Os textos sagrados deste domingo (Gênesis 18,1-10ª; Salmo 14(15); Colossenses 1,24-28; Lucas10, 38-42) refletem sobre a virtude da hospitalidade. Abraão acolhe calorosamente três homens que passavam pela frente da sua tenda. Prostra-se diante deles e os convida para um banquete. Na verdade, estava acolhendo os anjos que lhe confirmaram a promessa de ter um filho em breve. Lucas relata que Jesus é acolhido na casa das irmãs Marta e Maria e com elas estabelece um diálogo. Nos dois relatos, quem hospedou recebeu mais do que ofereceu aos hóspedes. Receberam a visita de Deus que não se caracteriza somente pela cortesia, mas faz desabrochar a vida. Sempre é uma visita fecunda.
Jesus se apresentou na condição de “viajante”, “peregrino”. Vai encontrando as pessoas, se entretém com as massas, outras vezes dirige-se a indivíduos. Frequentemente Jesus aceita convites para fazer refeições na casa de amigos (Marta e Maria), de adversários (Simão, o fariseu), também toma a iniciativa de auto convidar-se (Zaqueu), faz refeição com publicanos e pecadores (Mateus). Em todas estas refeições desenvolvem-se diálogos muito fecundos, pois os outros comensais observam atentamente o que Jesus fazia e dizia.
Jesus está em Betânia na casa de Marta e Maria, as irmãs de Lázaro que neste episódio não é mencionado. Uma família de amigos onde repousava e que também visitou por ocasião da morte de Lázaro. Recebido por Marta, porém quem o escuta é Maria que “sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra”. Marta preocupada em oferecer o melhor fica incomodada com a atitude da irmã – talvez também quisesse estar no lugar dela – e questiona Jesus.
A resposta dada por Jesus é cheia de sabedoria: Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.
Se faz necessário esquecer a casa de Marta e Maria e nos transpor ao tempo presente. Somos nós que temos a visita em casa. A figura de Marta retrata o nosso modo de vida: corremos de um lado para outro, agenda cheia de compromissos desde os profissionais aos sociais, corremos atrás de projetos e sonhos. E, quando nos encontramos, frequentemente, o celular comanda a convivência. Certamente, se Jesus avaliasse o nosso modo de hospitalidade diria também ‘Marta, Marta. Vocês se ocupam com tantas coisas e estão se perdendo em coisas secundárias. Esquecem de quem está na sua frente, tem dificuldades de escutar e de dar atenção. Querem estar próximos de quem está distante e se distanciam de quem está próximo’.
A palavra de Cristo sobre o proceder de Marta não revela desprezo pela vida ativa, pelos muitos compromissos, por uma refeição abundante e bem preparada. É sim um alerta, uma provocação para não fazermos dos compromissos desculpas e relegar coisas de primeira importância para um segundo plano.
O conselho que Jesus dá é escolher “a coisa necessária”. O que seria isto? É o que Maria escolheu: escutar a Palavra de Jesus. Escolheu Jesus que estava na sua frente. Para o cristão a chamada exigente da escuta da palavra deve preceder, alimentar e sustentar cada escolha religiosa e humana. É uma atitude de discípulo que escuta, aprende e deste modo torna fecundos os tempos, os espaços e todos os esforços humanos.