A Vocação do Cristão é ser Santo

    A ordem de Cristo foi esta: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). No Antigo Testamento Deus havia declarado: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lev 11,44-45). Jesus através das bem-aventuranças traçou o caminho para se atingir a meta que se contempla na existência daqueles que já estão na beatitude do céu, todos os santos e santas. São os que colocaram seus passos nos passos do divino Redentor. Fizeram então fulgir nas suas existência raios do esplendor da santidade divina. Todos são chamados a se tornar semelhantes àqueles e àquelas que hoje são homenageados na liturgia deste domingo. Tarefa possível apesar das luzes e sombras, fidelidades e infidelidades que surgem a cada passo devido às limitações humanas. Com a graça divina tudo é possível e as criaturas racionais que Ele criou livres podem e devem aspirar a possuir a vida eterna na visão beatífica. É o que Ele oferece a todos os homens com um amor incomensurável. Há apenas algo que poderia frustrar seu plano, ou seja, a recusa infeliz, plenamente voluntária e obstinada de não querer tal ventura, se opondo aos caminhos que Ele traçou nos Mandamentos. Com o concurso da liberdade de cada um Ele quer que sejam santos os que Ele aguarda na outra margem da vida. São inumeráveis, ou seja, uma massa imensa que São João contemplou no Apocalipse, “de todas as nações, raças, povos e línguas”. De fato, as bem-aventuranças, que viveram intensa e exemplarmente os santos e santas os quais povoam o calendário litúrgico, devem ser o cerne da felicidade de todos que são fiéis ao Ser Supremo. Por vezes, a muitos já é dado degustar por instantes neste mundo um pouco da alegria sem fim do paraíso, Isto foi muito comum para os grandes místicos, mas é acessível a todo cristão que se imerge na contemplação das verdades perenes. Podem perceber como que uma antecipação do gozo eterno por entre o claro-escuro deste caminhar num exílio. São João alertou: “Já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que seremos. Sabemos que, quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele, e o veremos como ele é”  (I Jo 3,2). Entretanto, para que tal realidade possa acontecer, cumpre se tornar santo. Para isto é que é oferecida esta vida tão breve que se tem neste planeta Terra. Felizes os que deram sua infância, sua juventude, sua idade madura a Deus ou aqueles que, convertidos já na velhice, abominam erros passados e se dispõem a nunca perderem a veste nupcial da graça santificante recuperada no Sacramento da Confissão. Com efeito, pode ser que para muitos na primavera da vida as paixões, as influências deletérias da mídia, as preocupações com os estudos e trabalhos, o apego às coisas transitórias tenham sido óbice à procura da santidade, mas nunca é tarde para se endireitar os caminhos da existência pessoal. Deus oferece sempre tempo para que se possa despojar das ilusões terrenas e fazer com que tudo que não é felicidade autêntica, venturas  falsas etiquetadas pelo diabo, sejam como folhas mortas levadas pelo vento, dada uma mudança radical e sábia de atitudes. Em qualquer etapa da vida, porém, sejam problemas de saúde, sejam os contratempos os mais variados, se tornam um alerta do céu e propiciam sempre a caminhada nas vias da perfeição traçada por Cristo. Muitíssimos através das preces dos pais, parentes e amigos deixam os caminhos trevosos do erro. Foi o que se deu com Santo Agostinho que na pujança de seus 33 anos se tornou um dos grandes convertidos da História e assim se dirigiu ao Criador: “Tarde eu te amei, ó Beleza tão antiga e, entretanto tão nova, tarde eu te amei”! Trata-se de um salto para uma lucidez que só a misericórdia de Deus explica e se depara então a total realização de si mesmo. O coração fica liberto de suas estreitezas e se ajusta aos desígnios de Deus, purificando-se na penitência e no domínio de si mesmo. O importante na vida de cada um é deixar sempre brechas, uma porta aberta para a ação divina que transfigura e conduz às vias da santidade. Nelas, liberto de seus egoísmos, de seu inércia espiritual, de seus desenganos o ser humano pode atingir as paragens luminosas da plena realização cristã. Para tanto os que já estão lá numa eternidade feliz são aptos para encher os viandantes terrenos de esperanças para que não percam o caminho do céu. Em síntese. a chave da santidade é a confiança colocada em Jesus, não obstante as fraquezas humanas. É o abandono à misericórdia divina sob o influxo do Espírito Santo que com apelos inenarráveis a todos chama para viverem de tal modo que se esteja sempre apto para a entrada na Cidade dos Santos, na Jerusalém celeste, para um gáudio sem fim. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.