Acolher a misericórdia Divina

    São João com precisão admirável mostrou em que consiste a misericórdia divina: “Deus tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). São Paulo explicou a razão pela qual tão grandioso foi este amor: “Deus é rico em misericórdia”, afirmou este Apóstolo aos Efésios (Ef 2,4). Acolher a clemência do Senhor Onipotente é receber a graça da remissão dos pecados e de suas terríveis consequências. O olhar arrependido dirigido a Cristo crucificado abre as portas da comiseração de Deus. É o aproximar-se da luz, reconhecendo as próprias faltas, envolvendo-as num arrependimento sincero e retribuindo amor com amor. Isso se torna possível pela fé que mergulha o ser humano no oceano infinito da indulgência do Pai celeste. Felizes os que correspondem ao dom que o Ser Supremo lhe oferece. Discernindo entre o bem e o mal, o ser humano através da força da graça, usando sabiamente sua liberdade, pode se arrepender de suas iniquidades, confiado na paixão e morte de Jesus. Verifica-se então a passagem do erro para a verdade que se encontra no amor trinitário. O cristão passa a possuir uma visão espiritual adequada e caminha nas veredas da salvação. Encontra, deste modo, a graça da fé que cura e salva. O coração humano passa a produzir verdadeiros frutos de justiça para consigo mesmo, para com Deus e o próximo. Realiza-se a obra de renovação do homem  segundo a imagem de Jesus Cristo.  No dizer de São Paulo isto consiste no despojamento da vida anterior, do homem velho, que vai se corrompendo ao sabor das paixões enganadoras. Realiza-se também na procura da renovação do espírito, bem como no revestimento do homem novo criado à imagem de Deus na justiça e na santidade verdadeira (Ef 4,22-24). É a maravilha que ocorre com quem procura viver em estado de graça na qual se cresce pelos sacramentos e pela prática das virtudes. Vida divina que palpita no mais íntimo de cada um e que tende a manifestar-se no exterior para levar a muitos o senso da beleza da misericórdia do Deus de amor. Tudo se transforma então em manifestação deste amor, iluminando o mundo. Donde a veracidade do que disse Elisabeth Leseur: ”Uma alma que se eleva, eleva mundo inteiro”. Esta é a dinâmica da salvação oferecida em Cristo. Apesar da fraqueza humana o bem pode ser disseminado nesta terra. São Paulo pôde proclamar: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). O cristão recebe assim a luz do Senhor para fazer obras luminosas. Venturoso aquele que faz a experiência da misericórdia divina e que degusta a doçura da presença de Deus em sua vida, caminhando sempre para o fulgor da santidade. Este caminho do Senhor se torna mais visível na proporção em que há o diálogo com Ele apesar toda a fraqueza humana. Um simples olhar para a Cruz de Jesus, um ato de arrependimento, um desejo de ser bom reanima todo o ser humano e lhe oferece capacidade de amar de uma maneira nova a Deus, a si mesmo e aos outros. Trata-se, assim, de uma marcha progressiva de cada um para as realidades espirituais. Uma conversão contínua que consiste viver em função da doutrina do Mestre divino, que é caminho, verdade e vida. Cabe ao cristão assimilar esta Verdade e cooperar com sua maravilhosa ação. Disso resulta uma fulgente confiança que afasta as trevas das más ações, as quais impedem a luminosidade celestial, contradizendo a dileção de Deus. A quaresma é o tempo especialmente favorável para que cada um possa medir a intensidade de sua espiritualidade. Quando se olha para o Crucificado se percebe quão indesejável é o pecado que exigiu uma reparação infinita através dos padecimentos e morte do Filho de Deus sobre a Cruz. Essa cruz nos deve atrair porque ela é que conduz à alegria e à glória duradouras. Por tudo isto, este tempo quaresmal deve iluminar mais ainda os passos dos seguidores de Cristo para que possam, um dia, participar da Páscoa eterna.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here