“A confecção dos tapetes é um verdadeiro mutirão de fé e representa um verdadeiro testemunho de comunhão e solidariedade, uma vivência do Evangelho de Jesus”, destaca o padre Nelson Antônio, da Paróquia São José, localizada no centro de Belo Horizonte (MG).
É nesse clima fraterno que os fieis se unem durante a madrugada que antecede a celebração do Mistério Eucarístico para a confeccionarem os tradicionais e famosos tapetes de Corpus Christi. Materiais como borra de café, farinha, areia, sal, serragem, e os recicláveis, como tampinhas de garrafas, bagaço de cana, casca de arroz, flores e folhas, dão forma e cores ao caminho por onde passará o Corpo de Cristo.
Na solenidade, realizada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, este ano 31 de maio, é celebrada a missa, seguida de uma grande procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.
Em Belo Horizonte, a paróquia São José, desenvolve uma oficina que ensina a manusear os materiais que serão usados na confecção dos tapetes que cobrem a Avenida Afonso Pena, colorindo o caminho da Igreja São José até a Igreja da Boa Viagem, no centro da capital mineira.
“Uma lembrança marcante que trago deste trabalho é a participação de um homem em situação de rua que se aproximou do grupo na avenida e ficou olhando de longe. Convidei-o para chegar mais perto e ele começou a ajudar-nos e foi entrosando com o grupo. Passou conosco todo o tempo do trabalho e ao final almoçou com todo o grupo também. Para mim, foi um testemunho concreto da Eucaristia”, destacou padre Nelson.
Outra curiosidade lembrada pelo padre, foi a de um motorista de ônibus urbano que parou para que os passageiros pudessem contemplar o tapete na avenida pelas janelas do veículo. “Ele ficou sorridente e parabenizou a todos que estavam envolvidos no trabalho”.
A festa de Corpus Christi é única vez em que a Eucaristia sai da igreja e passeia pelas ruas. Por isso, a importância de enfeitar as vias com os tapetes por onde a procissão vai passar. No Brasil, essa tradição acontece em inúmeras cidades e envolve toda a comunidade que a cada ano busca se superar na montagem dos tapetes.
A utilização de materiais recicláveis também tem sido bastante usada pelas comunidades. Jornais, papelão, garrafas pet, embalagens longa vida e tampinhas formaram estrelas, flores, cachos de uva e demais símbolos religiosos.
Padre Nelson explica que grande parte dos moradores da capital mineira tem raízes no interior e conhecem os tapetes de serragem. Mas, muitos apenas apreciavam, e não sabiam como fazer. “A ideia da oficina surgiu para resgatar esta tradição dos tapetes e ensinar como confeccioná-los. Ao mesmo tempo, a oficina proporciona a troca de experiências, o conhecimento de novas técnicas e serve também como espaço de discussão do sentido da Eucaristia para nosso tempo!”.
Em cada cidade brasileira, a confecção dos tapetes segue um rito, uma tradição da região e é muito comum também encontrar retratado nos desenhos o momento atual do país. De acordo com a padre, a confecção dos tapetes, além de ser um gesto de piedade popular é também uma maneira de refletir sobre as consequências da Eucaristia para a vida de cada fiel e as consequências sociais de comungar o Corpo e Sangue de Cristo.
A confecção dos tapetes é um hábito que ganhou todo o Brasil com a chegada da colônia portuguesa.
“Nesse ano, por exemplo, o tema é “Eucaristia, o pão da justiça e da paz. Queremos, desta forma, chamar a atenção dos fiéis para a importância da Eucaristia ser um alimento que leve à conversão pessoal e à transformação social, superando a injustiça e promovendo a paz!”, destaca o padre.
Fonte: CNBB