Jesus convida a todos a afastar e vencer as preocupações: “Não vos preocupeis pela vossa vida” (Mt 6,24-34). Apesar de todas as turbulências que envolvem a criatura humana neste vale de lágrimas, o Mestre divino, que é sumamente realista, aconselha a superar as naturais inquietações cotidianas. Oferece, porém, uma solução admirável: “Vosso Pai celeste sabe que precisais de todas estas coisas. Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo”. Portanto, ao recomendar que não se deve se inquietar, Jesus não faz apologia da passividade, a cruzar simplesmente os braços. O que Cristo quer ensinar é que a aflição não é uma arma adequada para fazer face às dificuldades da vida. Ela, com efeito, não permite que se contornem os problemas e lhes dê uma solução coerente. A ansiedade pode levar ao fatalismo e a inação. Ensina então o divino Redentor: “Olhai as aves do céu que não semeiam nem ceifam nem enceleiram, e, contudo, vosso Pai celeste as sustenta”. Entretanto, estas aves não estão nunca inativas, pois procuram os grãos ou os insetos da manhã ao por do sol. Fazem um trabalho necessário para o seu cotidiano, mas não estão preocupadas com o dia seguinte. Fazem o que devem fazer e quando é preciso. Aqui se aplica plenamente o provérbio: “Ajuda-te que o céu te ajudará”. Deus não passa nunca recibo à preguiça, à indolência, à falta de esforço pessoal. Não se pode colocar barreira ao dinamismo, grande aliado do Divino Espírito Santo, pois a ação tranquila, mas eficiente, provoca o desejo de agir e se opõe à fatídica resignação. Cumpre, entretanto, analisar o que pode provocar a angústia. Muitos ficam impacientes quando a situação não lhes satisfaz e lhes é desagradável. Sem invocar as luzes divinas ficam sem saber como melhorar aquela circunstância incômoda. A reação imprópria pode levar inclusive ao egoísmo. Este conduz a uma conduta irracional e até gera o desespero. Invocada a iluminação celeste, aquele que faz o que pode e como pode está conformado com a vontade de Deus e procura o Reino do Céu e sua justiça, sabedor que o futuro a Deus pertence. Assim sendo no meio das tribulações passa a reinar a calma, mesmo porque a felicidade completa que se dará na outra vida, deve ser já partilhada nesta terra sem se deixar envolver nas amarguras. As inquietações são tapumes na confiança e na esperança do auxílio do Pai que está nos céus que recompensa toda diligência humana. Tudo isto supõe uma fé arraigada. A inquietação se caracteriza por uma falta de autoestima e uma má visão do porvir. É uma negação implícita do amor de Deus, mas também não é uma justificativa de preguiça, de inatividade passiva esperando que Deus faça o que devemos realizar com coragem e determinação. Lembra claramente Jesus: “A cada dia basta a sua tarefa” e esta deve ser feita com a graça divina. A proteção celeste torna o cristão dinâmico, mas em tudo confiante face às ocorrências de cada momento. Um cristão que age tranquilamente leva fatalmente os outros a esta louvável atitude. Retira o próximo quer da passividade, quer de um terrível desespero ante as intempéries da existência. Eis porque o verdadeiro seguidor de Cristo não deixa de denunciar a repressão dos poderosos, a tirania dos que dilapidam o patrimônio público e condena o morticínio que ocorre em tantos lugares com horripilas barbaridades. É preciso que todos colaborem ativamente para estabelecer o império do Evangelho neste mundo a começar na comunidade em que cada um vive. Jesus está a clamar: ”Procurai o Rei de Deus e sua justiça”. Esta justiça conduz à valorização da vida a qual deve ter prioridade sobre outros valores que agridem o ser humano. Tudo que favorece a existência e seu desenvolvimento revela a retidão de Deus. Deste modo é que tudo mais acontecerá em abundância para a humanidade. Para concluir estas reflexões nada melhor do que as palavras de quem compreendeu profundamente os ensinamentos de Jesus aqui reocrdados que foi o Apóstolo Paulo. Este assim concitou os filipenses: ”Não vos inquieteis com coisa alguma, mas que em tudo, pela oração e pela súplica acompanhadas de ação de graças, se tornem presentes a Deus vossos pedidos” (Fil 4, 6-). Jesus quer seus discípulos tranquilos, desapegados dos bens terrenos, mas sempre dinâmicos e confiantes no Pai que está nos céus.