A Virtude da Esperança

    O Ano da Esperança em nossa Arquidiocese nos faz meditar sobre essa virtude diante de um mundo realmente complexo e cheio de problemas. Este, no entanto, é o nosso tempo de testemunhar a esperança cristã.
    Ao olhar a desumana sociedade pós-moderna, mergulhada até os cabelos nos vícios mais hediondos — violências, ódios, perseguições, perversidades, total desprezo pela vida alheia, com carros portando bombas ou tanques assassinos avançando sobre pessoas desarmadas; liquidação pura e simples de seres indefesos ainda antes de nascer; intermináveis e inúteis guerras nos cinco continentes, todos eles, por sua vez, implicados no rendoso e criminoso negócio da droga; revoltantes injustiças sociais, massacres de sem terra, de sem teto e quantos outros que nada têm e são mais um dos sem dignidade, — poderia surgir o questionamento frente a um mundo tão caótico: é possível ter alguma esperança? Por que motivo o ser humano submetido ao sofrimento e à morte, e qual é a sua esperança? Aliás, o que é esperança pra nós?
    Frente a toda desesperança (cf. Rm 4,18), vem Jesus que, já nas bem-aventuranças, nos dá nova direção, pois são promessas paradoxais que sustentam a esperança nas tribulações. Não se pode dizer que não temos força para perdoar, porque Deus presente em nós nos dá seu Espírito de amor, de bondade, de benignidade para que sejamos capazes. Eis aí um gesto concreto desta virtude! Logo, esperança é uma virtude, e na Teologia dita virtude infusa por Deus, que nos auxilia a alcançar o céu. Pois se a fé nos traz conhecimento (cf. 1Tm 1,18-19) e a caridade (cf. Gl 5,6) nos traz o verdadeiro amor, a esperança é que enfrenta as dúvidas em nosso coração, que nos anima contra toda desesperança que se coloca à nossa frente, pois Deus, ao dar-nos a virtude teologal da Esperança, dá-nos também a certeza de que nunca nos deixa e nunca desiste de nós.
    Um homem ou uma sociedade que não reagem perante as tribulações ou as injustiças, e que não se esforçam por aliviá-las não são nem homem nem sociedade, à proporção do amor do coração de Cristo. Pode-se dizer que podemos “perder” o amor e a fé, mas o homem não pode perder a esperança, que alimenta o viver e o viver plenamente, mesmo “com ventos contrários”, como diziam Santa Paulina e como afirma o Apóstolo Paulo (Rm 15,13): “Que o Deus da esperança vos cumule de toda alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a vossa esperança transborde”. Ele jamais nos decepciona! “Continuemos a afirmar nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (Hb 10,23). Portanto, a virtude da Esperança é uma resposta a todo ser humano que aspira a felicidade, algo colocado por Deus em nosso coração. Por isso mesmo, o impulso da esperança preserva o egoísmo e conduz à felicidade da caridade.
    Já na nossa primeira consagração, o Batismo, temos início da esperança. Afinal, “Ninguém é santo pela própria vontade, nem ninguém pode ser santo sem que tenha vontade”. Eis o primeiro traço da Esperança na vida do cristão, esperança de compromisso e compromisso numa esperança. Que cada um de nós saiba abrir o próprio entendimento para reparar bem à nossa volta, abrir o nosso coração para compreender e nos compadecer, abrir as nossas mãos para socorrer, pois as necessidades são enormes. Eis ai a concretude da esperança que se faz na partilha fraterna.
    Por essa razão e com a autêntica esperança que nos move a busca constante e a luta do dia-a-dia, deixemos que o Espírito Santo, condição de possibilidade, nos faça ver e seguir de perto os passos de Cristo Jesus, para que, deste modo peculiar — no serviço e na entrega — possamos ir ao Pai. 
    Que nossos corações se abram para estar com o Senhor da Vida e da Esperança e continuar testemunhando que, em Cristo, somos testemunhas da esperança.