O amor ao próximo perpassa toda a Bíblia. Lemos no Antigo Testamento: “Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo. É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante […] Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações; se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.” (Is 58, 6-10). O Livro dos Provérbios alerta ”Quem oprime os pobres e os fracos insulta o criador dos homens” […] Quem dá aos pobres não viverá em necessidade, mas quem esconde seus olhos dos que precisam de ajuda sofrerá muitas maldições. (Pr 28:27.). No Novo Testamento a doutrina de Cristo é clara e límpida: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,37). Eis porque São Pedro preceituou: “Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados (1 Pd 4,8). São Paulo ensinou aos Gálatas: “Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos e deste modo cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6,2). Tudo isto se opõe ao vício capital da inveja, dado que quem ama o próximo se rejubila com os dons que ele recebeu de Deus e louva o seu Senhor pelo sucesso alheio. A inveja é uma atitude errada, que leva a comportamentos pecaminosos. Inveja é querer ter o que outra pessoa tem, ficando ressentido com seu bem. Quem tem inveja não consegue se alegrar quando outra pessoa é abençoada e chega mesmo a odiar seu irmão porque tem aquilo que cobiça. São Tiago alertou: “Onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males” (Tg 3,16). A prática da virtude da caridade para com o próximo envolve todos os seres humanos sem exceção, a saber, os que estão perto e os que se acham longe e, o que é mais difícil, as pessoas que não nos são simpáticas ou mesmo hostis. Mesmo os que nos ofendem precisam estar incluídos na noção que se chama “ágape” ou amor espiritual que não é nem “eros” nem a “filia”, amor eletivo e grande estima mútua, mas dileção total sem nenhum resquício de retaliação. Rezamos, de fato, na oração que Jesus nos ensinou: “Perdoai nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. A falta de perdão lança numa espiral de erros, numa escalada de contradições. O perdão ensinado pelo Filho de Deus é um ato de libertação interior, não é uma fraqueza. Ao contrário, é uma prova de que alguém não se deixa dominar pela maldade que seu adversário lhe proporciona e desfaz o círculo malévolo da violência, da incompreensão. O perdão é sempre um ato criador de harmonia. Ele permite recrear a relação que foi destruída. É um veemente apelo para que o mal não tenha nunca a última palavra, mas dê lugar a um ato de dileção. Muitas vezes se esquece de que é próprio do cristianismo a radicalidade do ensinamento e da atitude de Jesus. Ele, com efeito, viveu plenamente o amor ao próximo a ponto de se sacrificar por todos os homens e mulheres de todos os tempos, envolvendo toda a humanidade nesta sua ternura sem limites. Por isto o cristão deve estar predisposto a amar e perdoar como Jesus amou e perdoou. Adotar os valores que o Mestre divino preconizou muda inteiramente as relações interpessoais e isto causa um enorme impacto positivo na sociedade. Trata-se de uma terapia universal que visa dulcificar os males dos outros, diminuindo os sofrimentos alheios, levando uma ajuda oportuna lá onde reina a dor. Eis a missão do cristão verdadeiro seguidor de Cristo, o qual apaga o incêndio de todos os conflitos e leva por toda parte o bálsamo do perdão e do amor.