A morte é o limite de todas as possibilidades humanas. A morte de pessoas, por causas naturais e de muitos anos vividos, causa um tipo de reações, perguntas e de vivência do luto. A morte de pessoas inocentes, quanto mais inocentes, por exemplo, uma criança assassinada, as perguntas, a indignação, o luto e o sofrimento ganham proporções indescritíveis. Só quem vive tais situações tem condições de testemunhar, pois a angústia e o desespero envolvem totalmente os familiares. A desconfiança sobre a possibilidade dos seres humanas fazerem o bem aumenta.
Os discípulos de Jesus que presenciaram o mestre sendo preso, torturado, desfigurado, debochado e por fim ser morto de forma humilhante na cruz, causou neles um profundo impacto conforme descreve o evangelho: choro, rosto triste, medo, assustados, e por declaram “esperávamos que fosse ele que libertaria Israel”. Os discípulos tinham abraçado a causa de Jesus, estavam de acordo com os seus ensinamentos e projetavam uma mudança na sociedade. Jesus os encheu de esperança. Tinham a certeza que seguindo os passos do mestre e vivendo como ele, mudanças significativas aconteceriam. A decepção e o sentimento de fracasso diante da morte de Cristo foi imenso. Ele era inocente e só tinha feito o bem como atestam Pilatos e Herodes, mesmo assim o condenaram a morte. Tudo caiu por terra, agora não tinham mais nenhuma esperança para realizar do que tinham aprendido e projetado.
Porém, como o anjo Gabriel dissera a Maria: “para Deus nada é impossível”, Jesus tinha anunciado, diversas vezes, que seria rejeitado, maltratado, morto, mas ao terceiro dia iria ressuscitar. Isto é, o impossível vai acontecer. Para Deus a morte não é o fim das possibilidades, porém, após ela se abre uma nova realidade, a da ressurreição e da vida eterna. Quando os discípulos se reencontraram com o Jesus ressuscitado, começa um novo momento na vida deles e na história da humana. A angústia, o desespero, o pessimismo cedem lugar à esperança.
Os cristãos vivem da “esperança que não decepciona”, conforme recorda a bula do Papa Francisco proclamando o ano jubilar. “Ora, a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5,5). “Jesus morto e ressuscitado é o coração da nossa fé. São Paulo, ao enunciar esse conteúdo em poucas palavras (usa só quatro verbos), transmite-nos o “núcleo” da nossa esperança. “De fato, eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo recebi, a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas e, depois, aos Doze” (1 Cor 15,3-5). Cristo morreu, foi sepultado, ressuscitou, apareceu. Por nós, passou pelo drama da morte. O amor do Pai ressuscitou-o na força do Espírito, fazendo da sua humanidade as primícias da eternidade para a nossa salvação”.
“A esperança cristã consiste precisamente nisto: face à morte, em que tudo parece acabar, por intermédio de Cristo e da sua graça, que nos foi comunicada no Batismo, recebe-se a certeza de que “a vida não é tirada, mas transformada” (Prefácio dos Defuntos 1) para sempre. Com efeito, sepultados juntamente com Cristo no Batismo, recebemos nele, ressuscitado, o dom de uma vida nova, que derruba o muro da morte, fazendo dela uma passagem para a eternidade” (Papa Francisco, Bula a Esperança não decepciona, nº 20).
A carta aos Hebreus diz: “A esperança, com efeito, é para nós como a âncora da alma, segura e firme. Ela penetra para além da cortina do Santuário, onde Jesus entrou por nós, como precursor”. A fé na ressurreição convida os cristãos a transbordar de esperança para testemunhar, de modo credível e atraente, a fé e o amor; para anunciar que o projeto de salvação de Jesus Cristo ao mundo é atual; para proclamar que a vida eterna não é ilusão, mas “âncora da alma, segura e firme” onde entrou Jesus ressuscitado como precursor.
Feliz e Santa Páscoa a todos!
