquezas, as nossas muitas fraquezas, faz-se necessário afirmar que a vida humana, as ações e as escolhas de cada dia se não estiverem iluminadas e guiadas pela luz de Deus perdem todo o seu sentido. Viver sem esperança é como caminhar numa estrada escura e sem rumo: não se vê claramente e não se sabe aonde vai chegar.
Podemos nos perguntar: O que queremos e qual é a verdadeira esperança? Bento XVI escreve que o que nós desejamos, do fundo do coração, é a vida plena, a vida feliz. A propósito, o Papa cita Agostinho, que, “na sua extensa carta sobre a oração, dirigida a Proba – uma viúva romana rica e mãe de três cônsules –, escreve: no fundo, queremos uma só coisa, ‘a vida bem-aventurada’, a vida que é simplesmente vida, pura ‘felicidade’. No fim das contas, nada mais pedimos na oração. Só para ela caminhamos; só disto se trata” (n.11).
Entretanto, não sabemos exatamente em que consiste essa vida feliz. É alta demais para nós. Sozinhos, temos a convicção de que não podemos atingi-la, embora estejamos impelidos a ela desde o profundo de nosso ser. Ela é, na verdade, conhecida e desconhecida ao mesmo tempo. Aproximamo-nos dela quando nos dirigimos para além da temporalidade. Assim, essa vida feliz, nós a chamamos de vida eterna, não no sentido de que consista numa ilimitada e enfadonha sucessão dos dias do calendário – isso não seria desejável –, mas no sentido de que nos faz mergulhar no oceano do amor infinito e viver no único instante repleto de satisfação, sem possibilidade de perda. Significa sair da temporalidade para, de algum modo, abraçar a totalidade do ser e do bem (n. 12). É essa vida que almejamos. Desejamos ser preenchidos pela plenitude do amor e da graça de modo irreversível. Na verdade, o homem, com sua razão e liberdade, permanece sempre homem, isto é, um ser capaz tanto do bem quanto do mal. O erro fundamental da modernidade foi apostar demais no homem: ou confiou no homem como agente só do bem, como o fez a fé iluminista no progresso rumo ao melhor, ou achou que, instauradas as justas estruturas sociais, o homem se tornaria, como se fosse um mero produto das relações materiais, justo também, como tentou fazer o marxismo.
Ora, o progresso é ambíguo. O filosófo Adorno constatou que, visto sob certo ângulo, é o progresso da funda à superbomba. Equivale a dizer: o progresso pode trazer coisas boas como coisas más, e, isto é certo, nunca poderá instaurar o paraíso na terra. A tarefa, pois, de ordenar o mundo para o melhor é tarefa jamais concluída, e cada geração deve retomá-la ( n. 25).
Contudo, o cristianismo moderno é convidado pelo Santo Padre Bento XVI a exercer uma crítica de si mesmo: “É preciso que, na autocrítica da idade moderna, conflua também uma autocrítica do cristianismo moderno, que deve aprender sempre de novo a compreender-se a si mesmo a partir das próprias raízes” (n. 22).
O Papa Francisco disse, em 2013, que: “A esperança é um dom, é um presente do Espírito Santo. Paulo dirá que é um dom que ‘jamais decepciona’. Por quê? Porque é um dom que o Espírito Santo nos deu. E Paulo nos diz que a esperança tem um nome: Jesus.
Que neste ano de 2015, renovemos a nossa esperança em Jesus. Ele refaz tudo e nos anima a anunciá-Lo neste mundo carente de paz e de justiça!