Vivemos belos momentos ao iniciar o ano com a trezena de São Sebastião. O Rio de Janeiro acordou, após as festas de final e início de ano, com o seu padroeiro pelas ruas e celebrando a abertura do Ano da Caridade. Durante treze dias levamos, em carreata, a Imagem Peregrina e missionária do Padroeiro da Arquidiocese e da Cidade nas paróquias, nos lugares públicos, nas organizações governamentais e não-governamentais, locais de recuperação de pessoas ou de tentativa de reeducação, locais de trabalhos sociais do governo e da iniciativa privada, para relembrar que esta cidade nasceu sob o patrocínio desse corajoso homem de Deus. A peregrinação da imagem terminou no dia 20 de janeiro, com a tradicional procissão e missa celebrada na Catedral Metropolitana.
Sob o lema “São Sebastião, discípulo do amor e da caridade”, o Ano da Caridade foi anunciado e preparado durante os treze dias de peregrinação e teve sua abertura oficial nas missas do dia 20. Foi sob a proteção de São Sebastião que Estácio de Sá, há 449 anos, fundou a nossa cidade e deu a ela não só a inspiração católica de sua fundação, mas a poderosa proteção do glorioso Mártir, patrono contra a fome, contra a peste e contra a guerra.
No Evangelho de São João, capítulo 3, diz: “Alguns discípulos de João estavam discutindo com um judeu a respeito da purificação. Foram a João e disseram: ‘Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão e do qual tu deste testemunho, agora está batizando e todos vão a ele. João respondeu: ‘Ninguém pode receber alguma coisa se não lhe for dada do céu. Vós mesmos sois testemunhas daquilo que eu disse: ‘Eu não sou o Messias, mas fui enviado na frente dele’. É o noivo que recebe a noiva,
mas o amigo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria ao ouvir a voz do noivo. Esta é a minha alegria, e ela é completa. É necessário que Ele cresça e eu diminua'”. (cf. Jo 3,25-30).
Realmente, buscando a inspiração do apóstolo amado, São Sebastião foi este discípulo de Jesus que se diminuiu para que o Cristo, o Redentor do homem, fosse elevado, crescesse e florescesse em nossa amada Arquidiocese.
O que significa viver o cristianismo? Viver o cristianismo é amar a Deus. E o amar a Deus se manifesta unicamente em amar o próximo. Amar o próximo é perdoar o irmão, fazer o bem ao outro, pagar o mal com o bem, ter carinho para com todos. O amor permanecerá quando tudo passar.
O Papa Francisco, na Solenidade da Sagrada Família, exortou o mundo no Ângelus: “Jesus quis pertencer a uma família que enfrentou estas dificuldades para que ninguém se sinta excluído da proximidade amorosa de Deus. A fuga para o Egito devido às ameaças de Herodes mostra-nos que Deus está presente onde o homem está em perigo, onde o homem sofre, para onde se refugia, onde experimenta a rejeição e o abandono; mas Deus está também onde o homem sonha, espera voltar à pátria em liberdade, projeta e escolhe a vida e a dignidade para si e para os seus familiares.” Nesse sentido, São Sebastião está nos apontando para o caminho de Cristo e para a proximidade amorosa de Deus que ama, que perdoa, que acolhe, que dá uma segunda chance, que procura as periferias existenciais e ambientais para anunciar a “alegria do Evangelho”.
O Papa Francisco encerrou o ano de 2013 ensinando-nos três palavras que devem ser muito importantes na vida familiar: “com licença, obrigado e desculpa”. O próprio Vigário de Cristo disse que se as famílias vivenciassem estas três palavras, a harmonia e a reconciliação seriam a luz a iluminar a caminhada da família que pede licença, que agradece e que sabe perdoar. O perdão é fundamental para todos. Não há caminhada eclesial se não há perdão, se não há confessionário, se não há uma chance de mudança de vida.
Relembremos as palavras proféticas do Santo Padre para esse tempo que se abriu para nós após os festejos do padroeiro: “Hoje, o nosso olhar para a Sagrada Família deixa-se atrair também pela simplicidade da vida que ela conduz em Nazaré. É um exemplo que faz muito bem às nossas famílias, ajuda-as a tornarem-se cada vez mais comunidades de amor e de reconciliação, nas quais se sente a ternura, a ajuda e o perdão recíprocos. Recordemos as três palavras-chave para viver em paz e alegria em família: com licença, obrigado, desculpa. Quando numa família não somos invasores e pedimos «com licença», quando na família não somos egoístas e aprendemos a dizer «obrigado», e quando na família nos damos conta de que fizemos algo incorreto e pedimos «desculpa», nessa família existe paz e alegria. Recordemos novamente estas três palavras. Mas podemos repeti-las juntos: com licença, obrigado, desculpa. (Todos: com licença, obrigado, desculpa!). Gostaria também de encorajar as famílias para que tomem consciência da importância que têm na Igreja e na sociedade. De fato, o anúncio do Evangelho passa, sobretudo, através das famílias, para depois alcançar os diversos âmbitos da vida diária”.
Assim, vivendo esse tempo que se abriu para nós – o Ano da Caridade – e encorajados por São Sebastião, discípulo do amor e da caridade, devemos agradecer as muitas iniciativas caritativas que a Igreja, em todos os seus âmbitos, realiza em nossa amada Arquidiocese, quer nos setores de educação, de saúde, de assistência social, de acolhida dos irmãos da terceira idade, dos refugiados, dos menores, dos que padecem com os vícios da droga, bem como daqueles que vivem em situação de risco e de rua. Mais do que o trabalho caritativo, que é fundamental e é enriquecido com o nosso Banco da Providência, a Cáritas Arquidiocesana e tantas outras organizações, devemos renovar as nossas consciências para a vivência do amor fraterno.
Quantas pessoas nas comunidades e nas famílias vivem amargas, gastando o seu precioso tempo para perseguir os irmãos, para destruir reputações, para construir mentiras que se transformam em verdades, cegas pelo preconceito ou pela “mania” deliberada de destruir as pessoas que incomodam muitas vezes aqueles que não irradiam ao mundo a luz, que é Cristo Ressuscitado.
Santo Agostinho, o grande doutor da Igreja, sintetiza o que devemos viver neste Ano da Caridade: “No amor do próximo o pobre é rico; sem amor do próximo o rico é pobre.” “O amor fraterno é o que nos faz amar uns aos outros. Este amor não somente vem de Deus, mas é Deus. Portanto, quando por amor amamos o próximo, é por Deus que o amamos. É impossível que nós não amemos o próprio amor; pelo qual nós amamos os irmãos. Porque Deus é amor, necessariamente quem ama a Deus, ama seu irmão (De Trin, VIII, 12; IX, 10).” Nesse sentido, conforme nos ensina Santo Agostinho, é tolo aquele que pensa amar a Deus e não ama o seu irmão, particularmente o irmão que sofre, que é pecador, que é esquecido pela sociedade do descartável ou por aquele que não tem sensibilidade pelos que dormem nas calçadas, pelos que não têm teto, pelos que não têm o que comer, enfim, pelos que vivem oprimidos pelo sistema do lucro pelo lucro e que esquecem o ser humano como centro da sociedade.
O Papa Francisco recomenda a prática dos Mandamentos do amor a Deus e ao próximo. Muitas são as armadilhas com que os fiéis convivem dia a dia. Ele advertiu com propriedade: “O egoísmo do próprio pensamento, o pensamento onipotente… eu penso a verdade e faço a verdade com o meu pensamento”. Hoje, dois mil anos depois das críticas de São Paulo, a idolatria se manifesta em outras formas e modos, como alertou o Papa: “Ainda hoje existem muitos ídolos e muitos idólatras que se acham ‘sabidos’, inclusive entre nós, cristãos, que trocam a glória incorruptível de Deus com a imagem do próprio ‘eu’, as minhas ideias, a minha comodidade…”. “Jesus aconselha: não olhe as aparências, vá diretamente à verdade. Se é vaidoso, carreirista, ambicioso; se se vangloria de si mesmo por que se acha perfeito, pede um pouco de esmola e isto vai curar a sua hipocrisia. Esta é a estrada do Senhor: adorar a Deus, amar a Deus, sobretudo, e amar o próximo. Tão simples, mas tão difícil”, completou o Papa, que tem sido o primeiro a dar testemunho de que o amor e a caridade são luzeiros para o itinerário cristão.
Irmãos e Irmãs, vivamos o Ano da Caridade! O amor ao próximo, que deve se traduzir na caridade social (assistência, promoção e reinvindicação sociais) e defesa da vida (da concepção à morte natural, passando pelo tema da CF 2014 com relação ao trafico de pessoas).
Vivemos nestes dias a grande festa de São Sebastião! Ele não teve medo da incompreensão das autoridades romanas. Ele testemunhou Cristo com coragem. Vivamos neste mundo como irmãos! Irmãos se amam. Irmãos se acolhem mutuamente. Irmãos se perdoam. Irmãos recomeçam. Irmãos que, com entusiasmo, vivem a caridade e a acolhida. Onde há amor e caridade, Cristo aí está.